MOTELx ’16 | Grandes vencedores e considerações finais
Já terminou a 10ª edição do MOTELx, um festival marcado, como sempre, pelo melhor que o cinema internacional tem para oferecer às audiências lisboetas.
Este ano marcou-se o 10º aniversário do MOTELx, o grande festival de cinema de terror em Lisboa, e, para marcar essa ocasião muitas novidades e eventos especiais foram organizados. Começámos logo com um warm-up marcado por passeios temáticos e festas em volta do Rocky Horror Picture Show. Mas foi no dia 6 que o festival realmente começou com Não respires a marcar a sessão de abertura. A isso, seguiram-se cinco dias em que o Cinema São Jorge e o Teatro Tivoli receberam o que de melhor se tem feito no cinema de terror nos últimos dois anos.
Nas duas competições principais, Melhor-Longa Metragem Europeia, que foi uma estreia desta edição, e Melhor Curta-Metragem portuguesa, os vencedores foram The Noonday Witch e Post-Mortem, respetivamente. The Noonday Witch é a primeira produção checa a marcar presença no MOTELx e propõe uma visão pouco ortodoxa do terror, onde, ao invés da negrura de espaços claustrofóbicos, o cenário principal do filme é o exterior iluminado pela brutalidade do sol. Post-Mortem, realizado por Belmiro Ribeiro, conta a história de um fotógrafo que acidentalmente testemunha um assassinato e é depois fascinado pela vítima mortal. Como menção honrosa, o júri selecionou ainda Palhaços de Pedro Crispim devido à sua qualidade estética e ao uso da cor na fotografia. As duas fitas vencedoras vão agora prosseguir para a competição aos prémios Méliès d’Argent de cinema fantástico.
Tal como já foi anteriormente divulgado, o júri deste ano foi composto por Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, o produtor cinematográfico Mick Garris e pelo cineasta italiano Ruggero Deodato, cuja grande opus, Holocaustro Canibal, foi exibida nesta edição do MOTELx. Para além da carreira de Deodato, as festividades também incluíram a celebração de outros grandes mestres do cinema fantástico, como o polaco Walerian Borowczyk que sempre veio a construir obras onde o erotismo se associava a insólitas visões do terror e do grotesco.
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Outro cineasta que foi especialmente honrado foi o português António de Macedo que viu, finalmente, o seu filme O Segredo das Pedras Vivas chegar aos cinemas. Nos anos 90, a RTP encomendou a Macedo uma minissérie em torno de um tema natalício e o realizador construiu uma história fantástica sobre a destruição de património histórico e as consequências sobrenaturais que um bruxedo levanta sobre uma comunidade rural. Esse projeto sempre teve em consideração uma possível reedição para o cinema, que foi, como já dissemos, apenas feita agora e exibida no MOTELx, numa sessão em que o realizador envelhecido recebeu uma longa ovação de pé, sendo dos poucos cineastas portugueses a alguma vez tratar do fantástico na sua filmografia.
Outra obra televisiva a ter especial exibição no Cinema São Jorge foi Beyond the Walls, uma produção francesa de três episódios que conta com a participação da atriz belga Veerle Baetens no papel principal e Geraldine Chaplin como uma entidade antagonista. Graças a verdadeiros milagres de cenografia e fotografia, esta produção é um verdadeiro pesadelo do ecrã, criando uma atmosfera que, apesar de não ser rica em momentos choque, cria no espetador uma horrenda sensação de desconforto psíquico.
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Agora já num panorama completamente cinemático, existem ainda outros títulos a destacar como, por exemplo, Under the Shadow e Tenemos la carne, outros dois filmes que também demonstram maravilhas cenográficas como modo de criar terror, assim como mostram o aparente poder miraculoso da fita adesiva. O festival também ficou marcado por obras vindas dos grandes festivais de cinema da Europa, como Shelley que anteriormente tinha sido apresentada na Berlinale e o par de Personal Shopper e The Wailing, que passaram em Cannes. Personal Shopper é um exemplo particularmente interessante, pois usa gramáticas do cinema de terror que logo a seguir subverte e desconstrói de um modo ousado mas que, para uma audiência fanático apelo terror tradicional, poder-se-á revelar muito alienante. O mesmo se pode dizer de The Transfiguration, outra proposta pouco ortodoxa para este festival ou K-Shop, onde o gore é rapidamente descartado em prol da crítica social enfurecida.
Este ano, a Magazine HD fez a cobertura do MOTELx a partir de várias análises aos filmes em exibição, sendo que deixamos aqui um ranking dos títulos visionados, assim como links (basta carregar nos títulos a azul) para os textos em questão.
- Personal Shopper
- The Wailing
- Under the Shadow
- Psiconautas, los niños olvidados
- Beyond the Walls
- De Palma
- Demon
- The Transfiguration
- Tenemos la carne
- Shelley
- Tickled
- Pet
- The Master Cleanse
- K-Shop
- O Segredo das Pedras Vivas
- The Purge: Election Year
Ficamos à tua espera para o ano, onde certamente o Motelx vai voltar a trazer gloriosos pesadelos cinematográficos às salas de cinema lisboetas. Não percas!