Top guarda-roupas da TV | 01. Mad Men

Em 2015, foram exibidos os últimos episódios de Mad Men e a série de Matthew Weiner voltou a provar a sua mestria visual, demonstrando o melhor guarda-roupa do passado ano televisivo, da autoria da genial figurinista Janie Bryant.

 

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O centro de Mad Men sempre foi a narrativa de Don Draper, e, por seu lado, ele sempre foi uma personagem que funcionou como uma metáfora para a América da época retratada em Mad Men. Na transição dos tumultuosos anos 60 para a década de 70, vemos a personagem de Jon Hamm passar de uma figura, reminiscente de uma estrela de cinema, sempre impecavelmente vestido em fatos conservadores em tons de cinza, para um visual de vagabundo sem rumo. Das fachadas idealizadas que marcaram o início da série, passamos a uma fogosa insegurança visual.

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Tão marcante como os andrajos de ganga que marcam o primeiro vislumbre de Don no derradeiro episódio da série, foi, por exemplo, a camisa azul que ele enverga no primeiro episódio de 2015. Para alguém que sempre foi caracterizado pela sua aversão a qualquer tipo de mudança pessoal ou visual, estas escolhas de vestuário são uma formidável indicação da cataclísmica viagem de autodescoberta que Don Draper faz nestes sete derradeiros capítulos da série.

No entanto, no seu momento final, num toque de genial acidez e ligeira misantropia, Weiner revela como qualquer epifania e libertação pessoal foi apenas mais um veículo que levou este génio da publicidade aos seus velhos hábitos e ao sucesso comercial. Como tal, o seu figurino final mostra isso mesmo e uma simples camisa branca, mais próxima de uma peça para se vestir num escritório que num retiro espiritual, torna-se na mais espetacular peça de vestuário na televisão mundial no ano de 2015.

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Mas uma série tão complexa como Mad Men não se reduz apenas a uma narrativa individual e como tal, também a genialidade do seu guarda-roupa transcende a personagem de Don Draper. Um dos melhores aspetos da série sempre foi, por exemplo, o modo como criou um exímio retrato de uma América em revolução de costumes, valores e ideias, algo que sempre se espelhou nas roupas utilizadas pela população, algo que poucas vezes na história da televisão, ou mesmo do cinema, foi retratado com tal mestria visual e inteligência estilística.

Peggy, a personagem de Elisabeth Moss, é uma das figuras que mais se alterou desde que o primeiro episódio foi exibido em 2007. Nestes últimos episódios vemos a mulher que outrora foi uma recatada e insegura rapariga católica, a mostrar como se tem tornado a equivalente feminina à figura de sucesso que Don era no início da primeira temporada. A entrada de Peggy nos seus novos escritórios é uma das mais memoráveis imagens que a série alguma vez produziu, rica em irreverência e impetuoso estilo.

Outra mulher a sofrer uma importante evolução no seu estilo foi Joan, se bem que esta transformação foi infinitamente mais subtil. Depois de ter passado anos a vestir o estilo provocador e antiquado dos sex symbols dos anos 50, Joan acabou a série com uma convicção reforçada na sua ambição profissional que se manifestou nas suas roupas, pontuadas por golas e punhos que referenciam fatos masculinos, joias que são usadas mais como símbolos de poder económico do que como meros adornos e uma maturidade notória na sua apresentação. É claro que pelo caminho ainda tivemos direito a ver Joan num delicioso e sensual vestido de inspirações asiáticas.

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Christina Hendricks as Joan Harris - Mad Men _ Season 7B, Episode 14 - Photo Credit: Michael Yarish/AMC

Betty, sempre fossilizada num estilo vagamente conservador e muito apegado aos valores da América de outros tempos, foi a personagem com o final mais trágico da série. No entanto, até ao fim ela permaneceu a gélida figura de elegância clássica que sempre foi, com impecável cabelo lacado e elegante joalharia a lhe complementar o visual. Na sua perfeição imaculada, contudo, encontra-se a tragédia da sua resiliência face ao seu inevitável fim.

A Don e estas três mulheres junta-se um vasto elenco de personagens precisamente vestidas, como Sally Draper e o seu surpreendente conservadorismo face às suas amigas da mesma idade ou o charme de Roger Sterling, ou a pura ambição social refletida no vestuário de Pete Campbell e da sua família.

Explorar as complexidades do guarda-roupa que Janie Bryant concebeu para Mad Men daria material suficiente para vários livros, explorando elementos que vão desde a cuidada definição de cada narrativa individual, ao uso de cor e padrão como métodos de definir comunidades, unir personagens ao seu espaço, ou isolar figuras humanas mesmo entre multidões. Enfim, simplesmente se terá de dizer que Mad Men foi um milagre televisivo no que diz respeito aos seus figurinos e que a televisão internacional ficou um pouco mais pobre desde que a série terminou.


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