Rodagem | ‘Salgueiro Maia — O Implicado’

As rodagens do muito aguardado filme ‘Salgueiro Maia – O Implicado’, foram entretanto retomadas ou melhor iniciadas, depois de um período de ensaios, depois da quarentena.  Em reportagem para a MHD, tendo em conta as limitações sanitárias, fui à Academia Militar em Lisboa, ver um bocadinho das filmagens e tentar saber um pouco mais como Sérgio Graciano e sua equipa vão recriar a vida do grande símbolo do 25 de Abril de 1974.

Deixe-me antes demais dizer, que tive oportunidade de conhecer, trabalhar e admirar como pessoa e comandante Salgueiro Maia, — então major — enquanto cumpria o serviço militar obrigatório como miliciano, entre 1981/82 em Santarém e depois no Campo Militar de Santa Margarida. Por isso ver um dia nos ecrãs de cinema um filme sobre esta figura é-me particularmente grato e de boas memórias, como as do próprio dia 25 de Abril de 1974, nos meus 14 anos de idade. Sempre o achei fundamental fazê-lo para este ‘Homem’ não cair no esquecimento e ainda mais com um filme que possa dar a conhecer aos espectadores e gerações mais jovens, uma figura tão importante como outras da História de Portugal, que aprendemos na escola. Diria mesmo que Salgueiro Maia está para a história contemporânea como D. Nuno Álvares Pereira esteve para a dinastia de Avis ou para a crise de 1383-85. Isto é uma figura que pela sua capacidade de liderança e determinação deu outro rumo a Portugal, sem pedir nada em troca e que infelizmente desapareceu demasiado cedo deste mundo.

Salgueiro Maia faleceu prematuramente aos 47 anos e, teria hoje setenta e cinco anos de idade. Foi um militar de carreira que conjugava uma formação militar com a académica — era formado em Ciência Política pelo ISCSP, curiosamente mais uma coisa que tenho em comum com ele, embora não nos cruzássemos por lá — e era um homem culto, solidário, e sobretudo amigo. Segundo os produtores o filme procurará retratar ‘as histórias que ainda não foram contadas sobre o capitão de Abril (…) que permitem perceber melhor de onde vinha a sua moderação, valentia, educação e firmeza com que sempre se apresentou publicamente, sentimentos e qualidades essas que foram de facto determinantes para o êxito da Revolução dos Cravos e fontes de inspiração dos ideias democráticos do País que vivemos na actualidade.

Assim serão sete semanas de rodagem, as previstas pelo realizador Sérgio Graciano (‘Linhas de Sangue‘, 2018 e ‘Perdidos‘ 2017), para o seu novo filme ‘Salgueiro Maia – O Implicado’, que estão a decorrer em Lisboa nas instalações da Academia Militar, Santarém (na Escola Prática de Cavalaria e Liceu Sá da Bandeira), Pombal e Castelo de Vide, respectivamente as terras onde passou parte da juventude e onde nasceu Salgueiro Maia (1944-1992).

Este filme é baseado no livro ‘Salgueiro Maia — Um Homem da Liberdade’, de António de Sousa Duarte e foi escrito pelo argumentista João Lacerda de Matos (o mesmo da série ‘3 Mulheres’), ou seja uma biografia exclusiva e uma profunda investigação, lhe à partida uma dimensão histórica e realista. Intimamente ligado a Santarém o produtor e advogado José Francisco Gandarez, da Sky Dreams (foi também a produtora de ‘Snu’) teve a brilhante ideia de levar à tela este biopic intimista, entre o real e a ficção sobre o grande símbolo do 25 de Abril de 1974. ‘Quando me convidaram nunca me tinha passado pela cabeça fazer um filme sobre o Salgueiro Maia’, disse-nos Sérgio Graciano em pleno cenário real das instalações da Academia Militar, mas a partir do momento que me convidaram comecei a pensar que fazia todo o sentido, e decidi claro aceitar com muito prazer e empenho.

Na verdade, ‘Salgueiro Maia – O Implicado’ pretende ser uma ‘história de ficção baseada em factos históricos, relatos pessoais, revelações íntimas, emoções reais de quem acompanhou o capitão ao longo de toda a vida. Um filme que revelará o outro lado de uma personagem mítica e que presta homenagem ao homem, ao estudante, ao militar, ao pai, ao amigo e ao ímpar militar de Abril’, conforme as notas da produção enviadas à imprensa. E isso confirma-o Sérgio Graciano dizendo que ‘este filme mostra muito mais do que a importância do Salgueiro Maia teve no 25 de Abril’. É evidente que a figura de Salgueiro Maia é indissociável do 25 de Abril, ‘mas este um filme é sobre o homem e talvez um bocadinho menos sobre o herói’. Na verdade o Salgueiro Maia era quase um anti-herói, e o ‘filme vai mais nesse sentido de mostrar uma opção de vida, de um homem que soube sempre colocar-se no seu lugar, porque era um militar, e não um político.

No elenco estão actores como Tomás Alves, Tiago Teotónio Pereira, Filipa Areosa, Gabriela Barros, Federico Barata ou Rúben Gomes que fomos encontrar num momento de pausa de filmagens, na parada da Academia Militar. Curiosamente onde estava também estacionado o autêntico e célebre ‘Bula’, o blindado Chaimite, onde Salgueiro Maia, comandou e transportou Marcelo Caetano do Quartel do Carmo após a rendição do regime e que figura como um dos principais adereços do filme. O actor Tomás Alves — foi Simão Botelho em ‘Amor de Perdição’, de Mário Barroso, 2008 —, nascido em 1989, que é francamente parecido com Salgueiro Maia, talvez só um pouco mais alto. Disse-me que ‘conhecia aquilo que a maioria das pessoas conhece sobre o Salgueiro Maia, como símbolo da Revolução de Abril, nada sobre a sua história pessoal e, por isso tem sido um enorme prazer, conhecer melhor esta grande figura, o seu sentido de justiça e o seu carisma’.

Também Frederico Barata, — um actor vem sobretudo das produções de televisão e que já trabalhou com Sérgio Graciano entre outras no remake de ‘Vila Faia’ — nascido em 1986 e, que interpreta o agora General Mário Delfim Tavares de Almeida, que foi um grande amigo do Salgueiro Maia e que o acompanhou desde a Academia Militar, até e ao pós-25 de Abril, revelou-me que ‘já tinha ouvido falar muito do Salgueiro Maia e dos outros Capitães de Abril. Aliás a minha família dava-se até com um deles. O 25 de Abril estava mais ou menos presente, embora não soubesse muito sobre, o lado mais pessoal, sobre o homem e sobre o símbolo’ que representava esse militar de cavalaria.   

De facto não deve ser nada fácil para estes jovens actores representarem figuras tão carismáticas como este dois militares de Abril, sobretudo Salgueiro Maia, ‘uma pessoa fora do normal que nunca se deixou levar por extremismo ou qualquer coisa que o desviasse dos seus ideais e princípios, confirma-me Tomás Alves. Fiquei mesmo sensibilizado e surpreendido com a história dele (…) e conhecendo agora melhor a figura tem sido até um bocado difícil para mim interpretar essa mistura de uma pessoa bastante reservada, tímida e melancólica até com uma certa tristeza estampada no olhar, que era um líder nato, uma pessoa carismática e com um humor bastante específico’, conclui o actor quer já trabalhou várias vezes e foi o escolhido do realizador Sérgio Graciano: ‘Ele foi escolhido porque além do seu talento tem umas fortes parecenças com o Salgueiro Maia. Os outros actores pelas suas características pareceram que encaixavam bem nos papéis. Sobre o elenco e o desafio de fazer uma biopic sobre o ilustre Capitão de Abril, revela o realizador que ‘tem sido muito interessante descobrir novos actores e talentos, para além do Tomás Alves. Ao mesmo tempo é um grande desafio fazer um filme com esta escala e mais sobre uma figura tão importante como o Salgueiro Maia.

Outro aparente desafio com que se deparou a equipa de produção de ‘Salgueiro Maia — O Implicado’ foi o súbito cancelamento das rodagens, que segundo o realizador Sérgio Graciano acabou por funcionar como algo de positivo para o desenrolar agora das filmagens: A três dias de começarmos a rodar foi decretada a quarentena. Já tínhamos tido bastantes ensaios com os actores ao fim-de-semana. No entanto, acabou por ser bom, porque amadurecemos algumas ideias e, fomos trabalhando, mesmo à distância. De repente acho que conseguimos ficar com uma ideia melhor do que cada um de nós queria fazer e contribuir para o filme. Por isso a questão da quarentena e da pandemia, acabou por não ser mau e até veio a reflectir-se positivamente agora no nosso trabalho. Ganhámos mais músculo para rodar o filme, que vai estrear em Outubro. Efectivamente a chegada às salas de cinema de todo o País de  ‘Salgueiro Maia – O Implicado’, um filme que constitui o primeiro retrato em grande ecrã, do homem que é considerado o herói e o símbolo mais puro do 25 de Abril de 1974.

JVM