©Batara Goempar/72ª Berlinale

72ª Berlinale (Dia 3) | ‘Nana’ de Kamila Andini

A realizadora indonésia Kamila Andini, depois de ‘The Mirror Never Lies’ (apresentado na secção Generation, em 2012) sobre os nómadas dos mares do sul, regressou à competição mais importante com ‘Nana’, uma história de uma bela mulher (ou melhor de duas), que quer resgatar o seu passado.

Depois de supostamente ter perdido toda a sua família por causa dos conflitos que abalaram o seu país, Nana (Happy Salma), construiu uma nova vida com um homem rico homem sudanês (Arswendy Bening Swara). Kamila Andini, em ‘Nana’ assume a visão da sua protagonista, através de uma realização discreta, elegante, eficaz e sobretudo visualmente bela e exótica, do drama desta bela mulher à procura de resgatar o seu passado. Apesar do amor que nutre pelos seus 4 filhos deste casamento, Nana continua a sentir-se deslocada e triste, com os trágicos acontecimentos do passados ​​a atormentarem-lhe permanentemente os seus sonhos. Na década de 1960, um violento golpe anticomunista na Indonésia, substitui o presidente Sukarno, eleito democraticamente, pela ditadura militar general Suharto, algo que afectou muitas pessoas sobretudo os mais pobres. A gentil e bela Nana foi gravemente afetada por esses acontecimentos dramáticos e esse conflito bastante sangrento: o seu jovem marido foi sequestrado na floresta e desapareceu. Nana consegue escapar ao líder do bando de guerrilheiros, que tentou forçá-la a casar-se com ele. Mas o incidente custou a vida do seu pai e do filho ainda bebé, reduzindo-a à pobreza e ao abandono. Porém, anos depois, já vive como segunda esposa de um sudanês rico. Leva uma vida confortável, com um marido bem mais velho, mas muito gentil com ela. Porém, muitas pessoas ao seu redor consideram-na uma aldeã, que se está aproveitando da riqueza do marido. Em muitas das festas que acontecem em sua casa, Nana sabe que o seu lugar é apenas na cozinha, não ao lado do marido; ou quando isso acontece permanece discreta e em silêncio, ao mesmo tempo que, talvez devido ao stress da situação, surgem feridas nas sua cabeça.

Lê Também:   72ª Berlinale (Dia 5) | Les Passagers de la Nuit

VÊ TRAILER DE ‘NANA’

Além disso, a sociedade patriarcal e o estilo de vida do seu marido naquela época, passa igualmente pela aceitação do relacionamento com outras mulheres. Até que um dia Nana conhece Ino (Laura Basuki), uma das amantes de seu marido. Ela é uma mulher muito diferente das outras, que entra na vida de Nana como água, libertando dos seus sentimentos. Ino torna-se a única pessoas com quem pode partilhar o passado e o presente. Elas apoiam-se e a amizade com Ino torna a vida de casada de Nana mais incerta e questionável. Até que um dia, Nana reencontra o seu ex-marido, o homem dos seus sonhos, que afinal ainda estava vivo. E então que passado de Nana vai se fundir com a sua vida, procurando a sua liberdade com mulher, ainda a tempo de resgatar o seu passado.  A suposta morte do ex-marido da misteriosa Nana perturba-a e incomodo-a. Por isso, a personagem principal é também interpretada com muita delicadeza pela bela Happy Salma. As suas memórias vão nos aparecendo de uma forma irregular, não-linear e onírica. É essa incerteza e esse incómodo que atravessa todo o filme, são muito bem combinados com um imaginário opulento e uma sensação de nostalgia, que faz de ‘Nana’ uma maravilha elegíaca de uma enorme sensibilidade e beleza. Um filme um pouco à parte nesta competição da 72ª Berlinale. Num mar de adversidades, causado pela guerra, pela brutalidade, pela incompreensão masculina, da família e da sociedade sudanesa, é uma inesperada amizade feminina que serve de tábua de salvação às duas belas mulheres: Nana e Ino. Um filme lindíssimo que faz lembrar um pouco e não sei porquê, Disponível Para Amar, de Wong Kar-Wai.

JVM

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *