Vivo, em análise
“Vivo” chegou à Netflix no verão de 2021. Em busca de um filme para ver com toda a família, e na sequência das saudades da música de Lin-Manuel Miranda, alguns meses depois do lançamento de “Ao Ritmo de Washington Heights” e da versão filmada da peça “Hamilton”, eis que vemos “Vivo” para descobrir uma vez mais o poder das suas composições musicais.
A Netflix apresenta, em conjunto com a Sony Picture Animations o primeiro musical animado da casa que nos trouxe o sucesso crítico e junto do público de “Homem-Aranha: No Universo Aranha”. Esta aventura animada conta com as músicas originais do também protagonista Lin-Manuel Miranda (“Hamilton”, “Ao Ritmo de Washington Heights”) que, neste setting latino, pode dar asas à sua musicalidade característica, numa fusão muito própria entre hip-hop e ritmos urbanos, música latina e sonoridades próprias do género musical. Uma vez mais, aliás, o seu cunho é inegável e reconhecível desde o número de abertura.
Esta não é de todo a primeira banda-sonora de um filme de animação criada por Miranda, que no passado contribuir para a criação da sonoridade marcante de “Moana” e que, proximamente, cria também as músicas de “Encanto”, da Disney. Contudo, em “Vivo” Lin-Manuel Miranda não cria apenas a música; à semelhança do que aconteceu com os seus musicais da Broadway, é também o intérprete. Em “Vivo” dá vida (ou antes, voz) à personagem titular, um quincaju – um pequeno animal exótico – com um talento especial para a música.
Vivo partirá numa jornada de Cuba até aos Estados Unidos da América depois do seu salvador e melhor amigo, o humano Andrés (Juan de Marcos González) falecer inesperadamente no seu sono. A grande missão de Vivo será entregar a Marta Sandoval (com voz da grande estrela latina Gloria Estefan), em Miami, a música que Andrés criou para ela quando foram, no passado, uma dupla musical proeminente em Cuba, antes de Marta se mudar para os EUA e se tornar uma grande estrela a solo.
O filme começa com Andrés ainda vivo e arriscamos defender que as melhores cenas são mesmo essas, antes da separação dos dois amigos. Andrés e Vivo não falam a mesma língua, mas têm um entendimento profundo que vem da sua musicalidade. Aqui se encontra a relação mais especial e singular de todo o filme, com dinâmicas muito próprias e que não serão reprodutíveis posteriormente. Que o diga o primeiro número musical, que abre o filme, e que é possivelmente o mais forte entre os vários presentes nesta fita.
A morte de Andrés precipita, logo no início da longa-metragem, a oportunidade para um momento emotivo sincero e sentido, que resulta. Agora, o pequeno animal exótico abandonará a sua querida rotina, a de tocar para um grande público, juntamente com Andrés, numa praça central e animada de Cuba. Quando Vivo encontras sobrinhas norte-americanas de Andrés numa vigília em seu nome, surge a oportunidade perfeita para se deslocar até aos Estados Unidos, de forma a conseguir entregar a Marta a tão importante música que Andrés lhe dedicou e que prova o amor que ele nunca ousou a declarar.
Contudo, a partir do momento em que Vivo abandona a sua terra natal, as músicas, ao bom jeito de Miami, adaptam-se e assumem uma batida mais techno e jovem, a qual acaba por tornar a musicalidade do filme mais animada mas, em último caso, menos bela. E apesar da pequena Gabi (Ynairaly Simo) ser uma engraçada e auto-determinada pré-adolescente, a verdade é que a sua relação com Vivo nunca se torna tão marcante como a que existia entre o pequeno animal e o seu Mestre Andrés, o “par perfeito”.
Algo perdido no centro da narrativa, “Vivo” apresenta algumas perseguições na floresta que parecem ser um mero “encher chouriços” entre a premissa inicial e a sua concretização. Aliás. é seguro dizer que estas aventuras apenas interessarão aos mais jovens, uma vez que a carga emotiva fica um pouco em segundo plano e não existem referências ou momentos que alimentem duplos significados ou interpretações distintas entre pequenos e graúdos (como acontece no caso dos filmes Pixar, Warner Bros. Animations ou até com algumas obras Disney mais recentes).
Realizado no estilo de animação 3D mais banal e comum atualmente, a animação brilha quando assume, para narrações situadas no passado ou para alguns dos momentos musicais, uma animação 2D mais simples e também mais brilhante e bela. Embora imperfeito, “Vivo” é um filme de animação com bastante coração e alguns trunfos na manga, na forma de um protagonista central carismático e algumas músicas memoráveis – com destaque para os temas que abrem e fecham o filme e ainda para a canção tão aguardada, cantada pelo astro Gloria Estefan.
TRAILER | VIVO ENCONTRA-SE DISPONÍVEL NA NETFLIX PORTUGAL E É UM FILME PARA VER EM FAMÍLIA
Vivo, em análise
Movie title: Vivo
Movie description: Um quincaju com talento para a música parte numa viagem única para cumprir o seu destino e entregar uma canção ao grande amor do seu dono.
Date published: 30 de October de 2021
Country: EUA
Duration: 99'
Director(s): Kirk DeMicco
Actor(s): Lin-Manuel Miranda, Zoe Saldana, Gloria Estefan
Genre: Animação, Comédia, Aventura, Musical
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Maggie Silva - 70
Conclusão
“Vivo” é uma aventura animada para ver em família. Embora pouco surpreendente e algo massacrada por algumas cenas sem grande pujança emocional, especialmente a meio caminho entre a premissa e a sua conclusão, o filme redime-se através da banda-sonora criada e interpretada por Lin-Manuel Miranda (“Hamilton”, “Ao Ritmo de Washington Heights”)
Pros
- A voz e caneta emprestada por Lin-Manuel Miranda, a qual dita, desde o primeiro momento, a identidade latina orgulhosa da banda sonora.
- A proposta de oscilação entre animação digital e animação tradicional, a segunda reservada a momentos de narração de eventos passados.
- A ligação emocional entre o nosso pequeno herói e o homem que o criou – a emotividade do filme depende inteiramente desta relação inicial que se estabelece com sucesso.
Cons
- Não há de todo música suficiente ao longo da obra, as músicas são curtas e em número insuficiente.
- A certa altura, a meio da narrativa, a acção torna-se cansativa e enrolada.