Stronger – A Força de Viver, em análise

“Stronger – A Força de Viver” é uma história de superação que foge ao oscar bait através de nuances que o tornam cru, íntimo e familiar. Jake Gyllenhaal e Tatiana Maslany: o filme é deles.

Nos últimos anos, Jake Gyllenhaal tem-se afirmado como um dos atores mais consistentes de Hollywood. Nomeado para melhor ator secundário quando em 2005 partilhou “O Segredo de Brokeback Mountain” com Heath Ledger, o ator de 36 anos tem nesta altura os projetos certos a baterem-lhe à porta. E a inteligência de escolher personagens desafiantes, capazes de o levar ao limite. Transforma-se. Uma vez. Duas vezes. As que forem precisas. E mesmo filmes evidentemente imperfeitos como “Southpaw – Coração de Aço” ou “Demolição” têm tido a sua existência justificada graças aos papéis de Gyllenhaal. Fundamental pois o amadurecimento ao serviço de realizadores como Fincher e Villeneuve. E é quase tão difícil de esquecer o seu extraordinário Louis Bloom em “Nightcrawler – Repórter na Noite” como o facto da Academia inacreditavelmente não o ter nomeado.

A caminho tem um filme de Luca Guadagnino com argumento de Steven Knight, uma oportunidade de contracenar com Joaquin Phoenix, um filme ao lado de Carey Mulligan na estreia de Paul Dano a realizar, e um reencontro com Dan Gilroy. Mas, para já, falemos de “Stronger – A Força de Viver”.

Stronger cena

Em 2016 o cinema deu-nos “Patriots Day – Unidos por Boston” que, em grande escala, acompanhou o atentado de 2013 na maratona de Boston, e a consequente caça ao terrorismo. O filme de Peter Berg, patriótico como se anunciava, tocou no coração dos americanos. Um ano mais tarde chega “Stronger – A Força de Viver”. Muitos são os casos de filmes ou séries que perdem destaque ou impacto pelo timing em que são lançados. Não será o caso. “Stronger” utiliza o atentado como inciting incident, e entrega-se por completo a um só sobrevivente. A história da recuperação de Jeff Bauman (Jake Gyllenhaal), herói e símbolo de esperança para a cidade de Boston.

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Um dos pontos positivos de “Stronger” é a capacidade de fugir à tentação de ser um oscar bait. Embora preserve aqui e ali traços de história inspiradora e patriótica, com bandeiras ondulantes e estádios emocionados, o filme é menos tudo isso, e mais a exploração realista e humana dos desafios do dia-a-dia. É, aliás, mais forçado quando se assume como mais macro, de grande escala (evento), emocionando quando tudo é tangível. Próximo. Familiar.

Ponto de partida. Jeff Bauman (Gyllenhaal) vive com a sua mãe alcoólica (Miranda Richardson) num apartamento pequeno e coleciona inícios e fins de relação com a ex-namorada Erin (Tatiana Maslany), frustrada com a sua falta de compromisso e farta que Jeff “nunca saia de casa e nunca apareça”. E Jeff aparece. No dia errado, no sítio errado e à hora errada, para dar apoio a Erin na maratona de Boston. Era uma vez umas pernas.

Stronger fisio

Esta tirada insensível combina, porém, com o humor negro de “Stronger”. Mecanismo útil para aligeirar a ação, não surpreendendo a comédia afinada ao ser David Gordon Green o realizador. E se muitos consideraram que Adam McKay se reinventou com “A Queda de Wall Street”, Gordon Green faz aqui o mesmo, ele que foi o maestro de “Alta Pedrada” ou “A Desbunda”.

Íntimo e cru, “Stronger” desafia o seu protagonista com o facto de ser considerado um herói e um símbolo da cidade, quando este se sente tudo menos isso. E se acreditamos em tudo o que vemos no ecrã (bom trabalho de efeitos práticos e edição), quase tudo se deve ao excelente trabalho de dois atores e à química entre ambos: Jake Gyllenhaal e Tatiana Maslany. O filme é deles.

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Não é por acaso que Gyllenhaal foi recentemente distinguido por “Stronger” na categoria de melhor ator nos Hollywood Film Awards. E é um dos fortes candidatos a surgir na lista final de cinco nomeados da Academia. Num papel exigente, físico e intenso, consegue transmitir o trauma, o desespero e a impotência de Bauman, e tem 3 ou 4 cenas difíceis de digerir. E capazes de desmanchar qualquer espectador.

No entanto, há química porque há Maslany. O que não surpreende, considerando o brutal talento da atriz canadiana, que depois de “Orphan Black” tem que continuar nas bocas do mundo. A relação de Jeff e Erin é a principal força de “Stronger”, e é refrescante ver Maslany a assumir uma personagem que não cai no lugar comum do braço direito que suporta tudo (Felicity Jones em “A Teoria de Tudo” ou Jennifer Connelly em “Uma Mente Brilhante”), contribuindo por isso com realismo. E embora seja menos certo – mas possível, e até ver justo – constar daqui a uns meses nas 5 nomeadas para melhor atriz secundária, o facto de Maslany estar tão bem ou melhor do que Gyllenhaal diz muito do seu papel.

Stronger red sox

É inevitável “Stronger – A Força de Viver” acabar por ser uma história de superação. Mas felizmente o filme tem nuances que o demarcam de outras jornadas capazes de nos inspirar e colocar tudo em perspetiva. Desde logo, a forma inteligente como aborda o stress pós-traumático de Jeff (o filme confia o suficiente no espectador para apresentar uma cena intensa num elevador, que só mais tarde é preenchida por sentido num tardio flashback). Depois, o quão difícil e asfixiante é ser centro de um mediatismo imposto. E finalmente a coragem para construir duas personagens capazes de transmitir os equilíbrios e desequilíbrios de uma relação, impedindo (e bem) o espectador de assumir um dos lados de forma permanente.

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“Stronger” não tem medo. Abraça o conflito interno de Jeff e trabalha-o num triângulo com a família e com Erin. Reféns uns dos outros, gratos pela sobrevivência mas sujeitos a uma revolução conjunta. Não estará na lista dos melhores filmes deste ano. Mas Gyllenhaal e Maslany fazem valer o bilhete.

STRONGER | Uma brilhante montra do talento de Gyllenhaal e Maslany

Já foste ver “Stronger – A Força de Viver” ao cinema? Achas que Jake Gyllenhaal e/ ou Tatiana Maslany devem ser nomeados para os óscares de melhor ator e melhor atriz secundária?

Stronger - A Força de Viver

Movie title: Stronger - A Força de Viver

Movie description: A história de Jeff Bauman, um sobrevivente dos atentados na maratona de Boston em 2013, que se tornou símbolo de esperança da cidade.

Director(s): David Gordon Green

Actor(s): Jake Gyllenhaal, Tatiana Maslany, Miranda Richardson

Genre: Biografia, Drama

  • Miguel Pontares - 76
  • Daniel Rodrigues - 50
  • José Vieira Mendes - 50
  • Filipa Machado - 60
59

CONCLUSÃO

“Stronger – A Força de Viver” não tem medo de ignorar o enquadramento, focando-se no drama entre quatro paredes. Torna-se íntimo e familiar ao explorar um homem que virou herói e símbolo de uma cidade, sentindo-se tudo menos isso.

O MELHOR: Jake Gyllenhaal e Tatiana Maslany em dois dos melhores papéis do ano. “Stronger” trabalha bem o stress pós-traumático, o mediatismo imposto pela desgraça, e uma relação com equilíbrios e desequilíbrios que nos impede (e bem) de assumir um lado.

O PIOR: Quando não consegue evitar ser patriótico e inspirador, com bandeiras ondulantes e estádios emocionados, “Stronger” torna-se mais aborrecido. E menos original.

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