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Sem Limites | À conversa com Gonçalo Diniz

A superprodução da Prime Video e da RTVE, “Sem Limites,” já estreou e a Magazine.HD esteve à conversa com o português do elenco,  Gonçalo Diniz.

Bem-disposto e com o sorriso na cara foi assim que encontramos Gonçalo Diniz, o ator português que participa em “Sem Limites.” Diniz dá vida a Duarte Barbosa, cunhado e braço direito de Fernão de Magalhães, na adaptação dos relatos de Antonio Pigafetta sobre aquela que seria a primeira volta ao mundo. A minissérie, composta por seis episódios, parte de um Convénio de colaboração assinado pela RTVE e pelo Ministério de Defesa espanhol em março de 2018, a propósito do quinto centenário deste feito.

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Gonçalo Diniz e Rodrigo Santoro | © Prime Video

Rodrigo Santoro (“Westworld”) e Álvaro Morte (“La Casa de Papel”) dão vida aos protagonistas Fernão de Magalhães e Sebastián Elcano , respetivamente. “Sem Limites” conta com a realização de Simon West, responsável por filmes como “Con Air: Fortaleza Voadora” ou “Lara Croft: Tomb Raider,” que Diniz descreve como sendo muito observador e calado… no bom sentido. Eis a sinopse oficial da série, que já se encontra disponível na plataforma de streaming da Amazon:

Liderados pelo português Fernão de Magalhães, 239 marinheiros partiram de Sevilha a 10 de agosto de 1519. Três anos mais tarde, apenas 18 marinheiros famintos e debilitados regressaram no único navio que resistiu à viagem, liderados pelo marinheiro espanhol Juan Sebastián Elcano. Viajaram 14.460 léguas, sempre de oeste para leste, completando a primeira volta ao mundo; uma missão quase impossível e que visava encontrar uma nova rota até a ‘ilha das especiarias’, que acabou por mudar a história da Humanidade ao demonstrar que a Terra é redonda.”

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MHD: Como é que chegou até “Sem Limites”?

Gonçalo Diniz: Através de casting. Descobri a produção e vi que estava lá o nome do Rodrigo [Santoro] e então mandei-lhe uma mensagem, perguntei-lhe quem era a produtora, etc., e depois concorri. Mas era muito difícil, o Rodrigo disse-me que leu a história e que eu devia concorrer para o Barbosa, que é um papel que estava sempre ao lado dele, e como já tínhamos uma ligação poderia resultar. No entanto, avisou-me sempre para estar ciente que ia concorrer com os melhores atores de Espanha, pois era um casting internacional, por isso disse-me só para ir com fé e tentar. E, felizmente, o Simon [West] gostou, a produção também e o próprio Rodrigo, que também queria ter uma opinião sobre o ator que iria interpretar este papel, pois tinham muitas cenas em conjunto.

MHD: Falando da sua personagem, Duarte Barbosa, cunhado de Fernão de Magalhães, como o descreveria?

Gonçalo Diniz: Um homem fiel, muito leal. Um homem carimbado pela dor, porque igual que Fernão de Magalhães também teve umas quezílias com o Rei de Portugal, visto que esteve 12 anos ao serviço da coroa sem receber qualquer crédito – como era normal. Aquela época era uma época muito arrogante, desprezavam com desdém muito rápido, muito facilmente, porque era assim que as pessoas pensavam. Então ele era um homem muito recalcado, e associou-se ao Fernão de Magalhães no desconforto dele face à coroa Portuguesa daquela época, dominada por D. Manuel. E foi essa dor que os levou a combinar, a engendrar esta ida, porque o Fernão de Magalhães tinha inúmeros conhecimentos sobre aquele estreito, em que ele acreditava muito e o Barbosa vê ali um escape para se vingar da coroa.

E, como o pai do Barbosa, Diogo Barbosa, era uma pessoa com fortes ligações ao rei D. Carlos, ele leva-nos até ele. Conseguem o seu apoio, mas têm toda a tripulação contra ele, e eu sou o braço direito do Fernão de Magalhães. Sou o conselheiro, sou o elo entre ele e a tripulação, porque eu sou o capitão do barco – ele, o comandante – e então eu tenho de falar com todos no barco e depois passar-lhe as informações.

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Gonçalo Diniz em “Sem Limites” | © Prime Video

MHD:  E surge quase completamente irreconhecível, como foi essa transformação?

Gonçalo Diniz: São três fases [da história], dois anos de barco. Três fases completamente diferentes. Eu optei por sugerir uma pera em forma de machado e com um “q” suave. Isto porquê, porque quando eu lá cheguei eu estava de barba, o Rodrigo e o Álvaro [Morte] também, toda a gente estava de barba. E a grande maioria das minhas cenas são com o Rodrigo e  até foi ele que veio ter comigo e disse “irmão, se você não se importar, você mudava, porque vamos estar sempre lado a lado e assim ficamos muito parecidos.” Então sugeriu-me que fosse falar com a caracterização e foi o que fiz. E depois estamos a falar do Luigi [Rocchetti] que é o maior caracterizador do mundo! São imensamente precisos. Mas isso não é tudo, há o processo interno que é muito mais valioso e doloroso para o ator. O externo só valoriza.

MHD: Como foi a pesquisa para o papel?

Gonçalo Diniz: Fiz a pesquisa por mim, enquanto portugueses temos obrigação de conhecer a história. O Rodrigo e os restantes membros talvez não tenham tanto, mas nós temos. Para além disso, o Duarte Barbosa tem um livro só sobre ele intitulado “O livro de Duarte Barbosa”, então eu fui investigá-lo dentro da escrita dele. E depois li o livro de [Antonio] Pigafetta, onde “Sem Limites” se baseia, ele próprio um dos 18 que finalizou a viagem.

MHD: Sim, apesar de Fernão de Magalhães ter partido de Espanha, esta é uma história efetivamente Portuguesa. Qual pensa que será a reação do público nacional e internacional a “Sem Limites”?

Gonçalo Diniz: Eu acho que o nacional vai reagir de uma forma normal, porque temos a nossa história ali. E os portugueses aqui são, de certa forma, os vilões. Porque tudo o que tenta atrapalhar a expedição são os portugueses, por causa do recalco que tinham com Magalhães, e então como a série é espanhola… Eu entendo porque se fossemos nós a contá-la daríamos a nossa versão e os espanhóis ficaram naturalmente os vilões.

Mas nesta história, não é a questão de países, e sim das pessoas. O que é que elas defendem. A série está ligada às emoções, tanto que há uma relação de aproximação natural entre o piloto e o comandante. Estamos a falar de uma forma natural daquilo que Elcano e de Magalhães vivem, até para dar continuidade do fecho da história, sendo Sebastián Elcano o líder.

Creio que Portugal vai ter a oportunidade, agora sim, de conhecer quem foi Fernão de Magalhães, no seu mais intimo, e as causas – porque é que foi naquela expedição sob a coroa de Espanha, porque é que foi vender-lhes esse projeto. Na realidade, essa foi a segunda tentativa, ele tentou primeiramente no seu país, então ele não foi um traidor, foi um conquistador. É uma pessoa que quer conquistar algo, não importa como, porque se não lhe dão valor…

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E aqui existe uma outra coisa, que o Barbosa também sentia, que eu acho que remete um pouco para a nossa realidade também, não sendo uma crítica governamental. Nós temos de ir lá fora para ser bem reconhecidos, às vezes, aqui dentro. E isso é uma questão que tem de mudar, temos realmente de valorizar de uma forma saudável e coerente o que é nosso, o que é português. Existem pessoas boas em Portugal e no mundo todo, só que voltando à nossa história, Fernão de Magalhães foi uma pessoa que tentou tudo aqui em Portugal. Também te posso falar de mim, Gonçalo, que também tento e tentei muito em Portugal. Vou muito para fora para às vezes conseguir coisas maiores e não é pelo nosso país ser pequeno, mas sim porque as oportunidades financeiras são outras, é outra realidade de valores. Quando tens mais orçamento disponível, normalmente tens uma técnica melhor, mais cara, com melhores materiais a nível de camaras, por exemplo, e isso é que é uma crueldade, porque o ator faz sempre o mesmo trabalho e a equipa técnica também, depois a qualidade tem a ver com o dinheiro. Por isso, temos de ser humildes para respeitar isso e saber em que tipo de projeto estamos. Mas, quer seja um projeto grande ou pequeno financeiramente, temos de dar sempre o mesmo crédito, o mesmo empenho e a mesma força energética para que o resultado final saia bem.

Creio que esta história vai mexer um bocadinho com o que é Portugal, com o que foi Portugal. Mas, não é uma lição moral, nós já sabemos o que é que foi a História. Nós ainda arrogantemente dizemos que foi a época das conquistas e da colonização, e não foi, foi a época da invasão. Eu não concordo, de todo, com o que nós fizemos, com o que os espanhóis fizeram, mas era a época. Agora ainda existir pessoas que justificam isso, “somos os conquistadores!” – não, tu não foste um conquistador, foste um assassino, foste um impositor. Foi uma época muito triste para a humanidade, principalmente para nós, portugueses. Se eu fosse alguém nesta série, seria o Silapulapu, aquele que impede que Fernão de Magalhães entre e venha conquistar tudo.

MHD: As filmagens de “Sem Limites” decorreram em vários locais de Espanha e da República Dominicana, qual foi para si a cena mais desafiante?

Gonçalo Diniz: A mais desafiante foi talvez a batalha, porque era uma época de Verão, em Sevilha. Um calor… A sorte era que nós vínhamos do mar e tínhamos de nos manter molhados e, quando não estávamos, vinha uma senhora com um spray [risos]. Portanto, molharmo-nos era um grande acontecimento, não corria uma brisa… Essa cena foi muito complicada, muito dolorosa fisicamente.

Mas, os meses que passamos a filmar no barco num estúdio fechado, com um croma à volta do barco, de uma réplica de um barco, também era doloroso. Aliás, era doloroso pela paranoia da COVID, sabes? Porque a toda a hora, havia alguém a ir para casa e isso não podia acontecer. Se caíssemos com o COVID, o que o Simon era obrigado a fazer por questões financeiras era cortar. Tínhamos este dia para filmar e se tu não estás pronto, eu passo a tua fala para outro e damos a volta à história – só não podia fazer isso com os protagonistas, mas com os resto era tudo volátil. Então eu fui estoico, e não, não apanhei COVID. Cuidei-me muito, não me dei com ninguém – a cervejinha no final do dia, infelizmente não a tomei, ia direto para o meu quarto de hotel. Filmava 12 horas de segunda a sábado, mas o processo foi muito giro.

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Gonçalo Diniz e Álvaro Morte em “Sem Limites” | © Prime Video

MHD: Sentiu que o desafio foi maior por ter um realizador como Simon West atrás das câmaras?

Gonçalo Diniz: Eu não esperava que ele fosse fazer um corte tão genial e… cruel porque ele cortou muitas cenas minhas! [risos] Mas falei com ele na première, e ele explicou-me que as personagens foram crescendo ou diminuindo consoante a sua interpretaçã0. E que eu me deveria sentir honrado, porque foi a minha prestação que me deu tanta incidência na série – entre outras coisas que guardo para mim. O Simon é uma pessoa muito observadora.

MHD: Já percebemos que tem uma boa relação com o Rodrigo, mas como foi trabalhar com o Álvaro Morte? Tem algum episódio que recorde?

Gonçalo Diniz: Trabalhar com o Álvaro foi muito parecido a trabalhar com o Rodrigo nesse sentido, porque eu não conhecia o Rodrigo a trabalhar. Ele a trabalhar é outra pessoa, é um ator exemplar, sabes? O Álvaro é uma pessoa encantadora, tem muito a ver comigo no sentido em que dispensa mordomias e está presente para os conteúdos. E eu sou muito assim, dou-me com toda a gente, faço sempre questão de conhecer a equipa técnica toda, gosto de cumprimentar sempre toda a gente, e isto era uma coisa que ele fazia também. Então uma vez veio-me dizer “eres el Gonçalo más Álvaro Morte que conozco” e eu disse-lhe “no, no perdona, tu eres el Álvaro más Gonçalito que conozco, por que soy mayor que tu.” Foi uma relação muito boa.

MHD: Obrigada.

TRAILER | VIVE A AVENTURA EM SEM LIMITES, JÁ DISPONÍVEL NA PRIME VIDEO

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