TOP Filmes 2015 by MHD | 8. Whiplash

 

<<  9. A Ponte dos Espiões  |   7. Perdido em Marte >>

 

Whiplash é adrenalina cinematográfica pura. Mais tenso do que um thriller de ação, o drama (ou tragédia?) musical de Chazelle tem vida a ser bombeada em todas as suas artérias.

 

Diz a teoria que o diamante é um pedaço de carvão que se deu bem sobre pressão, e talvez não existe melhor analogia para introduzir a sensação de Sundance e o mais recente filme de Damien Chazelle.

O tema direto da relação estudante-mentor é fascinante o suficiente – para trás das costas ficam os discursos inspiradores de John Keating no “Clube dos Poetas Mortos” (1989), porque Fletcher foi nascido e criado no universo de “Nascido para Matar” (1987) – mas o realizador americano transfigura-o num comentário social sobre a sobrevivência num mundo impiedoso, sempre pronto a puxar o tapete por debaixo dos nossos pés. E na nossa era, a das medalhas de honra, diplomas de participação e palmadinhas nas costas, não viveremos todos os dias o perigo do “bom trabalho” que refere o castrador Fletcher? A abordagem pode e deve ser questionada – levantando o véu sobre o tratamento abusivo entre professores e alunos – mas o tema polémico da pressão e dedicação não é, no fundo, de discussão necessária para o verdadeiro sucesso? A posição do filme é deliciosamente ambivalente.

 

Lê Também: Whiplash, em análise

 

Com interpretações notáveis de J.K. Simmons (com uma abrangência notável entre o “mentor porreiro” e o sociopata inflexível) e Milles Teller, Whiplash é uma assustadora exploração da génese criativa, um triunfante ensaio sobre o crescimento mas também, e sobretudo, uma indagação perversa, desconcertante e invertida sobre o trabalho do génio e a escadaria para o reconhecimento máximo. As suas conclusões são perturbadoras e fascinantes, colocando a questão de que, por vezes, os meios justificam os fins, elevando os bons a excecionais, e os comuns mortais a lendas.

Acabamos a escorrer ansiedade, a acertar o ritmo do coração e a digerir uma das combinações máximas da sétima (e da primeira) arte da última década.

O jazz não está morto. E o Cinema também não.

<<  9. A Ponte dos Espiões  |  7. Perdido em Marte >>

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *