TOP Filmes 2016 | 4. Ela

O insólito exercício Paul Verhoeven é uma das mais requintadas provocações cinematográficas do ano.


<< 5. O Caso Spotlight | 3. Carol >>


Depois da homenagem no IndieLisboa’16, — e de certo modo da sua recente recuperação no universo da crítica de cinema mais exigente — o cineasta holandês Paul Verhoeven, fechou a competição do Festival de Cannes’16 e prepara-se para ser o presidente do júri da Berlinale’17. Pode-se mesmo dizer que mudam-se os tempos mudam-se as vontades. Ela, o seu último filme é indiscutivelmente um dos melhores do ano, que aparece destacado nas listas mais improváveis dos grandes defensores do cinema de autor.

elle-isabelle-huppert-image-5

Lê também: Sight and Sound revela a sua lista dos melhores do ano

Trata-se de um misterioso retrato de uma mulher, de verdadeiro mosaico social de perversidades, e sem dúvida de um poderoso thriller psicológico com o Isabelle Huppert, novamente a carregar — lembram-se de A Pianista???— um arriscado papel de violência, sadismo e duplicidade. Dir-se-ia que Ela é uma espécie de antologia afrancesada no melhor dos sentidos do realizador holandês: herda muito das figuras femininas dos seus Instinto Fatal (Sharon Stone), Showgirls (Elizabeth Berkley) ou O Livro Negro (Carice Van Houten), combinadas com um certo savoir-faire e refinamento dos thrillers psicológicos de François Truffaut, Claude Chabrol, André Techiné ou mesmo de Michael Haneke.

Filmado com duas câmeras digitais em simultâneo, cada plano de Ela é construído de uma forma soberba, de forma a transmitir uma certa ambiguidade e perversão e ao mesmo tempo uma série de sensações diversas que oscilam entre o suspense, a violência formal e a farsa burlesca. Paul Verhoeven não se esquiva a nada e vai aos limites, mostrando várias vezes por exemplo, a tentativa de violação desta mulher activa habituada a dominar e que se vê subjugada pelo desconhecido, sem nada poder fazer.

elle_06_rgb-0-2000-0-1125-crop

Lê ainda: Elle, em análise

O realizador de Instinto Fatal, questiona novamente até que ponto chegam os limites morais da nossa sociedade, sempre com aquele seu jeito moderno de ir mais longe que os outros cineastas da sua geração, seja na Europa seja em Hollywood. Isabele Huppert é simplesmente fabulosa no papel da fria Michele, ao lado de um grupo de actores franceses improváveis, num filme desta natureza e afinal sem um género preciso, onde se destacam: Laurent Laffite, Virginie Efira e Anne Consigny.

Ela é filme essencial para a cinematografia contemporânea e uma delícia para todos os que sempre admiraram este cineasta-autor global chamado Paul Verhoeven, que em tempos foi acusado de ’comercialão’. Arriscavamos a dizer que pela carreira nas bilheteiras — que convêm ter sempre em conta nestas coisas — e pela interpretação de Isabelle Huppert pode estar aqui uma nomeação para os Óscares 2017: Melhor Atriz – já que, infelizmente sabemos à partida que o filme não transitou para a shortlist final dos Melhores Filmes Estrangeiros.


<< 5. O Caso Spotlight | 3. Carol >>


 

3 thoughts on “TOP Filmes 2016 | 4. Ela

  • Showgirls não tem Demi Moore no elenco. O filme seria Striptease, mas este não é de Paul Verhoeven. O ideal seria retificar esta pequena gralha.

  • Paulo, tem toda a razão. Vamos retificar asap – muitíssimo obrigada pela correção.

  • Muito bem…esta memória às vezes falha! Já está corrigido, com as minhas desculpas ao Paulo Mendes e a todos leitores. Infelizmente ‘Ela’, também não integra a shortlist dos candidatos à nomeação a Melhor Filme em Língua Estrangeira. No entanto penso que Isabelle Huppert continua a ser uma forte candidata a Melhor Actriz.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *