Rurouni Kenshin: Final Chapter Part I - The Final ©Netflix

Rurouni Kenshin: The Final, em análise

“Rurouni Kenshin: The Final” repete a proeza pela quarta vez, com um filme que mantém a alta qualidade cinematográfica dos anteriores e continua a entregar cenas de ação fantásticas. Depois da memorável adaptação do arco do maior vilão da saga, Shishio, neste novo filme os criadores viram-se para a manga e para as aplaudidas OVAs e expandem a narrativa, merecendo toda a atenção dos fãs.

Diz o ditado que a adaptação perfeita de anime em live-action não existe… E eis que em 2011, o realizador Keishi Ohtomo surpreende o mundo com o anúncio do projeto de adaptação em filme live-action da manga/anime “Rurouni Kenshin”, de Nobuhiro Watsuki, e que seria produzido por uma colaboração entre o Studio Swan e a Warner Bros. Também conhecido por Kenshin- o Andarilho ou pelo mítico Samurai X, esta é uma das manga e dos anime mais populares internacionalmente, sendo também nacionalmente um dos anime preferidos dos portugueses.

A verdade é que tentativas completamente falhadas de adaptações de anime traumatizam o público a um nível que parece generalizado que não existem bons live-actions inspirados em anime. “Dragon Ball Evolution”, “Death Note” da Netflix e “Attack on Titan” de 2015 são consensos de péssimas produções, que os fãs não toleram e que nem deveriam ter visto a luz do dia. Quanto a “Alita Battle Angel”, “Detective Pikachu” e “Speed Racer” (2008) são exemplos de filmes com as suas falhas, mas que no geral possuem bastantes elementos bons e onde os produtores acertaram em aspetos suficientes do material original para que dividam fãs e críticos. Por fim, entre os modelos a seguir e confirmações de que é possível ter excelentes adaptações temos: “Oldboy” (2003), “Lone Wolf And Cub” (1972 a 1980), “Blade of the Immortal” (2017) e “Rurouni Kenshin: Origins” (2012) (no original “Rurôni Kenshin: Meiji kenkaku roman tan”).

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O primeiro filme live-action da saga do Samurai X de Keishi Ōtomo teve uma ótima receção tanto por críticos como por fãs – com uma classificação de 82% no Rotten Tomatoes e de 7.5 no IMDB, e a confirmação de que seria produzida uma série de filmes foi acolhida com bastante entusiasmo. “Rurouni Kenshin: Origins” foi um dos filmes de maior sucesso no Japão em 2012, tendo também uma sentida presença internacionalmente com um box office de mais de $60 milhões.

As sequelas lançadas em 2014, “Rurouni Kenshin: Kyoto Inferno” em Agosto e “Rurouni Kenshin: The Legend Ends” em Setembro, concluíram a história do arco de Shishio, o mais famoso da saga, mantendo uma receção efusiva e conseguindo superar a qualidade do original. Sojiro vs. Kenshin e Shishio vs. Kenshin são épicas lutas samurais, merecedoras de ser vistas e revistas e representam do melhor que o cinema tem para dar. Nas palavras de alguns críticos, a saga de filmes “Rurouni Kenshin” veio restaurar o genre samurai.

Após “The Legend Ends” os fãs aceitaram com nostalgia, mas satisfação o final da série de filmes. Qual o espanto quando em 2017 foram noticiados os planos para mais uma sequela, que em 2019 se veio a confirmar que seria a dobrar, com dois novos filmes live-action previstos estrear no Verão de 2020. Claro que a pandemia da COVID-19 veio atrasar o calendário, levando o lançamento a ocorrer aproximadamente um ano depois com “Rurouni Kenshin: The Final” (no original “Rurôni Kenshin: Sai shûshô – The Final” e em Portugal “Kenshin: O Samurai Errante: O Final”) a estrear a 23 de Abril de 2021 nos cinemas japoneses, sendo disponibilizado a nível mundial a 18 de Junho de 2021 com a distribuição ao encargo da Netflix. Quanto à 5ª entrada da saga, “Rurouni Kenshin: The Beginning”, foi produzida ao mesmo tempo que “The Final” e teve estreia no Japão a 4 de Junho de 2021, esperando-se também este ano a estreia na Netflix.

Rurouni Kenshin
Rurouni Kenshin: Final Chapter Part I – The Final ©Warner Bros

Um dos marcos da série “Rurouni Kenshin” foi a exibição dos seus cinco filmes no 24º Shanghai International Film Festival (SIFF), realizado 11 a 20 de Junho de 2021, tendo sido os primeiros live-action japoneses a serem exibidos no festival. Desde a sua criação, em 2016, que o SIFF apenas convidou a exibição de sagas blockbuster de Hollywood.

Uma das grandes dúvidas para os novos filmes era a de qual seria a história a ser abordada? Essa informação acabou por ser dada pelo protagonista Takeru Satoh (que interpreta Kenshin Himura), no Jump Festa 21 em 2020, revelando que “The Final” seria uma história original inspirada no terceiro e último arco, “Jinchū”, da manga de “Rurouni Kenshin” (volumes 18-28), que nunca chegou a ser adaptado para anime. Na altura, Satho afirmou ainda que estava preocupado se Nobuhiro Watsuki gostaria do filme, uma vez que a história diferiria da original. No entanto, ao ler uma carta dos pensamentos do mangaká sobre o filme, Satho disse sentir-se aliviado, pois Watsuki confessou que foi capaz de se sentir totalmente imerso no mundo do filme.

Desta forma o arco “Jinchū” e o novo filme “The Final” focam-se no confronto entre o pacifista samurai errante, Kenshin Himura, e o misterioso traficante de armas, Enishi Yukishiro. A narrativa envolve assim a campanha de vingança de Enishi e do seu grupo de guerreiros extraordinários contra Kenshin e os seus aliados, na esperança de mergulhar o Samurai X (Battōsai) num inferno vivo, fazendo-o sofrer e perder o máximo possível.

Rurouni Kenshin
Rurouni Kenshin: Final Chapter Part I – The Final ©Warner Bros

O elenco inclui o regresso de praticamente todos os protagonistas dos filmes anteriores, nomeadamente, Takeru Satoh no papel de Kenshin Himura, Emi Takei como Kaoru Kamiya, Munetaka Aoki a interpretar Sanosuke Sagara e Yū Aoi como Megumi Takani, sendo que Riku Ōnishi substitui Kaito Ōyagi no papel de Yahiko. Para além destas estrelas, temos ainda o regresso de Yosuke Eguchi como Hajime Saitō e, Yusuke Iseya e Tao Tsuchiya voltam a interpretar os seus papéis de Aoshi Shinomori e Misao Makimachi, respetivamente. Mackenyu Arata interpreta o antagonista Enishi Yukishiro, que como líder de uma empresa de armas do mercado negro da China, foi o responsável pela venda do navio de guerra a Shishio.

Seria impensável não vermos o regresso do veterano Kenji Tanigaki como diretor de coreografia e ação, tendo sido ele um dos grandes responsáveis pelo sucesso dos três primeiros filmes. Tanigaki traz com ele um ritmo, uma energia e uma coreografia que culminam em pura ação de cinema, completamente envolvente. A complementar o trabalho das acrobacias temos uma constante cinematografia impecável, efeitos visuais cativantes, guarda-roupa exemplar e uma coordenada banda sonora, tudo isto num sinergismo que consegue tirar o melhor partido das cenas que apresentam.

Mal o filme começa somos transportados para o ambiente já conhecido de Kyoto e para as nossas adoradas personagens. Não são suficientes os elogios para o empenho dos atores, que dão vida a personagens bastante escrutinadas. Realça-se a performance de Takeru Satoh que, como anteriormente, continua a impressionar e assenta no papel Kenshin como uma luva. Já Mackenyu é uma impressionante surpresa na sua interpretação e visão do vilão Enishi Yukishiro.

Rurouni Kenshin
Rurouni Kenshin: Final Chapter Part I – The Final ©Warner Bros

A mais recente entrada da saga é no entanto manchada por algumas fortes razões que a tornam talvez a produção mais fraca da série de filmes. O lançamento na sombra de “The Legend Ends”, onde foi atingido o ápice não só dos filmes, mas é mesmo o pico do melhor arco da obra, é algo difícil de superar e que portanto será sempre visto como inferior. Outro grande contra é o excesso de informação, com uma apressada apresentação da narrativa e que no final fica aquém de tudo o que queríamos e precisávamos de saber. Um maior foco, um filme mais comprido ou a divisão em duas partes teriam sido tudo soluções que decerto aumentariam a qualidade da história. É ótimo ver o arco “Jinchū” adaptado, mas é uma pena que a atenção dada à sua construção não tenha sido a mesma vista na trilogia anterior.

O pobre, ou praticamente inexistente, desenvolvimento e atenção dada a Kaoru, Sanosuke e Yahiko são quase um pecado e uma falha profunda. Três dos supostos protagonistas são despromovidos praticamente a figurantes. Em contraste há um papel muito mais relevante e adequado de Saitō, Aoshi e Misao. Relativamente a Enishi, se as suas motivações e os seus sentimentos são transmitidos, nada se fica a saber das razões que levaram os seus companheiros a apoia-lo na vingança. Nesse seguimento, fica também por esclarecer como é que o vilão adquiriu habilidades tão poderosas, que conseguem derrotar num instante Kaoru e Sanosuke.

Uma crítica mais geral, e pessoal, a toda saga é o facto de que se, por exemplo, o Son Goku utilizasse o Kamehama sem o gritar não teria nem uma porção do impacto que tem. Neste caso também Kenshin não indica verbalmente os golpes que usa nos filmes, o que se por um lado dá mais realidade às cenas, por outro tira grande parte do encanto.

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Enquanto aguardamos pela estreia internacional de “Rurouni Kenshin: The Beginning” podemos já revelar o que se sabe da história, que será inspirada na OVA (original video anime) “Rurouni Kenshin: Trust & Betrayal”. Iremos descobrir como Kenshin ganhou a sua cicatriz em forma de cruz, a narrativa levar-nos-á aos tempos do samurai como o assassino Battōsai e contará também sobre a relação de Kenshin com Tomoe (interpretada por Kasumi Arimura).

TRAILER | IRÁ “KENSHIN: O SAMURAI ERRANTE” SOBREVIVER À TERRIVEL VINGANÇA QUE O ESPERA?

Qual dos filmes da saga é o teu favorito? 

Rurouni Kenshin: The Final, em análise
Rurouni Kenshin

Movie title: Rurouni Kenshin: The Final

Movie description: Em 1879, anos após a derrota do terrível Makoto Shishio, e de Himura Kenshin e os seus aliados terem protegido o governo Meiji, eles terão que enfrentar um novo desafio mais pessoal: a vingança de Enishi Yukishiro, um misterioso traficante de armas.

Date published: 18 de June de 2021

Country: Japão

Duration: 138 minutos

Director(s): Keishi Ōtomo

Actor(s): Takeru Satoh, Emi Takei , Mackenyu Arata, Yōsuke Eguchi, Munetaka Aoki, Yū Aoi, Yusuke Iseya, Riku Ōnishi, Tao Tsuchiya

Genre: Ação, Aventura, Drama

  • Emanuel Candeias - 72
72

CONCLUSÃO

“Rurouni Kenshin: The Final” entrega aos fãs uma história original e um arco pouco explorado, que devolve o brilhantismo da coreografia e cinematografia da trilogia anterior. Takeru Satoh continua a ser a escolha perfeita para o papel de Kenshin e Mackenyu dá-nos uma interpretação convincente de Enishi. Infelizmente, a narrativa é apressada e não envolvente o suficiente, deixando-nos a desejar que o filme fosse bem mais comprido e muitos mais enredos fossem aprofundados.

Pros

  • Kenji Tanigaki com as suas excelentes coreografias e lutas de espada
  • A cinematografia e as cenas de ação são puro entretenimento
  • Takeru Satoh como protagonista e Mackenyu Arata como antagonista
  • Finalmente a adaptação do arco “Jinchū”

Cons

  • Quase imperdoável o tratamento dado a Kaoru, Sanosuke e Yahiko
  • Enishi Yukishiro é demasiado overpowered
  • A história de origem de Enishi é apenas levemente tocada e as motivações dos seus companheiros nem sequer são esclarecidas
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