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79º Festival de Veneza | ‘L’Immensità’ de dramas familiares

A competição de Veneza 79, vibrou hoje com vários dramas familiares: ‘L’Immensità’, de Emanuele Crialese, com Penélope Cruz, sobre uma família romana com equilíbrios instáveis ​​nos anos 70. Ainda mais instáveis, estão ‘The Whale’, de Darren Aronofsky ou em ‘Les enfants des autres’, da francesa Rebecca Zlotowsky.

Começando com ‘L’Immensità’, do italiano Emanuele Crialese trata-se já da sua quinta longa-metragem, em competição, agora também em Veneza 79. Desta vez o italiano  dirige a estrela espanhola e internacional Penélope Cruz (Coppa Volpi ou Prémio de Interpretação do ano passado), num terno e instável no contexto, drama familiar que se passa na Roma dos anos 70; e que tem um inicio absolutamente fulgurante e musical protagonizado pela protagonista e três crianças que fazem de seus filhos. O realizador nascido em Roma está acostumado e bem a fazer um cinema que atravessa e supera poeticamente as distâncias entre países e culturas e mesmo entre realidade e os sonhos: Nuovomondo’, que o consagrou entre vários prémios, com o Leão de Prata de Revelação em Veneza 2006 e depois com ‘Terraferma’, Grande Prémio do Júri em 2011. ‘L’Immensità’, como todos os seus outros filmes anteriores, é mais um filme sobre a família: Clara e Felice, que já não se amam e que se mantêm juntos por causa dos filhos, sendo que a mais velha, Adriana, tem doze anos e tem um conflito interno ligado à sua propria identidade, que também mexe com os pais. ‘L’Immensità’, é também uma história sobre a inocência de três crianças e sua profunda relação com a mãe, já que o pai parece quase sempre ausente ou presente apenas para reprimi-las. Penélope Cruz tem também mais uma vez um papel à sua medida tornando-se de certeza fundamental, na criação desta personagem, sobretudo pela sua enorme sensibilidade e a sua extraordinária capacidade de interagir com os três belíssimos não-atores que nunca antes representado e que por isso no filme permanecem sempre crianças e como tal sempre intensa e imensamente verdadeiras. As cantigas da época são maravilhosas, culminado no genérico final com uma versão em italiano de ‘Aguas de Março’, de Elis Regina.

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Cinco anos passaram desde a última aparição de Darren Aronofski em Veneza ou melhor em 2017 com ‘Mãe’, um filme estranho, uma espécie de parábola hermética escrita a partir dos Novo e Antigo Testamentos, e protagonizado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem. Na verdade, este realizado que tem uma faceta de filósofo tem sempre demonstrado um certa lealdade para com o Festival de Cinema de Veneza. Em 2006, esteve cá com The Fountain—O Último Capítulo’ (2006), um dos seus filmes de menor sucesso e que dalguma forma foi arrasado da crítica. O oposto aconteceu com ‘O Lutador’ (2008), vencedor do Leão de Ouro em 2008 — em detrimento do seu extraordinário e ‘ressuscitado’ intérprete Mickey Rourke, que por regra do festival não poderia ganhar uma merecida Coppa Volpi. Em 2010 todos ficámos encantados com a graciosa e perturbadora Natalie Portman, em ‘O Cisne Negro’, com o qual meses depois ganharia o Oscar de Melhor atriz. Nesta sua quinta aventura na competição, mais uma vez Aronofski dá uma oportunidade de relançar um actor que se perdeu, depois de sua glória juvenil em ‘A Múmia’: Brendan Fraser é um maravilhoso protagonista de ‘The Whale’, um filme retirado da peça homónima de Samuel D. Hunter, que conta a história de Charlie, um professor de inglês, que após a morte do seu companheiro, passou a comer bulimicamente, para aliviar a sua dor, chegando a pesar 266 kg e isolando-se do mundo. O seu único desejo parece ser, reconstruir um relacionamento com sua filha Ellie (Sadie Sink), de 17 anos, que abandonou assumindo a sua homossexualidade, para ir viver o grande amor com o parceiro.

79º Festival de Veneza
via 79º Festival de Veneza/Brandon Fraser em ‘The Whale.

Para Charlie, torna-se mesmo assim e agora, mostrar à filha quem é o seu pai realmente e o quanto ela é importante para ele. Trata-se da sua última esperança de redenção e de uma vida quebrada. ‘The Whale’ soa também um pouco a temas já tratados em ‘O Lutador’. Porém, com esta interpretação Fraser já está certamente entre os candidatos ao Prémio de Melhor Ator, e não só aqui no Festival de Veneza 2022. Ao seu lado encontramos Sadie Sink, a jovem actriz que participa na série ‘Stranger Things’ e que interpreta precisamente a filha Ellie. O elenco também inclui a um saudado regresso da britânica Samantha Morton e  Ty Simpkins, o jovem protagonista da saga de terror ‘Insidious’.

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VÊ TRAILER DE ‘LES ENFANTS DES AUTRES’

‘Les enfants des autres’ de Rebecca Zlotowsky (‘Grand Central’, 2013) é uma daquelas história pessoais e simples que se torna quase universal. Trata-se quase de uma espécie de parábola pessoal, levemente disfarçada, com seu companheiro de vida, o realizador francês Jacques Audiard. A bela Rachel (Virginie Efira) ama a sua existência, os seus alunos, os seus amigos, o seu ex-marido, as suas aulas de guitarra. É pode-se dizer uma mulher bem com a vida, mas torna-se ainda mais realizada ao apaixonar-se por Ali (Roschdy Zem), pai de Leila, uma menina de quatro anos, com quem começa a relacionar profundamente. Aconchega-a, protege-a e ama-a exatamente como se fosse sua mãe. Porém, Rachel é uma mulher de quarenta anos, e o desejo de ter uma família própria  começa a intensificar-se, ao mesmo tempo que o relógio biológico corre rápido e impiedoso contra ela e os seus objectivos. A realizadora, argumentista e atriz francesa, Rebecca Zlotowsky, de 42 anos, já tinha estado em Veneza em 2016 com ‘Além da Ilusão’, apresentado fora de competição, enquanto no ano seguinte foi membro do júri Orizzonti. Na sua quinta longa-metragem, a realizadora francesa, traz-nos um belo fresco no feminino, pondo a mão num passado pessoal capaz de estar presente e conseguir uma enorme empatia e identificação com os espectadores. Entre os protagonistas, além de Chiara Mastroianni, destaca-se ainda o fabuloso actor Roschdy Zem, que se encontrará na desconfortável posição de ter de lutar contra si mesmo, como realizador presente na competição de Veneza 79, com o seu filme ‘Les Miens’, a sua sexta longa-metragem atrás das câmeras. 

JVM 

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