Mitsky no Vodafone Paredes de Coura 2019 (foto de Margarida Ribeiro)

Vodafone Paredes de Coura 2019| Mitski espantou mas Patti Smith reinou

Este ano o grande final do Paredes de Coura foi ainda ao início da noite, com Patti Smith a unir a multidão num grito de revolta. 

Chegou ao fim a 27ª edição do Vodafone Paredes de Coura. Se o ano passado o festival encerrou com uma grandiosa atuação dos Arcade Fire, este ano, as grandes atuações foram cedo e o final pedia mais. Cabeças de cartaz do último dia, os Suede deram um concerto de sonho para qualquer fã, com uma entrega em palco que surpreendeu qualquer membro da plateia. Contudo, a atuação da banda não foi capaz de unir toda a multidão, isso acontecera ainda no início da noite com Patti Smith.

COMEÇÁMOS A TARDE COM A AGRADÁVEL COMPANHIA DE ALICE PHOBE LOU

A cativante e delicada voz de Alice Phobe Lou, originária de África do Sul, já antes chegara aos nossos ouvidos, foi por isso que decidimos descobrir um pouco mais sobre esta jovem artista no palco Vodadfone.fm.

Alice Phoebe Lou no Vodafone Paredes de Coura, 17 de Agosto 2019 (© Margarida Ribeiro/MHD)

Entrou em palco com um sorriso que, salvo certos momentos, se manteve na sua cara até ao final da atuação. Além de simpática e afável, Alice divertia aquela multidão bastante vasta quando nos apresentava os temas com um olhar irreverente ou quando nos agradecia as palmas com uma cómica modéstia.

Lê Também:   Vodafone Paredes de Coura 2019 | Com os New Order reuniu-se o festival

Fundindo-se com aquela sonoridade onde se fundem o soul, o blues e o jazz, a sua voz enternecia os membros da plateia que a aplaudiam entusiasticamente. Ela, apesar de doente, saltava e dançava soltando no ar os seus compridos cabelos e no final olhava-nos e com um sorriso jovial e dizia: “Oh you guys make me feel like a kid!”. Foi um concerto que reuniu uma grande plateia, uma das maiores para a qual a artista já tocara. Abandonámos o recinto com um sorriso na cara, sem saber bem porquê, completamente cativados pela atuação e genuinidade da artista.

MITSKI DOMINOU O PALCO PRINCIPAL

Exatamente um ano depois do lançamento do seu último álbum, Be The Cowboy, Mitski subiu ao palco principal do Vodafone Paredes de Coura. Já bem conhecemos as criativas coreografias que Mitski desenvolve nos videoclipes que acompanham as suas canções, mas nesta atuação ao vivo, estas apoderaram-se, como nunca, da artista e da sua performance.

Mitski entrou em palco de lado para a plateia, e assim se manteve, direita e estática, até, com as primeiras notas de “Goodbye, My Danish Sweetheart”, começar lentamente a avançar até a uma mesa de madeira que se encontrava no meio do palco.

Foi em torno desta mesa que se desenvolveu toda a performance da artista, equipada como quem vai participar num jogo de voleibol, com calções, t-shirt e joalheiras. Além das coreografias com as mãos, Mitski esticava e encolhia as pernas e os braços, deslizava de joelhos pelo palco, enquanto exercia um domínio perfeito da sua voz.

Mitsky no Vodafone Paredes de Coura, 17 de Agosto 2019 (© Margarida Ribeiro/MHD)

A performance teatral e por vezes hiperbólica que Mitski nos ofereceu tem de ser inserida no universo dos seus temas, que lhe fornecem contexto e sentido. De outra forma, poderá soar simplesmente confusa e exagerada como alguns membros da plateia, menos conhecedores do que tinham pela frente, acharam. Não há dúvidas que a performance de Mitski dominou o palco principal, porque gostando ou não, ninguém desviou os olhos da mesa de madeira. Pode-se dizer que esta mesma performance dominou a própria Mitski, que estando tão embrenhada nas suas encenações nem de relance fitou a banda. Mas não será esse o objetivo? Contrapor as danças teatrais e os olhares suplicantes com a postura confiante e, até arrogante, com que de vez em quando confrontou a plateia. Em atuações que saem do universo comum há sempre o risco de não ser entendido e a fronteira entre o espetacular e o exagerado é muito difusa. Mitski gerou alguma discórdia e desconforto no público, assim, pelo menos parte do objetivo ficou cumprido. Se alguma vez se dirigiu à plateia foi num suave e ligeiro “thank you so much”, tendo abandonado o palco ainda antes do final da última faixa, deixando a animada banda a terminar o concerto.

Lê Também:   Vodafone Paredes de Coura 2019 | Num dia excelente, a caçada foi dos Deerhunter

Bury Me at Makeout Creek e Be The Cowboy foram os dois álbuns mais explorados, a multidão mais próxima do palco entoou a maioria dos temas com a artista, destacando-se claramente “Nobody” e “Geyser”, o momento em que a mesa de madeira foi virada, numa explosão total. Quando, estática, à frente do microfone, a artista nos ofereceu “Two Slow Dancers”, o concerto atingiu um ponto alto, onde pareceu sobressair uma Mitski isenta de teatralidades, o que não deixou de ser reconfortante.

PATTI SMITH FOI O GRANDE FINAL, SÓ QUE UM POUCO MAIS CEDO

“People have the power” abriu a atuação de Patti Smith na nota de grandiosidade que marcaria o resto do concerto. Com os seus 72 anos, Patti Smith está na mesma (e não se trata daqueles elogios que se faz com simpatia às senhoras mais velhas). É surpreendente como a voz com que Patti Smith nos brindou é idêntica às antigas gravações, naquela expressiva oscilação entre a agressividade e delicadeza.

Patti Smith no Vodafone Paredes de Coura, 17 de Agosto 2019 (© Hugo Lima)

Tema atrás de tema, era uma plateia imensa que ondulava e cantava num poderoso coro, só no segundo dia, com a atuação dos New Order, é que se atingira uma multidão tão vasta e tão íntima entre si e com os artistas. Cada canção soava a hino e Patti Smith não prescindiu de evocar paz e união, condenando atitudes nacionalistas. A plateia aderiu completamente, foram estrondosos os gritos de apoio. Com a ajuda de canções de Lou Reed, Jimi Hendrix e Rolling Stones, Patti chamou-nos a agir, instigando um grito de revolta, “The future is tomorrow motherfuckers!”.

Patti Smith e a sua banda criaram um dos momentos mais memoráveis desta edição do Vodafone Paredes de Coura, no melhor concerto do dia. Era bom que o último dia tivesse terminado com o concerto de Patti, porque, o que o seguiu, não conseguiu alcançar o sentimento de união e pertença que marcou esta atuação.

FREDDIE GIBS & MADLIB CONSEGUIRAM CATIVAR UMA PLATEIA POUCO VIRADA PARA O HIP-HOP

Depois da atuação de Patti Smith e com os Suede ainda responsáveis por fechar a noite, a subida ao palco de Freddie Gibs e Madlib gerou uma plateia heterogéna, composta tanto pelos fãs mais entusiastas que empunhavam cartazes, como por uma linha da frente repleta de elementos femininos que esperavam a banda de britpop.

Freddie Gibbs no Vodafone Paredes de Coura, 17 de Agosto 2019 (© Margarida Ribeiro/MHD)

Freddie Gibs é conhecido pelas poderosas letras e a sua destreza é admirável. Mas o que mais surpreendeu nesta atuação foi Madlib e a incrível fusão destes dois artistas. Mesmo para os que não participam assiduamente no mundo do hip-hop a atuação encheu as medidas. E não era necessário estar lá à frente, entre a poeira, os empurrões e os incomodados fãs de Suede, para se aproveitar um concerto que conseguiu cativar o público “mais indie” que costuma frequentar o festival.

Como esperado num concerto desta índole, não faltou a bebida, o fumo e as exclamações de ordem que Freddie motivava a plateia a repetir. Foi um bom espetáculo que não deixou de criar um contraste engraçado com o universo de concertos que o rodearam.

OS SUEDE NÃO FORAM O FINAL QUE QUERÍAMOS

Os Suede deram um bom concerto, não há duvida, a entrega de Brett Anderson foi estrondosa, como a sua camisa encharcada comprova. O palco foi totalmente do vocalista, que o percorreu de uma ponta a outra, com uma energia invejável. Talvez tenha sido essa energia que faltou ao público, cansado dos quatro dias de festival, não acompanhou o ritmo do vocalista.

Suede no Vodafone Paredes de Coura, 17 de Agosto 2019 (© Margarida Ribeiro/MHD)

À excepção de uma fila da frente irrepreensível, com que Brett tanto interagiu, a restante plateia, unida no palco principal, não deixou que os Suede acabasssem o festival com um concerto grandioso.  Entre baladas e alguns clássicos, o concerto não chegou a todos, talvez os Suede não tenham sido a escolha indicada para encerrar o festival.

De qualquer forma os festivaleiros despediram-se de Paredes de Coura com um sorriso na cara, conscientes de que só nos próximos dias seriam capazes de digerir os grandes concertos que tiveram a oportunidade de experienciar e tranquilos com a certeza de que para para o ano há mais, nos dias 19, 20, 21 e 22 de Agosto.



Também do teu Interesse:


About The Author


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *