Posto Avançado do Progresso, Mini-Crítica
Um misto de farsa, filme de aventuras com retoques do cinema mudo é assim que se pode caracterizar ‘Posto Avançado do Progresso’, do realizador português Hugo Vieira da Silva.
Em Posto Avançado do Progresso, o realizador português Hugo Vieira da Silva, (Swans, 2011), actualmente a residir em Viena de Áustria, remete-nos para as memórias da colonização portuguesa em África, baseando-se num conto com o mesmo título, do escritor Joseph Conrad. Esta nova obra do realizador português apresentada na secção Forum da Berlinale 66, Posto Avançado do Progresso, não é um filme de guerra, como Apocalipse Now, (baseado no romance Coração das Trevas), mas tem o mesmo espírito, no que diz respeito, ao isolamento, aos perigos da selva e ao comportamento humano vivido em situações limite e de tensão, num posto avançado e num território quase desconhecido.
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Posto Avançado do Progresso, passa-se nos finais do século XIX, quando a Monarquia e Império Português entravam já em agonia, dois funcionários coloniais portugueses estão colocados num remoto posto de negociação do marfim na mal definida fronteira entre Angola e o Congo. Depois da morte do ex-chefe do posto, há necessidade de novamente fazer fluir o comércio do marfim, e aumentar os recursos do Império. Ao serviço da Companhia Colonial Portuguesa, os dois funcionários de uniformes coloniais brancos e brilhantes (como o branco dos olhos e os dentes dos nativos), acabam por sobressair como seres estranhos, numa selva verdejante e húmida, de solo enlameado, onde há muito para descobrir como os sons das aves, mas onde tudo lhes é inóspito e desconhecido.
‘… procurando antes passar o tempo ‘emborrachando-se’ em álcool, ouvindo música numa velha grafonola…’
Os nativos contratados para caça e transporte, não fazem o mínimo esforço para trabalharem e conseguirem novas reservas de marfim. Enquanto o gordo e despreocupado Sant’Anna (Ivo Alexandre), parece não se ralar muito com isso, procurando antes passar o tempo ‘emborrachando-se’ em álcool, ouvindo música numa velha grafonola ou jogando às cartas com os nativos; o seu recém-chegado jovem e autoritário chefe de posto João de Mattos (Nuno Lopes), sente-se inseguro, logo que começa a sua função é atingido pela malária e quase perde a razão.
‘…os dois homens, incapazes de apreciar a beleza natural e indígena que os rodeia.’
O isolamento na selva, a espera, a distância em relação aos centros de decisão e sobretudo a tensão e medo que advém da falta de autoridade em relação aos nativos, vai gradualmente acentuar a desconfiança e desilusão nos dois homens, incapazes de apreciar a beleza natural e indígena que os rodeia. Numa história que se vai repetindo quase que em tom de farsa, como em Bucha e Estica, num drama onde não há fuga para o claustrofóbico e húmido destino de Sant’Anna e João de Mattos (duas interpretações notáveis como destaque para a revelação que é Ivo Alexandre), num filme com imagens fascinantes e uma soberba fotografia, em claros escuros, fumados e texturas. Hugo Vieira da Silva, combina sofisticados efeitos visuais com a estética do cinema mudo, distorcendo mesmo a percepção do drama com o propósito de marcar bem as diferenças entre os homens brancos civilizados e os indígenas bárbaros preguiçosos, sempre a partir de excelentes recursos visuais e sonoros e uns diálogos geniais.
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O MELHOR: os magníficos efeitos visuais e sonoros, que marcam a diferença entre a civilização e a barbárie;
O PIOR: a longa duração, terceira parte do filme é um pouco redundante e torna-o um pouco fastidioso para qualquer ambição comercial.
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Título Original: Posto Avançado do Progresso
Realizador: Hugo Vieira da Silva
Elenco: Nuno Lopes, Ivo Alexandre, David Caracol
Leopardo Filmes | Drama | 2016 | 121 min
JVM