Vingadores: Endgame | © NOS Audiovisuais

Vingadores: Endgame, em análise

Vingadores: Endgame” é um épico grandioso e o clímax apocalíptico do Marvel Cinematic Universe que nos é prometido há anos. Não querendo revelar demasiados spoilers, vamos tentar ser vagos, mas, se preferes ir ver o filme sem qualquer ideia da sua estrutura ou temas, é melhor só leres esta crítica quando voltares do cinema.

Tudo começou em 2008, quando o produtor Kevin Feige trouxe “Homem de Ferro” aos cinemas e provou que a sua ideia de um universo cinemático da Marvel era viável. Mais de 20 filmes depois, cerca de 50 horas de cinema, o MCU chega a uma bombástica conclusão. Não se trata do último filme da Marvel Studios ou mesmo do último projeto nesta fase do universo cinemático, mas é uma irrevogável conclusão e traz consigo todo o peso, toda a emoção e catarse que essa ideia carrega. Se nunca mais se fizesse um único filme assim, “Vingadores: Endgame” seria um justo final, não só para este particular franchise como para toda a uma era de cinema que nasceu no berço do século XXI com a hegemonia popular e comercial dos filmes de super-heróis.

A história do novo filme começa imediatamente no rescaldo do capítulo mais negro da saga, depois de Thanos ter estalado os dedos e aniquilado metade dos seres vivos do Universo. Ou melhor, “Vingadores: Endgame” começa no momento do cataclisma. Desta vez, contudo, ao invés do campo de batalha de “Guerra do Infinito”, o cenário é um piquenique familiar. Trata-se de uma cena de domesticidade em que Clint Barton, também conhecido como Hawkeye, ensina a filha a manejar o arco e flecha. Por momentos, ele vira as costas, e, quando volta a olhar para a menina, só encontra farrapos de cinza a dissiparem-se no ar. O burburinho da esposa e seus outros filhos também sumiu, deixando para trás um silêncio sepulcral.

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Um filme sobre dor, sobre perda, sobre lutar até ao fim por aquilo e aqueles que amamos.

No filme anterior dos Vingadores, a vitória de Thanos foi-nos mostrada como um choque diabólico, mas não houve tempo para respirar e ponderar a perda. “Endgame” passa o primeiro de três atos narrativos a examinar isso mesmo. A Morte não é uma personagem na versão cinematográfica desta história, ao contrário do que acontece na banda-desenhada, mas a sua presença é tão ou mais palpável. Não há nada ou ninguém que não tenha sido afetado pelo vazio que ficou onde antes estavam inúmeras vidas. Heróis e pessoas vulgares são todos vítimas e só podem tentar resistir ao desespero, superar as cicatrizes emocionais que os consomem.

Por momentos, há um rasgo de esperança, mas também essa esperança é levada pela Morte. Noutras ocasiões e contextos, incluindo outros filmes do MCU, tal condição poderia ser somente mais um mecanismo do enredo. No entanto, os cineastas por detrás de “Vingadores: Endgame” sabem capitalizar no investimento emocional que as audiências têm vindo a fazer ao longo de todos estes anos. Tal como nós, as personagens em cena têm crescido e temos visto isso acontecer, temos testemunhado o desenrolar aventuroso das suas vidas, os momentos de maior glória, de maior dor. Sem nos apercebermos, esculpimos lugar no nosso coração para estes heróis fictícios.

Críticos e espectadores menos generosos poderão ver aqui sentimentalismos desnecessários, mas a Marvel teve a inteligência e maturidade de entender o valor do sentimentalismo, de entender a sua necessidade. Uma batalha só é verdadeiramente emocionante quando estamos cientes do que está em risco. É por isso que “O Senhor dos Anéis” passa quase uma hora a preparar o espectador para os seus maiores espetáculos de guerra. É por isso que a última temporada de “Game of Thrones” dedica um episódio inteiro às personagens que ponderam a sua mortalidade antes da batalha contra os exércitos dos Mortos. O sentimento é essencial e “Vingadores: Endgame” é uma obra-prima de sentimento como combustível para uma narrativa épica de ação.

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Como já dissemos, não queremos revelar muitos spoilers, mas toda esta dinâmica emocional se manifesta ao longo dos três atos e epílogo do filme, indo-se transformando por uma série de variações cuidadas. Primeiro entendemos a dor da perda, depois testemunhamos as personagens a triunfar momentaneamente, superando essa mesma perda em nome de uma causa maior. Neste segundo ato, “Vingadores: Endgame” usa o mecanismo de viagens no tempo para revisitar realidades bem conhecidas dos fãs deste franchise e trazer ao de cima os temas principais desta particular história – o valor da família, o poder do sacrifício e como, quando o que está em causa é tudo o que amamos, lutar até ao fim é a única hipótese.

Tudo isto culmina no clímax bélico. Aí, é como se o MCU explodisse sobre si mesmo, com personagens a aparecerem a torto e a direito, com a iconografia dos heróis que tanto amamos a chegar à sua máxima apoteose, com todos os fios narrativos a se entrelaçarem de modo a fechar o arco de quase todos os enredos e subenredos em desenvolvimento desde 2008. A ambição do projeto é tão descomunal que é inevitável que emerjam algumas incoerências e inconsistências, que certos gestos narrativos funcionem melhor que outros. “Vingadores: Endgame” está longe de ser perfeito. Apesar disso, as suas fragilidades são ofuscadas pela emoção que insufla o coração do espectador em consequência de tudo o que o filme faz corretamente.

De modo bem sagaz, os irmãos Russo, que já realizaram outros três projetos do MCU, até sabem usar alguns dos problemas que têm vindo a ser infelizes constantes deste franchise. A ação caótica e mal coreografada, saturada por efeitos digitais, costuma ser um ponto fraco da Marvel, mas aqui, num momento específico do clímax, o filme parece exacerbar esse mesmo mecanismo para telegrafar quão desamparadas as personagens estão. Aliás, esta é a melhor e a maior batalha que o MCU já apresentou, mesmo que não seja a melhor cena de ação. Nesse aspeto, “O Soldado de Inverno” e “Os Vingadores” continuam insuperáveis.

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Há 11 anos que nos vimos a afeiçoar a estas personagens. Agora, testemunhamos a sua maior batalha de sempre.

Outro elemento que faz com que“Os Vingadores: Endgame” se eleve acima de quase todos os outros filmes dos estúdios Marvel é o trabalho de ator. Isso é uma clara consequência da capitalização emocional que o filme faz no desenvolvimento das personagens ao longo dos últimos 11 anos. De facto, tirando os seis Vingadores principais, nenhuma personagem tem direito a uma introdução decente e o espectador é completamente dependente do conhecimento que tem de obras anteriores. Nesse sentido, este é um filme que não consegue viver só por si, só pelos seus méritos próprios. Enfim, esperar ter uma obra contida e funcional fora do contexto dos outros 21 filmes da Marvel é algo um tanto ou quanto injustificável neste caso.

Voltando a falar dos atores, Chris Evans nunca foi tão bom no papel de Capitão América e aqui consegue dar coerência a todas as tonalidades díspares que são contidas na sua figura. Robert Downey Jr. é ainda melhor, mesmo que não tenha tantas oportunidades de mostrar a sua flexibilidade interpretativa como outrora. Por seu lado, Scarlett Johansson e Karen Gillan oferecem, sem exageros, duas das melhores performances do MCU, minando as personagens e sua longa história para trazer um nível inesperado de causticidade e peso ao drama. Chris Hemsworth volta ainda a provar que é o melhor comediante deste franchise. No fim, queremos quase aplaudir os seus esforços. “Vingadores: Endgame” é um filme que nos faz querer rebentar em aplausos, lágrimas e gargalhadas. Em suma, uma salva de palmas ao MCU e aos Vingadores, que nem sempre nos deram grande cinema, mas sempre nos deram grande entretenimento e, pelo que parece, assim vão continuar a fazer.

Vingadores: Endgame, em análise
Vingadores Endgame

Movie title: Avengers: Endgame

Date published: 25 de April de 2019

Director(s): Anthony Russo, Joe Russo

Actor(s): Robert Downey Jr., Chris Evans, Jeremy Renner, Scarlett Johansson, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Karen Gillan, Don Cheadle, Paul Rudd, Bradley Cooper, Brie Larson, Danai Gurira, Josh Brolin, Chadwick Boseman, Tom Holland, Zoe Saldana, Evangeline Lily, Gwyneth Paltrow, Tessa Thompson, Rene Russo, Elizabeth Olsen, Anthony Mackie, Sebastian Stan, Tom Hiddleston, Benedict Wong, Benedict Cumberbatch, Tilda Swinton, Pom Klementieff, Dave Bautista, Letitia Wright, John Slattery, Jon Favreau, Hayley Atwell, Natalie Portman, Marisa Tomei, Taika Waititi, Angela Bassett, Michael Douglas, Michelle Pfeiffer, William Hurt, Cobie Smulders, Sean Gunn, Winston Duke, Linda Cardellini, Frank Grillo, Hiroyuki Sanada, Jams D'Arcy, Vin Diesel, Robert Redford, Chris Pratt, Samuel L. Jackson, Yvette Nicole Brown, Carrie Coon, Ken Jeong, Katherine Langford, Stan Lee

Genre: Ação, Aventura, Fantasia, 2019, 181 min

  • Cláudio Alves - 80
  • Fábio Pinto - 80
  • Rui Ribeiro - 85
  • Catarina d'Oliveira - 80
  • Maria João Bilro - 67
  • Luís Telles do Amaral - 69
  • João Fernandes - 95
  • Virgílio Jesus - 35
  • Catarina Fernandes - 96
  • Marta Kong Nunes - 90
  • Daniel Rodrigues - 70
77

CONCLUSÃO:

Por entre um enredo rebuscado e uma avalanche de efeitos especiais estrondosos, “Vingadores: Endgame” é, na sua essência, uma carta de amor às personagens que o MCU tem vindo a desenvolver ao longo de 22 filmes. É um projeto que não tem medo de sentimentalismo, que rejeita a ironia e celebra a sinceridade e, por isso, consegue ser mais avassalador do que mesmo os fãs mais devotos podiam esperar. O elenco está em topo de forma e as mais valias do filme tendem a ofuscar os seus maiores problemas.

O MELHOR: O impacto emocional é a chave para o triunfo deste capítulo apocalíptico na história dos heróis da Marvel. Há que respeitar, em particular, como o argumento dedica um terço do filme ao estabelecer da realidade psicológica das suas personagens e à ilustração das consequências da perda, tanto no início como no fim da história.

O PIOR: As incoerências na lógica interna das viagens no tempo, o modo como é impossível saber o que está a acontecer sem o contexto dos filmes anteriores, a duração cansativamente enorme. Além disso, há que se apreciar como o MCU caiu no mesmo problema que franchises e sagas como os filmes “X-Men” e “O Senhor dos Anéis” também já sofreram. Referimo-nos ao facto de que todos esses projetos têm uma personagem tão absurdamente poderosa que é necessário incapacitar a figura ou afastá-la da narrativa principal para que haja conflito e obstáculos difíceis de superar para os restantes heróis. Como dissemos, o filme está longe de ser perfeito. Muito longe.

CA

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Comments Rating 4 (2 reviews)

2 Comments

  1. Frederico Daniel 6 de Maio de 2019
  2. Vasco Patrício 6 de Maio de 2019

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