Joaquin Phoenix stars as John Callahan in DON'T WORRY, HE WON'T GET FAR ON FOOT.

68ª Berlinale | Dia 8 Uma Maratona de Cinema

Depois da maratona de cinema de “The Season of the Devil”, do cineasta filipino Lav Diaz, um regresso do realizador Gus Van Sant, com “Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot”, sobre o cartunista John Callahan, numa interpretação fabulosa de Joaquin Phoenix.

O longo título “Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot”, foi um pretexto para o realizador Gus Van Sant voltar a Portland, Oregon — um regresso às origens de “Drugstore Cowboy” — para realizar este biopic baseado nas memórias do cartonista John Callahan, num papel bem à medida de Joaquin Phoenix. Embora que para um filme independente  — com a assinatura da Amazon Studios — Van Sant tenha conseguido um elenco de luxo: Jonah Hill, Rooney Mara, Jack Black. No final dos créditos há igualmente um agradecimento a Robin Williams, que comprou os direitos do livro de Callahan, para mais um projecto com Gus Van Sant, depois de terem feito juntos “O Bom Rebelde”. Apesar de terem começado a trabalhar no argumento Williams faleceu entretanto em 2014. Pelo menos não ficamos a perder no papel, pois Joaquin Phoenix faz uma das melhores e mais maduras interpretações da sua carreira, que lhe pode dar já uma nomeação para os Óscares do próximo ano. Já que o filmes estreado no Festival de Sundance só deve ir para as salas americanas em Maio próximo.

VÊ TRAILER DE “DON’T HURRY, HE WON’T GET FAR ON FOOT”

“Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot” conta a história de John (Joaquin Phoenix) um tipo com uma inclinação para as piadas sarcásticas e para a bebida. É então, que encontra numa festa Dexter (Jack Black), que lhe sugere que passem o resto da louca noite em Los Angeles, algo que John não consegue recusar. Depois de adormecer no assento do lado do condutor, completamente bêbado, acorda tetraplégico na manhã seguinte no hospital, devido a um acidente de viação. A partir daí, e aos 21 anos, John fica numa cadeira de rodas para o resto da vida. É agora que lhe é exigido cada gota do seu raro sentido de humor, para ultrapassar o seu azar e redescobrir um significado para a sua existência. No entanto, é ajudado por Annu (Rooney Mara), que traz de volta à sua luxúria para a vida — numa história de amor um tanto improvável —, bem como Donny (Jonah Hill), um hippie fora de tempo, cujas as reuniões que dirige nos Alcoólicos Anónimos, não são muito convencionais. Nelas se encontram pessoas com uma diversidade de experiências, que ajudam John a ter uma perspectiva diferente da vida. E assim ele descobre a beleza e o humor nas profundezas da experiência humana, usando o seu talento artístico para transformar essas descobertas, em caricaturas brilhantemente bem observadas, que pouco a pouco vai conseguindo vender para importantes revistas como a Penthouse. Nesta aparente reminiscência de ‘American Splendor”, (2004), dirigida por Shari Springer Berman, Robert Pulcini a propósito também do cartonista Harvey Parker, Gus van Sant mostra neste filme sobre a cultura dos comics, igualmente muitas das caricaturas de Callahan em movimento. Van Sant trabalha com o director de fotografia Christopher Blauvelt e com o compositor Danny Elfman para destacar o trabalho incrível e as dificuldades que seu protagonista tem de aguentar para recuperar o controle sobre a sua vida. “Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot”, não é um filme apenas sobre a vontade de superar as dificuldades inesperadas da vida. É também um extraordinário retrato ficcional e melancólico, ainda que esperançoso, sobre a vida, mesmo que esta se passe com as limitações do cartunista John Callahan, falecido em 2010 aos 59 anos. Como em muitos de seus filmes, também aqui  em “Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot”, Gus Van Sant aborda as questões da busca de identidade na abordagem das sub-culturas e de vidas de pessoas pouco comuns.

“Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot”
Phoenix (John Callahan) e Jonah Hill (Donnie) em “Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot”.

O ano de 2016 foi um ano decisivo para o cineasta filipino Lav Diaz, que ganhou o Prémio Alfred Bauer na Berlinale com o seu filme de oito horas “A Lullaby to the Sorrowful Mystery”. Em seguida, o Leão de Ouro na Mostra de Veneza com “The Woman Who Left”. Sempre com um monte de projetos debaixo do braço — o anteriormente anunciado “When the Waves Are Gone”, parece ter ficado por agora em banho-de-maria — Diaz apresentou aqui novamente na competição “The Season of the Devil”. Trata-se de um drama histórico, uma ópera musical sem actos, com todos os diálogos cantados apenas à voz, filmado a preto e branco, e protagonizado por alguns dos seus actores, Piolo Pascual, Shaina Magdayao, Angel Aquino, Bituin Escalante, Pinky Amador e, dura aproximadamente 4 horas.

VÊ TRAILER DE “THE SEASON OF THE DEVIL”

Baseado numa em factos verídicos, logo introduzidos no início do filme, “The Season of the Devil”, passa-se no final da década de 1970, quando uma milícia militar oprimia uma aldeia remota na selva filipina. Os homens uniformizados e armados com metralhadoras, espalham um terror físico e psicológica entre as populações. Criam uma atmosfera em que os habitantes se tornam inimigos e procuram erradicar a fé dos aldeões, substituindo-a por lendas e espíritos. A jovem e destemida médica Lorena, abre uma clínica para tratar dos mais pobres, mas desaparece pouco depois sem deixar vestígios. O seu desalentado marido, o poeta, activista e professor Hugo Haniway, vai em busca do paradeiro da sua esposa.  Quando descobre a verdade vê-se confrontado com uma comunidade marcada pelo despotismo e a violência.

"The Season of the Devil"
Baseado em factos verídicos, logo introduzidos no início do filme, “The Season of the Devil”

Em “The Season of the Devil”, Lav Diaz utiliza este conceito de ópera rock-poética filipina, com canções-diálogos escritas por ele, que procuram representar o humor sombrio e a repressão durante a ditadura de Ferdinando Marcos. As canções são no fundo lamentos que procuram descrever o tremendo sofrimento, a monstruosidade e o terror psicológico da repressão, que se torna impossível descrever em imagens. A história e os personagens do filme são efectivamente baseados em eventos verdadeiros e personagens que viveram essa terrível experiência. Esta mistura idiossincrática do filme testemunho de más memórias, música e drama histórico, com planos  fixos extremamente bem enquadrados e iluminados para preto e branco — e com recurso na maioria das vezes a grande angular — reafirmam a mestria de Lav Diaz e a sua notável capacidade para inovar no contexto do cinema mundial. Ao mesmo tempo continua a ser o verdadeiro cronista dos traumas do seu país, sempre muito martirizado.

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