LEFFEST ’16 | Animais Noturnos, em análise

‘Animais Noturnos’, uma adaptação do romance ‘Tony & Susan’ de Austin Wright, marca sete anos depois o regresso do estilista Tom Ford (‘Um Homem Singular’) à realização de cinema. Agora com uma história de um casal divorciado que vai descobrindo aos poucos as suas ‘zonas cinzentas’ e as verdades sombrias da sua intimidade, num thriller labiríntico e formalista.

Animais Noturnos

Vencedor do Grande Prémio do Júri do último Festival de Veneza, Animais Noturnos é um filme sofisticado, mas que esteve longe de conseguir a unanimidade da crítica internacional na sua estreia no Lido. E daí a surpresa do galardão recebido pelo realizador norte-americano radicado em Itália.

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Animais Noturnos é uma obra complexa, obsessiva e romântica, que explora as linhas ténues entre amor e perversão, vingança e redenção, — os ingredientes necessários para compor um thriller de excelência — mas falta-lhe qualquer coisa para ser uma obra de eleição.

‘…uma obra complexa, obsessiva e romântica, que explora as linhas ténues entre amor e perversão, vingança e redenção…’

No entanto, e antes de qualquer apreciação mais profunda há que valorizar o perfeccionismo e formalismo de Tom Ford — antes director criativo de casas de moda como Gucci e YSL  — ao nível da direcção artística, como por exemplo com uns os figurinos de um extraordinário bom gosto e uma excessiva preocupação com as formas. No entanto, os problemas de Animais Noturnos, residem em parte na sua frieza inócua, no seu distanciamento em relação ao espectador e sobretudo num argumento estranho e confuso.

Animais Noturnos

Na verdade, Tom Ford retoma em Animais Noturnos, uma boa parte das suas preocupações de Um Homem Singular, o seu filme de estreia como realizador, principalmente ao nível da concepção: a definição da ideia de masculinidade, da dúvida e dos sentimentos de perda e culpa, regressam a este seu novo filme empenhando-se agora e de uma forma ambiciosa em dar um sentido a todas estas questões.

Animais Noturnos

Susan (Amy Adams) recebe num dia de crise o romance acabado do anterior marido, ela que vive agora num mundo de luxo, de que é incapaz de renunciar, como o fez um dia que decidiu abandonar o esforçado e pobre marido (Jake Gyllenhaal).

E neste sentido se estabelece um drama confuso em dois planos — a realidade e ficção — tão intimamente entrelaçados que parecem idênticos. Ou antes Animais Noturnos desenvolve-se em três planos que representam presente, passado e um obscuro desvío que funciona como uma abordagem à vida real. 

‘Animais Noturnos’ desenvolve-se em três planos que representam presente, passado e um obscuro desvío que funciona como uma abordagem à vida real. 

Animais Noturnos é um filme mais exigente do que o anterior e agora com Tom Ford a esforçar-se para construir um puzzle que encaixe na perfeição. Mas não é fácil, já que a ideia de construir dois universos que se desdobrem em outros tantos, tão diferentes entre eles que acabem por se tornar opostos, até novamente deixarem de o serem, acaba por tornar tudo muito confuso.

De um lado, o livro que Susan lê que conta o desgosto de um homem que um grupo de assassinos num crime horrível mataram a mulher e a filha. Esta história decorre em vários anos e em planos que descrevem desde o crime à procura da vingança. O lado real da narrativa parte-se em dois entre o tempo presente e a memória de uma velha história de amor falhada.

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Novamente como em Um Homem Singular, todo o filme decorre num ambiente aséptico e estéril que acaba por desfavorecer ambiciosa proposta de Ford, mais centrada na fascinação pelas formas, na insistência de converter a violência em espectáculo, e sobretudo assente num discurso moralista e conservador. Tom Ford é mais um intoxicante construtor de sensações que um um bom narrador. E por isso Animais Noturnos torna-se um filme  um pouco decepcionante.

Tom Ford é mais um intoxicante construtor de sensações que um um bom narrador. E por isso ‘Animais Noturnos’ torna-se um filme um pouco decepcionante.

No entanto, em Animais Noturnos pode-se destacar ainda a fotografia de Seamus McGarvey (Expiação), que fez um belo trabalho, explorando ora as áridas paisagens rurais, ora as desoladas, sofisticadas e frias paisagens urbanas.

Animais Noturnos

As interpretações são excelentes, desde Amy Adams ate Gyllenhaal (que interpreta dois papéis diferentes) Laura Linney (numa cena inesquecível como mãe Susan, uma monstruosa matrona de Manhattan), Karl Glusman como um dos sequestradores, Aaron Taylor-Johnson, num terrível líder dos malfeitores do romance; até Michael Shannon (num decadente advogado do Texas), que poderá ser a partir deste papel e de outros que desempenhou ao longo da temporada, um forte candidato aos próximos Óscares de Melhor Actor Secundário.

O MELHOR: A beleza, o bom gosto e o perfeccionismo que vão dos planos à direcção artística;

O PIOR: O argumento é tão labiríntico que acaba por se tornar confuso para o espectador.

 


Título Original: Nocturnal Animals
Realizador:  Tom Ford
Elenco: Amy Adams, Jack Gyllenhall e Michael Shannon 
NOS | Drama, Thriller | 2016 | 117 min

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JVM

 

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