33º EFA | ’Another Round’: Melhor Filme Europeu 2020

‘Another Round’, um filme do dinamarquês Thomas Vinterberg é o grande vencedor dos EFA-Prémios de Cinema Europeu 2020 nas 4 categorias principais. O produtor português Luis Urbano ganhou o Prémio Eurimage, que reconhece o seu percurso de incremento e valorização da co-produção de filmes europeus.

Como tantas outras instituições e eventos também a Academia Europeia de Cinema, com sede em Berlim, realizou a sua cerimónia anual de prémios em versão virtual devido à crise pandémica. Os EFA 2020 que estavam previstos para se realizarem na Islândia, optaram também — e há alguns meses — de em vez de fazerem uma celebração única, por uma série de ‘noites virtuais’,  a partir de Berlim, desde quarta passada, — onde aos poucos foram entregues os vários galardões. Para culminar nesta noite de sábado com uma Grande Final, numa espécie de ‘talk show virtual’, à mesa com Wim Wenders, Agnieska Holland — a nova presidente das Academia — Marion Döring, Mike Downey, foram entregues os prémios das principais categorias.

VÊ TRAILER DE ‘ANOTHER ROUND’

‘Another Round’ (‘Outra Rodada’), um filme do dinamarquês Thomas Vinterberg (‘A Caça’, 2012), uma crónica sobre o alcoolismo, — ainda inédito em Portugal — que esteve seleccionado para o Festival de Cannes 2020 — que não chegou a realizar-se — e esteve igualmente na competição do último Festival de San Sebastián, — ganhou a Concha de Prata para Melhor Actor para os quatro intérpretes masculinos do filme —, recolheu agora as categorias principais dos Prémios do Cinema Europeu: Melhor Filme Europeu, Melhor Realizador, Melhor Argumento (para o próprio Vinterberg e Tobias Lindholm) e Melhor Actor para Mads Mikkelsen, o seu protagonista.

Another Round

‘Another Round’ é um filme apoiado numa experiência pela qual quatro professores passam no início com alegria e entusiasmo, depois nem tanto: ‘E se nos forçarmos a manter um nível de álcool no sangue durante toda a duração de um dia normal de trabalho? E se levarmos a experiência para cada segundo de nossas vidas perfeitamente burguesas?’, dizem os protagonistas a si mesmos, a dada altura do filme. Vinterberg brinca para provocar ou para simplesmente tornar realidade (daí a provocação) o que a maioria das pessoas parece aceitar com normalidade, nas sociedades em que vivemos: beber ilumina a nossa consciência e torna-nos mais sinceros? A ousadia do filme é também o seu ponto de partida: a clareza do abismo tão popular aliás na Dinamarca, como na maioria dos ‘civilizados’, países do Norte da Europa, em que as pessoas optam por beber, não exatamente por prazer, mas apenas para ver o que acontece, ou para depois extravasarem. ‘Another Round’ é um manifesto niilista devastador que termina de uma forma um tanto sentimental, na complacência do melodramático. É um filme que termina tão bêbado que, à força, vai tornar-se talvez o filme de um ano inteiro que aí vem em 2021 e que promete acrescentar à mais brutal das ressacas depois, esperemos, do fim da pandemia.

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Mas voltando à cerimónia e ao seu final e aos seus protagonistas, onde até apareceu Angela Merkel. ‘Fiz este filme num dos momentos mais difíceis da minha vida’ confessou então o realizador Thomas Vinterberg, a seguir a ter ganho a estatueta de Melhor Filme, que não recebeu em mãos, pois estava em ligação virtual com Berlim desde sua casa, acompanhado por membros da sua equipa e família. ‘Em tempos de de confinamento, crise financeira e morte, o nosso projeto de fazer um filme sobre a esperança resultou num êxito. Tudo começou no teclado de um computador e agora termina também diante do computador’. O cineasta falou ainda da sua filha Ida Maria, que morreu aos 19 anos num acidente de viação na Bélgica em Maio de 2019, precisamente durante o processo de preparação do filme: ‘Os vossos votos e os vossos prémios que honram a sua memória’. Com esta vitória de ‘Another Round’ confirma-se novamente uma das tradições dos Prémios do Cinema Europeu, de não haver praticamente surpresa e os prémios serem atribuídos quase sempre pelo seguro e sem grande polémica. É certo que nenhum dos filmes era visto como favorito.

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De entre os filmes que competiam para o prémio principal estavam: o polaco ‘Corpus Christi-A Redenção’, de Jan Komasa; o alemão ‘Undine’, de Christian Petzold, o checo ‘The Painted Bird’, de Václav Marhoul, o italiano ‘Martin Eden’, de Pietro Marcello), e o alemão ‘Berlin Alexanderplatz’, de Burhan Qurbani). A Dinamarca apesar de ter estado nos últimos anos presente em várias co-produções europeias não ganhava desde ‘Melancholia’, de Lars Von Trier, em 2011. Na realidade, nesta noite de gala praticamente dinamarquesa só parece ter sobrado pouco mais do que Prémio de Melhor Actriz para a jovem e bela alemã Paula Beer (‘Em Trânsito’, 2016) pelo seu trabalho em ‘Undine’, de Christian Petzold. Os restantes prémios da noite, foram repartidos pela geografia europeia: Melhor Documentário para ‘Collective’, do romeno Alexander Nanau; o Premio Revelação para o filme italiano ‘Sole’, de Carlo Sironi; e o novo troféu intitulado lnnovative Storytelling foi para o realizador, historiador e crítico de cinema escocês Mark Cousins (‘The Story of Film-An Odyssey’, 2011) pelo seu novo e extenso documentário ‘Women Make Film-A New Road Movie Through Cinema’ (2018), sobre as mulheres atrás das câmeras no cinema mundial, com a narração de Tilda Swinton, Adjoa Andoh, Jane Fonda, Sharmila Tagore. Um verdadeiro documento, a não perder!

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LUIS URBANO VENCEDOR DO EURIMAGES

Mais uma vez o cinema português ficou de fora das principais nomeações e prémios europeus, contudo já durante a semana o produtor Luís Urbano, tinha sido distinguido com Prémio Eurimages, que reconheceu o trabalho de um produtor que ‘ao longo dos anos tem demonstrado um grande compromisso em acolher e cooperar com produtores e talentos de todo o mundo’. Luís Urbano ‘produziu alguns dos mais memoráveis e originais filmes da última década’, afirmou Catherine Trautmann, num anúncio feito também online, na quinta-feira passada. Convidado este ano a integrar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que atribui os Óscares, Luís Urbano foi um dos fundadores do Curtas de Vila do Conde e da produtora O Som e a Fúria.

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Maria de Medeiros também apareceu na cerimónia.

Já produziu filmes dos realizadores portugueses Miguel Gomes, Sandro Aguilar, Ivo M. Ferreira e do norte-americano Ira Sachs. Os filmes Tio Tomás, a contabilidade dos dias’, de Regina Pessoa, e ‘Past Perfect’, de Jorge Jácome, estavam nomeados para melhor curta- metragem europeia, mas o prémio foi atribuído a Lasse Linder, por ‘All cats are grey in the dark’. Também o filme ‘Josep’, do francês Aurel, ganhou esta sexta o Prémio Europeu de Animação 2020, uma decisão tornada pública na véspera da gala desta gale de prémios.

José Vieira Mendes

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