Pity

ArteKino ’18 | Pity, em análise

A tristeza é um sentimento do qual tentamos fugir, evitando igualmente que os outros tenham pena das nossas situações menos felizes. Contudo, isto não é verdade para Giannis Drakopoulos, um homem viciado na tristeza. “Pity” é uma das obras exibidas no ArteKino Festival.

Seis anos após a sua última longa-metragem, Babis Makridis regressa à realização com uma obra que explora o desejo de tristeza que algumas pessoas possuem. O sentimento constante de que tudo corre mal e de que não existe qualquer felicidade nas suas vidas. Este é Giannis Drakopoulos, o advogado que todos os dias espera à porta pela sua vizinha e pelo bolo que esta todas as manhãs cozinha para ele e para o seu filho. A sua mulher está internada num hospital em estado crítico, facto que espalha a várias pessoas pelo prazer de receber pena destas. Todos os dias ele termina a tarde a chorar e nada faz para sair desse estado que, de uma forma estranha, o faz feliz.

pity artekino

A vida de Giannis é lenta e pacífica, sem demasiada ação ou emoção. Ao longo do seu percurso encontra outras pessoas como ele e outras que ele gostaria de ser, mergulhadas numa profunda depressão. Durante o dia ele exerce como advogado, ajudando vítimas de crimes violentos, e quando termina essa função entra em atividades que nada despertam em si e passa tempo com o filho que deve mostrar-se também deprimido – numa das cenas ele toca uma música alegre ao piano e é reprimido pelo seu pai que exige não se mostrar feliz, devendo manter uma expressão e um comportamento tristes de modo a que os vizinhos saibam do seu sentimento. Ele poderia distrair-se, celebrar a pouca felicidade que vem ao seu encontro mas ele recusa-se, desviando-se de qualquer momento de alívio e prendendo o seu filho com ele.

Tudo muda quando algo acontece que o retira do foco de quem o rodeia. Quem se preocupava com ele torna-se distante, afinal, já não precisam dele. Não é somente o protagonista que gosta que sintam pena por ele, os amigos e os vizinhos não podem passar sem sentir pena dele ou de qualquer outra pessoa em necessidade, sentindo prazer em ser importante na vida de alguém que esteja parcial ou completamente dependente deles.

Aqui nasce um protagonista negro, um ser capaz de tudo para ter o que quer. Quais serão os seus limites quando alguém se coloca entre ele e o caminho para a tristeza? Quão longe irão as suas mentiras, o quão conseguirá ele prejudicar aqueles à sua volta ou até a si mesmo? O final, esse só podia ser doentio.

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A fotografia de “Pity” não possui cor, a montagem é lenta, a câmara fixa, e os elementos dentro da imagem retos e alinhados. A música toma um tom de glória somente em momentos em que o protagonista alcança o auge da pena como quando a sua secretária o abraça, diminuindo para um tom deprimindo e de desespero quando algo de bom acontece. Este é um filme calmo que te quer fazer sentir pena pelas suas personagens, todas elas. Uma viagem a um mundo onde a única emoção realmente pura é a da tristeza.

“Pity” explora o vício no sentimento de pena e aborda-o de forma direta e quase cruel. O filme está disponível gratuitamente no site do ArteKino até dia 31 de dezembro.

Pity, em análise

Movie title: Pity

Director(s): Babis Makridis

Actor(s): Evdoxia Androulidaki, Georgina Chryskioti, Yannis Drakopoulos

Genre: Drama

  • Ângela Costa - 65
65

CONCLUSÃO

Pity é uma viagem ao mundo negro de um homem que consegue ser feliz somente quando está triste e quando quem o rodeia sente pena dele. Um homem que parece inocente mas cujo lado doentio rapidamente transborda à superfície.
O MELHOR: Um trabalho estético que representa na perfeição o estado de espírito e o sentimento do seu protagonista, assim como o partilhar dos seus pensamentos mais escuros.
O PIOR: Um final que apesar de se encaixar, vem de forma demasiado abrupta quando poderia ter sido mais explorado.

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