Pinóquio, em análise
Juntando-se a um vasto leque de filmes live-action, “Pinóquio” é o novo filme da Walt Disney Studios e a sua estreia aconteceu em exclusivo via Disney+.
Dos estúdios de animação da Disney, a história de Pinóquio ganhou vida já há em 1940, figurando-se como uma das longas-metragens de animação mais antigas do seu catálogo. Apesar de ser amplamente conhecida pelo público, e de ser por muitos considerado um clássico da animação, a história da marioneta de madeira que ganha vida nunca conquistou por completo as gerações, apesar de ter conquistado os críticos.
A sua história passou de geração em geração sim, mas nunca com o mesmo impacto de outras histórias como “A Branca de Neve e os Sete Anões“, “Cinderella” ou claro, “O Rei Leão”. Claro que em parte há que realçar que a história em que se baseia o conto é levemente sombria, algo que já tinha sido acautelado no primeiro filme de animação pela Disney. Ainda que com pequenas mudanças na história e no percurso da jornada de Pinóquio para ser um menino de verdade, sempre se destacou por ser mais sombrio com a Ilha dos Prazeres, as crianças a transformarem-se em burros. Sombrio e até diríamos instigador de alguns pesadelos infantis.
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Mas, esquecendo a parte de ser um conto que foi adaptado para crianças mas que metia medo, a grande mensagem de Pinóquio sempre foi a de não mentir, ou não fosse a questão do nariz crescer com mentiras algo que ainda hoje se diz às crianças mais pequenas não é verdade? Pois bem, o novo live-action da Disney não esquece essa mensagem principal. Com uma história que começa com narração do Grilo Falante, esta nova versão de Pinóquio aposta muito na passagem das mensagens para o público mais jovem, do que é certo e errado, e de como nos devemos comportar essencialmente.
Se formos por aí, sim, o filme não peca e até está feito de forma acertada para os mais pequenos. Mas, se formos comparar o live-action com a animação de 1940, podemos certamente reparar em diferenças que o público mais adulto também irá notar. Antes de mais nada, há que realçar que esta adaptação tem personagens novas – elas não retiram nada à anterior história, mas também não acrescentam como gostaríamos. Fabiana, e a sua marioneta Sabina, por exemplo, são uma magnífica adição ao mundo de Pinóquio mas que gostávamos de ter visto muito mais. A sua leveza em ecrã, e a sua talentosa voz, enalteceram a actriz e deixaram-na roubar o protagonismo em cada cena que entrava, fazendo-nos até esquecer de Pinóquio.
E pelos restantes, de um elenco de luxo onde se contam Tom Hanks, Cynthia Erivo, Joseph Gordon-Levitt ou Luke Evans, estávamos à espera de os ver mais tempo em ecrã. A presença deles é curta mas a que existe é sem dúvida um prazer de se ver – e ouvir até, já que Cynthia Erivo e Luke Evans evocam dois grandes momentos musicais do filme, incluindo a icónica “When You Wish Upon a Star”.
Mas talvez a maior estrela, mais do que Pinóquio em si, seja mesmo o Grilo Falante. Joseph Gordon-Levitt dá tudo na voz da pequena consciência de Pinóquio. Deixamos até o desafio de verem o filme na versão original para que ouçam e procurem encontrar o actor na voz do pequeno grilo – será difícil de reconhecer, de tão bom que ele foi a encontrar uma persona para esta personagem icónica da Disney.
Os momentos musicais ao longo de todo o filme destacam-se pelos talentos envolvidos, e até mesmo o de Tom Hanks como Gepetto, ainda que ele não seja o melhor actor musical, trazem-nos um certo calor ao coração. A emoção depositada na personagem do amoroso, caloroso e simpático Gepetto é suficiente para acreditarmos naqueles momentos de poesia e música que ele tanto quer entoar pela sua oficina.
Em termos de efeitos visuais, o Pinóquio enquanto marioneta de madeira que ganha vida é sem dúvida um dos pontos altos desta produção Disney. A réplica para o live-action foi muito bem conseguida, e todos os seus movimentos pareciam certos e no timing ideal. No entanto, e talvez aqui seja o problema dos live-action de uma forma geral, foi a junção do mundo real com as personagens CGI. Cenas recatadas, com Gepetto e Pinóquio por exemplo, convenceram-nos, mas quando o mundo de Pinóquio se juntava a um de muitos humanos e paisagens reais, por vezes a sensação de algo não estar correcto saltava à vista. Mas como dissemos, Pinóquio enquanto marioneta que ganha vida estava excepcional, já outras personagens ficaram esquecidas, como o pequeno Figaro.
A maior diferença de todas vê-se no entanto no final. Se for ver este filme com a esperança de encontrar uma cópia exacta da animação, não é isso que vai ter. Além das personagens novas como referimos anteriormente, “Pinóquio” tem também nesta versão um novo final – aberto, muito mais focado na temática das mensagens educacionais, e que permite à audiência imaginar o que terá acontecido. E é claramente esse o propósito do filme – uma longa-metragem para ser vista em família onde o foco é a mensagem, e um empurrãozinho na inclusão de algumas lições na educação dos mais pequenos.
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Marta Kong Nunes - 65
CONCLUSÃO
A versão de Pinóquio de Robert Zemeckis é uma das versões mais leves de live-action que os estúdios da Disney optaram por fazer até ao momento. Ainda que a essência do conto possa transparecer por vezes, é um filme com mais foco nas mensagens para as crianças, na distinção do certo e do errado, e até no ensinamento de alguns conceitos – como por exemplo, um colega não é necessariamente um amigo.
Não se revela tão sombrio quanto a animação, mas revela-se um bom filme para apreciar em família e apreciar a mestria de animação dada a uma marioneta de madeira.
Pros
- Os momentos musicais, em particular de Cynthia Erivo e Luke Evans
- A performance de voz magnífica de Joseph Gordon-Levitt
- A aposta na mensagem educacional
- O final em aberto
Cons
- A mistura entre CGI e humanos que por vezes nos coloca em desconforto por não parecer certa
- O reduzido tempo de ecrã do talentoso elenco reunido para o filme, inclusive Tom Hanks que pouco aparece
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