"Three Songs for Benazir" (2021) ©Netflix

Three Songs for Benazir, em análise

A atualidade e os sentimentos palpáveis exprimidos em “Three Songs for Benazir”, da Netflix, justificam a sua Nomeação ao Óscar 2022 para Melhor Curta-Metragem Documental.

“You will hear the screams of my wounded heart”

Bem-vindos ao campo de refugiados de guerra em Cabul, Afeganistão, aqui será o palco para a tragédia de Shaista e Benazir. Na verdade a história não é propriamente trágica, é apenas a vida normal de tantas e tantas pessoas. E se calhar a tragédia é mesmo essa.

A Queda de Cabul, capital do Afeganistão, pelas forças talibãs em 15 de Agosto de 2021 trouxe, momentaneamente, os olhos do mundo de volta não só para a conflito, mas para a vida das pessoas que lá tentam sobreviver. A Netflix aproveitou assim para estrear a curta-metragem documental “Three Songs for Benazir” (“Três Canções Para Benazir”, em português), transportando-nos para esta situação de conflito que se arrasta há anos infindáveis.

Elizabeth Mirzaei e Gulistan Mirzaei são os realizadores de “Three Songs for Benazir”, que começou a ser filmado em 2013 e termina a narrativa em 2019. Estes cineastas – ambos a viver atualmente nos EUA, mas com Gulistan nascido no Afeganistão e Elizabeth a ter lá vivido oito anos – têm centrado a sua carreira e os seus esforços em retratos documentais dos problemas que assolam o Afeganistão. Desde a abordagem do asilo politico em “Stranded in Kabul” (2013), às preocupações dos trabalhadores de agências internacionais em “Farewell Kabul” (2014), ao assassinato de um jornalista e sua família em “For Sardar: The Afghan Journalism” de 2016 e o vício em heroína no Afeganistão em “Laila at the Bridge” (2018), este último arrecadando vários prémios em festivais de cinema, os realizadores têm vindo a contar as histórias deste país, limando as arestas nas suas capacidades de produção. E este crescimento permitiu que a sua mais recente obra recebesse a nomeação à 94ª edição dos Óscares da Academia, na categoria de Melhor Curta-Metragem Documental.

O filme, produzido por Omar Mullick (“These Birds Walk”) ao lado de Hamayoun Noori e Jamil Rezaei estreou em Junho de 2021 no Full Frame Documentary Film Festival, nos EUA, passou por diversos festivais no ano passado, ganhando vários prémios em todo o mundo, e foi então arrematado pela Netflix. A 24 de Janeiro de 2022 estreou na plataforma de streaming.

Three Songs for Benazir
“Three Songs for Benazir” (2021) ©Netflix

Three Songs for Benazir” pinta uma realidade através dos seus protagonistas, com o passado de Shaista a coincidir em vários pontos com o do realizador Gulistan. Foi o encanto da relação entre Shaista e Benazir, cujo amor consegue abafar o ambiente de guerra em seu redor, que convenceu os Mirzaei a contar a história destes jovens recém-casados, a viver num campo para deslocados em Cabul. Com um bebé a caminho, Shaista tentar lutar por uma vida melhor para ele e para a sua família, tentando tornar-se o primeiro elemento da sua tribo a juntar-se ao Exército Nacional Afegão.

As limitadas opções para estas pessoas são uma das muitas razões que as empurram para caminhos por vezes autodestrutivos, mas que se mascaram como a única via de alimentarem e cuidarem das suas famílias. Noutras ocasiões, as escolhas tão reduzidas são ainda mais cortadas devido a conservadorismos e tradições, que podem ser mais prejudiciais ainda que as outras opções já por si não muito apetecíveis.

“Three Songs for Benazir” (2021) ©Netflix

São realidades tristes para nós privilegiados, que as podemos ver através de um documentário e não temos que as viver, mas é uma consciencialização vital para se poder agir da forma mais correta perante o crescente problema de refugiados que assola o mundo. O documentário de Shaista e Benazir é uma peça chave para aumentar a compreensão, a exposição e a empatia das pessoas com a realidade da vida no Afeganistão.

A história de “Three Songs for Benazir” toca-nos nos corações, mas a magnitude do problema precisava de ser aprofundada num documentário maior. Mais exemplos de vidas, mais ligações entre as diversas realidades do país… uma seleção entre as várias produções dos Mirzaei poderia resultar numa longa-metragem direcionada não apenas para histórias individuais, mas para o panorama geral, o que ganharia um impacto mais relevante.

Three Songs for Benazir
“Three Songs for Benazir” (2021) ©Netflix

 A curta documental dos Mirzaei, é uma rara história de amor e esperança além da guerra, que merece ser contada e ouvida. “Three Songs for Benazir” é mais um capitulo do livro de histórias dos Mirzaei no Afeganistão, com um dos seus projetos futuros a incidir sobre a memória do melhor amigo de Gulistan que foi morto em Setembro de 2021.

TRAILER | A HISTÓRIA DE AMOR ENTRE SHAISTA E BENAZIR!

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Three Songs for Benazir, em análise
Three Songs for Benazir

Movie title: Three Songs for Benazir

Movie description: Recém-casado e a viver num acampamento de desalojados, um homem afegão tenta conciliar o sonho de se juntar ao exército com as responsabilidades familiares

Date published: 24 de January de 2022

Country: Afeganistão

Duration: 22 minutos

Director(s): Elizabeth Mirzaei, Gulistan Mirzaei

Genre: Documentário, Curta

  • Emanuel Candeias - 74
74

CONCLUSÃO

“Three Songs for Benazir” é uma história de amor, é uma história de guerra, mas também de esperança. O novo capítulo dos realizadores Mirzaeis é mais um relato em primeira mão do Afeganistão, especialmente importante dado que passamos por um momento em que esses relatos estão a ficar cada vez mais difíceis de sair do país.

Pros

  • Mirzaeis
  • Shaista e Benazir
  • Realidade da vida no Afeganistão
  • Aumento da consciencialização e empatia das pessoas

Cons

  • Demasiado curto
  • Sozinha a curta-metragem conta uma história encantadora, mas não alcança o impacto que a magnitude do problema merece
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