Estas são as 10 melhores obras-primas do cinema no streaming da Netflix
Num universo onde o streaming, liderado por plataformas como a Netflix, redefine diariamente o que significa ‘fazer cinema’, alguns filmes conseguem elevar-se acima do ruído digital para se tornarem verdadeiras obras de arte.
A Netflix, outrora apenas uma modesta empresa de aluguer de DVDs, transformou-se num dos maiores estúdios de cinema do mundo. Entre centenas de produções originais, algumas destacam-se não apenas pela sua qualidade técnica, mas por trazerem algo verdadeiramente único ao panorama cinematográfico.
Apresentamos o nosso Top 10, uma seleção de filmes que transcenderam o entretenimento para se tornarem marcos culturais. Estas obras-primas exploram narrativas ousadas, desafiam convenções e refletem a evolução do cinema na era do streaming. Seja através de histórias emocionantes, realizações visionárias ou atuações inesquecíveis, cada um destes filmes exemplifica o compromisso da Netflix com a arte cinematográfica. Vamos à lista!
Os 10 melhores filmes originais Netflix
10. The Ballad of Buster Scruggs
Os irmãos Coen nunca foram conhecidos por seguirem convenções, mas com “The Ballad of Buster Scruggs” ultrapassaram-se a si próprios. Esta antologia de seis histórias do Velho Oeste é como abrir uma caixa de chocolates feita de pólvora e ouro: nunca sabemos o que vamos encontrar, mas será certamente explosivo e valioso.
O filme abre com a história titular, onde Tim Blake Nelson interpreta um cowboy cantor com uma propensão para a violência absurdamente cómica. É o tipo de sequência que só os Coen conseguem criar: simultaneamente hilariante e profundamente perturbadora. Cada história subsequente muda radicalmente de tom, criando um mosaico do Oeste americano que é tanto uma celebração como uma desconstrução do género. É como se alguém tivesse pegado em todos os westerns alguma vez feitos, os tivesse metido num liquidificador e servido o resultado num copo de whisky.
9. All Quiet on the Western Front
Esta adaptação alemã do clássico de Erich Maria Remarque consegue algo notável: fazer-nos sentir como se nunca tivéssemos visto um filme de guerra antes. Edward Berger transforma a Primeira Guerra Mundial numa experiência visceral que faz “1917” parecer um passeio no parque.
A forma como “All Quiet on the Western Front” retrata a desumanização gradual do jovem Paul Bäumer é magistral. Começamos com um rapaz idealista e terminamos com… bem, isso seria spoiler. Digamos apenas que o filme não tem medo de nos mostrar o verdadeiro custo da guerra. A cinematografia é de cortar a respiração, com planos que parecem pinturas de Hieronymus Bosch em movimento. Cada explosão, cada momento de silêncio tenso, cada olhar perdido conta uma história de perda de inocência que, infelizmente, continua atual.
8. “Tick, Tick… Boom!”
Lin-Manuel Miranda estreia-se na realização com um musical sobre fazer musicais, provando que a metanarrativa pode ser incrivelmente envolvente quando feita com coração. Andrew Garfield transforma-se em Jonathan Larson com uma intensidade que faz o seu papel como Peter Parker parecer tímido.
O “Tick, Tick… Boom!” é uma carta de amor ao teatro musical de Nova Iorque, repleta de referencias para os conhecedores do meio e suficientemente universal para cativar qualquer pessoa que já tenha sentido o tempo a escapar-lhe por entre os dedos. A forma como Miranda equilibra os números musicais com momentos de drama íntimo é notável. É como se estivéssemos simultaneamente a ver um espetáculo da Broadway e a espreitar pelos bastidores – um truque de magia cinematográfica que poucos conseguiriam executar.
7. Guillermo del Toro’s Pinocchio
Guillermo Del Toro pega na história que todos pensávamos conhecer e transforma-a numa meditação sobre morte, fascismo e paternidade. Através da animação stop-motion mais deslumbrante que já vimos, o realizador mexicano prova que as histórias infantis podem (e devem) ter dentes afiados.
A decisão de situar a história de “Pinocchio” na Itália fascista de Mussolini não é apenas um capricho estético – é uma forma brilhante de explorar temas de conformidade, livre arbítrio e o verdadeiro significado de ser “um menino de verdade”. Cada frame é uma obra de arte em miniatura, com texturas tão ricas que quase podemos sentir a madeira sob os nossos dedos. É o tipo de filme que faz outros filmes de animação parecerem inferiores por comparação.
6. Okja
Bong Joon-ho, antes de “Parasite“, já estava a abalar o nosso mundo com esta fábula moderna sobre capitalismo, ética animal e amizade interespécies. “Okja” é como se “E.T.” tivesse sido reescrito por um ativista ambiental com um sentido de humor muito negro.
A forma como o filme equilibra momentos de pura alegria infantil com crítica social mordaz é impressionante. Num momento estamos a sorrir com as brincadeiras entre Mija e Okja, no seguinte estamos a questionar todo o sistema alimentar global. Tilda Swinton dá-nos não uma, mas duas performances deliciosamente excêntricas, enquanto Jake Gyllenhaal entrega o tipo de atuação que só faz sentido num filme de Bong Joon-ho – completamente over-the-top e, ainda assim, estranhamente perfeita.
5. Roma
Alfonso Cuarón transformou as suas memórias de infância numa obra-prima visual que faz do quotidiano algo extraordinário. Em preto e branco magistralmente fotografado, “Roma” é como folhear um álbum de fotografias onde cada imagem ganha vida e nos conta histórias sussurradas.
Yalitza Aparicio, numa estreia que parece impossível de tão natural, traz Cleo à vida com uma subtileza que parte corações. A sua personagem move-se pelo filme como uma força silenciosa da natureza, testemunhando e vivendo as transformações de uma família e de um país. O México dos anos 70 é recriado com uma precisão obsessiva, mas nunca se sente como um exercício de nostalgia vazia. Cada detalhe, da água a correr nas lajes até ao avião que atravessa o céu refletido numa poça, constrói um mundo tão real que quase podemos sentir o seu cheiro.
4. Klaus
Quem diria que precisávamos de mais uma origem do Pai Natal? Sergio Pablos provou que estávamos enganados com esta pequena maravilha de animação 2D que parece ter sido pintada à mão pelos próprios elfos do Polo Norte.
A história de um carteiro mimado transformado em catalisador da bondade humana é contada com uma inteligência e sensibilidade raras no cinema de animação moderno. É como se alguém tivesse pegado no cinismo do século XXI e o derretido num copo de chocolate quente. A técnica inovadora de iluminação digital em animação tradicional criou um visual único que faz cada frame parecer uma ilustração de livro infantil a ganhar vida. “Klaus” é o tipo de filme que faz adultos acreditarem novamente em magia.
3. Marriage Story
Noah Baumbach disseca um casamento em decomposição com a precisão de um cirurgião e a sensibilidade de um poeta. Adam Driver e Scarlett Johansson entregam performances tão honestas que por vezes é doloroso olhar para o ecrã.
“Marriage Story” consegue o impossível: fazer-nos torcer por ambos os lados de um divórcio. É como assistir dois pianistas virtuosos a tocarem peças diferentes no mesmo piano – tecnicamente impressionante e emocionalmente devastador. Os momentos de humor surgem nos lugares mais inesperados, lembrando-nos que mesmo nas situações mais dolorosas, a vida encontra forma de nos fazer sorrir. Aquela cena com a carta? Uma obra-prima dentro de uma obra-prima.
2. The Irishman
Martin Scorsese reuniu o seu panteão de atores favoritos para uma reflexão melancólica sobre idade, lealdade e arrependimento. É um filme de gangsters que é realmente sobre o tempo e como ele nos torna a todos os seus prisioneiros.
Robert de Niro, Al Pacino e Joe Pesci dão-nos uma masterclass de representação subtil, provando que mesmo depois de décadas a interpretar mafiosos, ainda conseguem encontrar nuances surpreendentes. O CGI de rejuvenescimento? Esquece-o – são os olhos cansados destes veteranos que contam a verdadeira história. Com as suas três horas e meia, “The Irishman” é como um bom vinho: precisa de tempo para respirar e revelar todos os seus sabores. E sim, vale cada minuto.
1. May December
Todd Haynes cria um estudo fascinante sobre identidade, verdade e performance com Natalie Portman e Julianne Moore num duelo de atrizes que define uma geração. É um filme que brinca com as nossas perceções como um ilusionista com cartas marcadas.
A forma como “May December” entrelaça realidade e ficção, atriz e personagem, vítima e predador, cria um caleidoscópio moral que nos deixa permanentemente desconfortáveis – e é esse precisamente o ponto. Moore continua a provar que é uma das maiores atrizes vivas, dando vida a camadas de complexidade que parecem infinitas. O guião de Samy Burch é como uma cebola venenosa: cada camada que descascamos revela algo mais perturbador por baixo, até já não sabermos o que é verdade e o que é performance – tanto no filme como na vida real.
Agora que chegamos ao fim desta jornada pelo melhor que a Netflix tem para oferecer, deixo-te uma pergunta:
Qual destes filmes mudou a tua perspetiva sobre o que o streaming pode alcançar? Partilha connosco a tua opinião e diz-nos qual seria a tua escolha para o número um.