Slowdive

Slowdive | Sapatos brilham alto no Lisboa ao Vivo

Com temporal prometido cá fora, lá dentro, no LAV – Lisboa ao Vivo, a promessa era outra.

Noite grande de Shoegaze, autêntico, dos Slowdive, simultaneamente um dos seus mais marcantes ícones, mas também a banda responsável pelo álbum eleito pela MHD como Melhor de 2017, e ainda Melhor Música (“Sugar For The Pill”).

A abrir os simpáticos franceses Dead Sea, a recordar os Cocteau Twins, de forma digna, som competente com belos riffs de guitarra e uma voz a fazer lembrar, mas só isso, a inesquecível Liz Fraser. Os tons e cores da noite a descoberto a predispor adequadamente uma já de si muito composta audiência onde os cabelos louros e negros dominavam, mas onde os brancos e grisalho marcavam igualmente forte presença. Missão cumprida em apenas 6 agradáveis músicas.

E eis que a noite, a grande, começa finalmente. Abertura idêntica ao álbum “Slowdive“. Impossível melhor arranque, de arrepiar com “Slomo” e “Star Roving” nonstop. Falta-nos o fôlego para  tanto absorver, uma parede de som, em vagas ondulantes, uma cortina de fumo, silhuetas de anjos que se movem por trás enquanto tocam e cantam sem parar. A atmosfera estava criada e os mil presentes nela mergulhados.  Algo brilhante reflectia a luz dos holofotes e dava nas vistas. Eram obviamente os sapatos rosa cromados de Rachel, a real shoegazer da banda… Palavras amáveis e um sorriso sincero permanente. “We love you Rachel!” alguém gritou bem alto, seguido de palmas, carinhosas e merecidas.

Não obstante os frequentes ajustes e acenos de mão para o mixer de serviço, o som era sofrível, e a bateria do grande Simon Scott entrava um pouco atrasada e demasiado saliente. Mas Simon recuperou o ritmo e assumiu o seu poder avassalador, que já lhe conhecíamos do álbum (e dos vídeos é claro). Pormenores de que nos esquecemos facilmente perante a magia do essencial. Curiosa e surpreendentemente, Rachel Goswell brilhava duma forma mais nítida e límpida, quase celestial, bem mais do que no disco, no qual  Neil Halstead é dominante.  Lembrei-me de que estávamos em pleno Dia da Mulher, em bom rigor, e àquela hora era mais a Noite delas, mas aquela era uma voz muito além de qualquer feminismo. É a voz do Shoegaze maduro e refinado. Impossível não ficar apaixonado.

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Encore com mais três belas músicas, incluindo o arrasador “Don’t Know Why”. Liz Fraser a sorrir mais uma vez, mas por esta altura os dotes e mérito são todos de Rachel Goswell.

Durante cerca de hora e meia, o álbum “Slowdive” quase por inteiro, e vários hits do passado, ouvimos algo de que o Britpop nunca foi capaz. E sem qualquer sombra de dúvida que queremos mais Slowdive.

Cá fora o temporal já tinha passado e afinal nem demos por ele. Mas pelo concerto, bem… inesquecível.

RR

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Slowdive | O brilho dos sapatos em Lisboa
  • Rui Ribeiro - 95
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