Alice do Outro Lado do Espelho | As modas do País das Maravilhas

Duas rainhas antagónicas, um chapeleiro enlouquecido e o Tempo são algumas das coloridas personagens que Colleen Atwood teve a responsabilidade de vestir em Alice do Outro Lado do Espelho.

 


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Por muito fascinante e colorido que seja o guarda-roupa da personagem titular, o visual de Alice do Outro Lado do Espelho nunca estaria completo sem as exuberantes criações de Collen Atwood para as personagens que habitam o País das Maravilhas. Tal como foi explicado anteriormente, a figurinista continuou na mesma linha estética do primeiro filme, onde o exagero, o kitsch e a perspetiva infantil andam sempre de mãos dadas, mas nesta nova aventura, Atwood usou referências históricas de modo mais enfático, obtendo um visual ligeiramente mais sóbrio e menos indisciplinado que o da anterior aventura de Alice.


 

O CHAPELEIRO LOUCO

Alice do Outro Lado do Espelho

No centro narrativo de Alice do Outro Lado do Espelho está a figura do Chapeleiro Louco interpretado, de novo, por Johnny Depp. Neste filme começamos por encontrar a ensandecida personagem num estado de depressão, pelo que os exuberantes trajes do filme anterior estão ausentes e em seu lugar temos uma imagem de sobriedade completamente incongruente com a criação de Depp neste papel. Tal como o argumento indica, o Chapeleiro está a desvanecer e seus figurinos vão-se esvaindo de cor em concordância com o seu estado, chegando a uma estética desconcertante e conservadoramente vitoriana.

Alice do Outro Lado do Espelho

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No entanto, graças às viagens no tempo que caracterizam tanto desta nova aventura pelo País das Maravilhas, conseguimos vislumbrar o passado do chapeleiro, onde o vemos de novo no figurino colorido do primeiro filme, aqui ainda novo em folha e sem marcas da passagem do tempo. As suas cores garridas, padrões loucos e exuberância de detalhes fazem dele um grande contraste visual com a sua família que se veste numa versão fantasiosa de moda vitoriana, com apenas o seu gosto por cartolas de formas exageradas a os demarcarem como habitantes deste mundo de magia e irracionalidade. Aliás, apenas quando vemos o chapeleiro em criança é que ele parece estar visualmente integrado na sua família, e não uma descarada ovelha negra.

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Mais à frente na narrativa, o chapeleiro revitalizado volta a envergar roupas exuberantes e coloridas. No filme anterior ele usou um kilt como vestimenta de batalha para o clímax, mas desta vez parece que a sua inspiração foi mais colonialista que escocesa, sendo que ele parece aqui uma visão fantasiosa de um explorador britânico, outra referência visual importante que delineia as aventuras de Alice como uma peça de imagética singularmente inglesa.

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AS DUAS RAINHAS

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Tal como o chapeleiro se apresenta como uma espécie de subversão infantil de imagens intrínsecas à cultura e história britânica, também as monarcas do País das Maravilhas o são. Neste caso não é tanto a moda vitoriana que marca presença, mas sim elementos isabelinos filtrados através de uma perspetiva romântica e sonhadora, pelo menos no caso da Rainha Branca.

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A personagem de Anne Hathaway volta a passar quase todo o filme no seu usual vestido branco do filme anterior mas, aquando de um dos vários decursos narrativos ao passado, vemo-la na sua juventude e até na infância. Como uma jovem, as suas roupas apresentam mais detalhe e confusão visual, ainda não possuindo a brancura virginal do presente. Isto unia visualmente à irmã que ainda não era o cartoon de realeza despótica que se viria a tornar. Na infância essa ligação é ainda mais acentuada, com as duas irmãs a se vestirem praticamente de igual com vestidos que parecem uma peculiar e abonecada versão vitoriana de algumas modas do século XVI.

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Se no passado, os figurinos das duas irmãs se vão gradualmente assemelhando como ilustração da sua união em crescente deterioração, no presente da narrativa o seu conflito acentuou-se ainda mais em relação ao filme anterior. Se Hathaway é uma visão de pura brancura, A Rainha Vermelha de Helena Bonham Carter parece ter trocado os vermelhos e dourados do primeiro filme por preto e verdes doentios. Os seus corações são eventualmente substituídos por ameaçadores motivos vegetalistas como que numa reflexão do seu novo palácio e corte, que são claramente inspirados nas pinturas de Giuseppe Arcimboldo. Isto é especialmente notório no seu derradeiro figurino onde a Rainha enverga calças tal como Alice, numa nota visual que talvez demonstre quão as duas personagens obcecadas com perdas do passado têm em comum.

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O TEMPO

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O novo interesse romântico da Rainha Vermelha é o Tempo, uma personificação mágica desse conceito abstrato que é aqui interpretado por Sascha Baron Cohen. Na verdade, para além de Alice, o Tempo é a personagem mais fulcral à narrativa de Alice do Outro Lado do Espelho, afirmando-se primeiro como uma personagem antagónica antes de se tornar uma presença quase heroica. Apesar desta evolução, no entanto, o seu figurino é uma constante, apresentando os mesmos traços pseudo renascentistas que marcam muitos dos figurinos do País das Maravilhas, mas com um exagero de proporções que reflete as ensandecidas volumetrias do seu castelo gótico. Aliás, os próprios pórticos e arcadas do edifício são feitas à imagem exuberante e levemente ridícula deste Tempo, uma imagem de simultânea magnificência sobrenatural e leve humor.

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