Carol | O guarda-roupa de Therese Belivet

 

Em Carol, Rooney Mara aparece vestida como uma Audrey Hepburn renascida, com figurinos que salientam tanto a sua modesta elegância como a sua juventude.

 

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Na construção do guarda-roupa de Therese Belivet, Sandy Powell procurou peças em cores escuras, em contraste com a ligeira e pálida elegância de Carol Aird, e que servissem de um fácil guia visual para a condição económica da personagem. Therese está longe de viver no luxo de Carol e as suas simples e não muito dispendiosas roupas refletem essa mesma distância financeira e social.

Outra diferença entre as duas mulheres deriva da sua idade. Carol é uma mulher que se conhece a si mesma, que tem segurança na sua apresentação e que tem um gosto sofisticado desenvolvido ao longo dos anos. Therese, por outro lado, está ainda na flor da juventude, num processo de auto descoberta, não tendo a segurança ou confiança da sua coprotagonista. Há uma fabulosa precisão no modo como Powell desenha esta personagem para quem a sua aparência pouco parece importar, e para quem a imagem de si mesma é ainda uma confusa indefinição.

Carol

Aliás, a única ocasião em que realmente vislumbramos uma preocupação de Therese com o seu visual é quando esta é forçada a usar um chapéu de Pai Natal durante a sequência em que as duas mulheres primeiro se conhecem. Teria sido fácil para Sandy Powell criar nesse mesmo chapéu uma feia imagem de opressão corporativa, mas ao criar uma peça num rico bordeaux e materiais ricos, a figurinista fez algo talvez não tão narrativamente justificável, mas infinitamente mais inesperado e belo. Therese pode sentir-se desconfortável com o seu caricato chapéu, mas há algo de belo na sua figura, de discretamente elegante. Quando Carol expressa o seu gosto por esse mesmo acessório, é fácil uma audiência perceber o seu charme.

Carol

Para os figurinos de Cate Blanchett, Sandy Powell utilizou como referência as revistas de moda da época, procurando um guarda-roupa sofisticado e próximo das últimas tendências da época. Em contraste, para Therese, Powell focou-se em fotografias de rua em ambientes urbanos, procurando algo mais quotidiano e infinitamente menos idealizado. Como consequência, as suas roupas refletem a já referida falta de fundos económicos, assim como uma procura de conforto com um toque ligeiramente boémio. Therese é uma estudante que acabou de entrar no mundo do emprego e vem de um ambiente artístico, pelo que as suas roupas são escolhidas principalmente pela sua procura por conforto. Nunca sentimos, por exemplo, que ela alguma vez se vista como modo de seduzir ou agradar ao seu namorado. O mesmo não se poderá dizer da sua relação com Carol, pelo menos no que diz respeito ao seu encontro que marca o princípio e o final deste filme.

Carol

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Mesmo nesta ligeira pobreza, em comparação com Carol, Therese consegue demonstrar um estilo bastante característico, onde silhuetas juvenis e simples reinam absolutas. O seu uso de padrões, nomeadamente axadrezados, também é de referência, dando à sua figura uma riqueza visual quando contrastada na mesma composição com a suavidade das roupas da sua amante.

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Sandy Powell sempre foi uma mestra na utilização de padrões e cores e a personagem de Rooney Mara não é uma exceção, sendo de particular destaque o seu casaco escuro normalmente usado com uma boina com intensos tons de vermelho e amarelo. Talvez mais nenhum figurino no filme expresse tão bem a influência cromática da fotografia de rua de Saul Leiter, com os seus tons esbatidos e concentradas explosões de vibrante cor.

Carol

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A frugalidade de Therese altera-se depois desta alcançar um desejado trabalho no The New York Times. Para salientar o modo como a vida de Therese se alterou desde que a jovem foi deixada pela sua amada mais velha, Powell criou um visual claramente mais dispendioso que as roupas usadas por ela no princípio do filme. Há uma maior maturidade nas suas roupas, como se a jovem tivesse desabrochado, e também uma inegável sofisticação, com a inspiração no trabalho de Christian Dior a ser paticamente inegável.

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Com este visual sofisticado, é difícil não olhar para a Therese de Rooney Mara e não vislumbrar uma imagem reminiscente de Audrey Hepburn em toda a sua luminosa juventude e comedida elegância.

Com as suas duas amantes já examinadas, passemos então a algumas das figuras secundárias de Carol, nomeadamente Abby, a melhor amiga e confidente da personagem titular.

 

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