Alice do Outro Lado do Espelho | O guarda-roupa de Alice
Mia Wasikoska é uma colorida visão de louca exuberância estilística no papel titular Alice do Outro Lado do Espelho, com figurinos de Colleen Atwood.
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Se há algo que caracteriza a personagem de Alice, a protagonista de Alice do Outro Lado do Espelho, é a sua invariável posição enquanto peixe fora de água, tanto na sociedade da Inglaterra vitoriana, como no mundo fantasioso do País das Maravilhas. A única ocasião, aliás, em que vemos a personagem num ambiente que parece estar inteiramente em harmonia com a sua personalidade, é na abertura deste novo filme, quando Alice nos aparece como a destemida capitã de um navio numa missão de exploração em territórios orientais. Aí, ela enverga um uniforme de inspiração militar, em cores vivas e prático design, com calças e sobrecasaca masculina numa completa recusa de ideias vitorianos de feminilidade passiva.
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Quem realmente se mostra como um inicial exemplo deste mesmo ideal de uma mulher comedida e conservadora é a sua mãe, interpretada pela maravilhosa Lindsay Duncan. Enquanto Alice veste roupas de traços masculinos em cores que se destacam por entre os ambientes cinzentos e castanhos da Londres oitocentista, sua mãe quase que se desvanece no seu ambiente, com discretas indumentárias em tonalidades escuras.
O conflito entre as duas mulheres, um dos grandes alicerces temáticos e emocionais do filme, ganha sua máxima apoteose visual quando as duas vão a uma festa na casa do homem cuja proposta de casamento, no filme anterior, Alice havia invariavelmente recusado. Enquanto a mãe veste um discreto vestido decorado com renda e de silhueta típica para a época, Alice apresenta-se numa visão louca de pseudo chinoiserie.
Pouco há de histórico ou culturalmente fidedigno neste traje supostamente chinês, mas o impacto visual é inegável, Num oceano de respeitáveis fraques pretos e vestidos modestos, Alice é uma explosão de cor, com o azul a voltar como sua cor de marca, desta vez numa tonalidade rica e mais escura que no filme de 2010. No entanto, ainda mais chocante que a cor ou a exuberante gola dourada é mesmo o facto de novamente a nossa protagonista se exibir de calças, um faux pas social de incomensurável provocação para os círculos sociais em que ela e sua mãe se inserem.
Eventualmente, como seria de esperar, Alice atravessa um espelho e depara-se novamente no país das Maravilhas onde, curiosamente, continua a ser um peixe fora de água. Tal como no filme anterior, as suas aventuras vão mostrando o seu impacto com a gradual deterioração e modificação do fato original, mas as claras inspirações orientais deste figurino pouco ou nada têm que ver com as fantasias que vestem o elenco deste mundo mágico.
Só depois de um turbulento retorno temporário a Inglaterra e seus sufocantes códigos sociais, é que Alice aparece vestida com um traje fantasioso do País das Maravilhas, mas mesmo aí, a sua atitude rebelde é evidente nos traços masculinos da sua indumentária. Ela volta a usar calças, desta vez com um corte quase reminiscente de calças de harém, assim como um colete que recorda seu uniforme náutico e uma blusa completa com um lenço atado como uma gravata.
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Nesta evolução dos figurinos de Alice, Colleen Atwood, talvez mais ainda que o texto ou a atriz, telegrafou a gradual evolução da protagonista de Alice do Outro Lado do Espelho, onde uma heroína sonhadora é tida como uma outsider em ambos os mundos que habita, estando apenas realmente confortável no seu navio, sua ligação a uma filosofia de vida que toma como mote o constante desafio do impossível. Tais temas podem ser clichés, mas há algo de belo em os ver traduzidos na aparência de uma jovem mulher e sua discordância visual com aqueles que a rodeiam até um momento final de paz familiar e esperança por um futuro risonho e cheio de aventuras.
Na próxima página encontrarás a análise de alguns dos mais loucos figurinos dos habitantes do País das Maravilhas, incluindo os trajes do Chapeleiro Louco de Johnny Depp.
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