The Stanley Parable: Ultra Deluxe, em análise
A CROWS CROWS CROWS traz de volta um dos jogos revelação de 2013. Será que “The Stanley Parable: Ultra Deluxe” faz jus ao anterior?
Em 2013, a desconhecida produtora de jogos, Galactic Café, lançou o seu primeiro jogo, “The Stanley Parable”, para o PC. Ninguém estava a espera de encontrar uma obra-prima. Para muito, a história do jogo é tão distinta, que pode levar qualquer um à loucura ou a um puro estado de euforia.
Para quem não conhece “The Stanley Parable”, a história é extremamente simples. O jogador vai controlar Stanley, um indivíduo que trabalha em frente de um computador, num escritório cheio de cubículos e gabinetes. A sua tarefa é dar resposta a simples notificações que vão surgindo no ecrã. Contudo, num certo dia, Stanley não recebe qualquer notificação no seu computador, e não há vestígio de uma única pessoa no escritório. Pela primeira vez, Stanley pensa sobre si, e sobre o que aconteceu. Agora, num ato outrora (quase) impossível, decide sair da sua secretária e descobrir a razão do mistério.
Durante a sua jornada, é acompanhado pelo Narrador, que diz a Stanley, quais as portas e caminhos que deve seguir. No meio desta aventura, descobre a Mind Control Facility, um lugar enorme, com ecrãs que monitorizavam todos os indivíduos do escritório, incluindo o Stanley. Como ato final, Stanley dirige-se à Facility Power, onde desliga todo aquele mecanismo sinistro. Momentos depois, numa absolta obscuridade, vemos uma parede a descer, e a luz e brisa do exterior começa a encher a sala. Pela primeira vez, Stanley é livre e feliz.
MAS STANLEY É REALMENTE LIVRE? SOMOS REALMENTE LIVRES?
Este é o nosso destino se seguirmos as indicações do Narrador, são pouco mais de cinco minutos, por entre corredores, salas e escritórios. Contudo, durante essa trajetória, Stanley tem várias alternativas ao que o Narrador sugere. Para cada mudança que o jogador decidir fazer, um novo final vai acontecer. No total são dezanove finais diferentes. Durante estes 19 finais, pensamos na vida que Stanley leva, mas inconscientemente, pensamos na nossa vida. Quantos de nós leva a mesma rotina de Stanley? Trabalhar, sem (quase) pensar, e no fim, assumir que está feliz, e ter a “liberdade” para fazer o que bem entender.
Além disso, o jogo está repleto de pequenos simbolismos. Para começar, o número de Stanley é o 427. Desconstruíndo o número, a primeira parte, 42, é popularmente conhecido pelo número que dá resposta ao sentido da vida, do universo e de tudo. No livro “The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy” (1979), escrito por Douglas Adams, é abordado o sentido do número 42, e desde daí enraizou-se na cultural popular. Mas qual é o significado desse número no jogo? Até ao momento, não há nenhuma resposta especifica nem certa, cabe a cada jogador retirar a sua própria reflexão. Além disso, o número ao contrário, é 24, que em conjunto com o número 7, resulta na expressão “24 sobre 7”. Esta expressão é usada quando referimos, genericamente, a uma ação repetida e automatizada. Exatamente o que Stanley faz, e provavelmente muitos de nós também.
Semelhante ao que acontece com Joseph K., no livro de Franz Kafka, “O Processo”, vemo-nos num enorme labirinto, sem saber qual é a razão, nem qual é a solução. Resumidamente, “The Stanley Parable” não é um jogo para todos os gostos, apesar de ser um dos melhores jogos de sempre. Conforme o nosso humor, vamos ter sempre uma experiência diferente do jogo, sobretudo filosófica e introspectiva.
Além do lado moralista do jogo, a jogabilidade, é de longe, memorável. É igual a qualquer FPS (First-Person Shooter), andamos para a frente, para trás e para os lados. Nem sequer é possível saltar. Mas esse não é o objetivo do jogo, ter uma experiência divertida e instantânea.
A NOVA VERSÃO DE THE STANLEY PARABLE
Agora, pelas mãos da CROWS CROWS CROWS, chega a “continuação” de “The Stanley Parable”. E é provavelmente das melhores “sequelas” que alguma vez saiu, pelo menos na área dos videojogos. Após três anos de desenvolvimento, chegou também às consolas, nomeadamente à Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X/S e Nintendo Switch. Ou seja, mais jogadores vão ter a oportunidade de ter uma das melhores experiências que um jogo pode oferecer.
Nesse sentido, o jogo original continua em “The Stanley Parable Ultra Deluxe. Inclusive, ao início, não há nada de novo, nem sequer um novo papel ou caneca numa secretária, é tudo igual ao original. Contudo, só na terceira passagem, é que uma porta, outrora fechada e vulgar, tem escrito, em maiúsculas, “NEW CONTENT” (em português, novo conteúdo). E à primeira vista, não podia ser mais aborrecido. Chegamos a um sistema de carris, quase como um comboio, senão fosse a plataforma industrial que nos conduz até ao nosso destino, um elevador. Subimos, e pela primeira vez, é desbloqueada a aptidão de saltar. Contudo, só temos 36 saltos disponíveis. Depois disso, é pés bem assentes no chão.
Por fim, após mais alguns elevadores e críticas do próprio Narrador, aproximamo-nos da última sala. Lá dentro está uma cadeira, retraída a um canto, e no meio um sinal, com a seguinte frase – “Thank you for enjoying the new content!” (em português, obrigado por gostar do novo conteúdo.). O Narrador chateia-se, e reinicia o jogo. Mas agora é que começa a aventura.
Nas seguintes passagens, o Narrador, ou seja, os próprios produtores do jogo levam-nos por lugares incríveis. Por exemplo, chegamos à “Memory Zone”, basicamente um museu do jogo original. Lá encontramos de tudo, até do que não é do jogo, com fotografias de “Minecraft” e “Portal 2”. Mas esta não é a melhor parte. Mais a frente, chegamos a um local sujo e cheio de contentores, com a seguinte frase – “Steam Reviews”. Neste momento, o Narrador queixa-se dos lamentos e queixinhas dos jogadores que deram nota negativa ao jogo original.
A partir daí, o jogo está em constante mudança. Quando a sinopse é “the end is never the end is never the end”, não podia ser mais verdadeiro. Nós jogamos, mas o próprio jogo joga connosco. Achamos que temos escolha, mas uma vez mais, nunca antes tivemos tão pouco livre-arbítrio. Além disso, um facto é certo, em ambos os jogos, o Narrador é a nossa única companhia, como se da nossa consciência se trata-se. Ela guia-nos, mas por vezes queremos seguir o nosso instinto. O mesmo acontece em “The Stanley Parable Ultra Deluxe”.
Em suma, “The Stanley Parable: Ultra Deluxe” é uma sequela digna do seu precedente. Não é para qualquer tipo de jogador, que procura algo rápido e divertido, pois este jogo pode ser tudo menos divertido. Ainda assim, deve-se dar uma oportunidade a este ou ao original, porque irão ter uma experiência. Mas de que tipo? Depende somente dos jogadores.
TRAILER | O MUNDO PARADOXAL DE THE STANLEY PARABLE: ULTRA DELUXE
Qual é a tua decisão? Que rumo vais tomar?
The Stanley Parable Ultra Deluxe, em análise
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ENREDO - 100
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JOGABILIDADE - 90
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GRÁFICOS - 90
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SOM - 85
The Stanley Parable: Ultra Deluxe
Quando um simples homem chamado Stanley, descobre que os colegas de trabalho no seu escritório desapareceram misteriosamente, ele vai em busca das respostas.
Pros
- Uma narrativa única, em que cada jogador vai ter uma experiência diferente, sempre que for jogar;
- Os pequenos detalhes fazem a diferença;
- Mantêm a história original, com uma expansão muito bem feita;
Cons
- Falta uma banda sonora digna;