Top 2015, guarda-roupas | 04. É Difícil Ser Um Deus
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Se, por algum milagre sobrenatural, Hieronymus Bosch e Francis Bacon tivessem colaborado na realização de um filme, o resultado poderia ser algo semelhante a É Difícil Ser Um Deus, a derradeira obra do russo Aleksei German. O filme é um pesadelo infernal em forma de cinema, tão espetacular como repugnante.
Adaptado de um romance de ficção científica da autoria de Arkadiy Strugatskiy e Boris Strugatskiy, É Difícil Ser Um Deus desenvolve-se em volta da figura de don Reba, um cientista da nossa Terra, que vive noutro planeta, quase igual ao nosso, onde a evolução parece ter estagnado na Idade Média, nunca havendo o Renascimento para atenuar as sombras desta tenebrosa existência. Mais do que simplesmente traduzir o complicado texto original para o cinema, German e a sua equipa criaram um dos mais peculiares filmes das últimas décadas, resultando numa visão de agressiva originalidade e demoníaca intensidade.
A concretização desta Idade Média eterna faz com que o mundo de Game of Thrones pareça uma inocente brincadeira de crianças. Tudo em É Difícil ser um Deus trabalha para emergir a audiência num mundo de inescapável sofrimento e horror, sendo que os visuais são dos mais estonteantes do ano, quer seja pela fotografia a preto-e-branco, pelos cenários detalhados com toda a miséria medieval imaginável, como pelos figurinos e caracterização. Estes últimos aspetos merecem inequivocamente pertencer ao panteão das melhores recriações da Idade Média no cinema.
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Ricos em texturas, detalhes minúsculos, grotescos desenhos e concretizados com um assombroso verismo, as indumentárias que trajam o vasto elenco deste épico de Aleksei German são tão maravilhosos como horrendos. Palavras como elegância e belo, nada têm que ver com as criações de Ekaterina Shapkayts, e com razão. Quando a câmara se aproxima, aquando dos seus ousados planos sequência, das várias figuras humanas, o génio deste guarda-roupa é impossível de ignorar, criando uma visão que ultrapassa normais noções de realismo cinemático e alcança algo muito mais desconfortável, inovador, e sem possível comparação no panorama do cinema de 2015.
Mais nenhum guarda-roupa histórico alcança o que este consegue, pelo menos este ano, pegando na mera ideia de verismo e transportando-a para um patamar que desafia as convenções e quase agride a audiência com a sua grotesca genialidade.
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