13º IndieLisboa | Considerações finais

O 13º IndieLisboa terminou, tendo sido uma edição marcada por documentários ousados e onde uma das mais gloriosas obras foi mesmo um filme amador.

treblinka indielisboa

Mais um ano, mais uma edição do fantástico IndieLisboa, um dos mais celebrados e importantes festivais de cinema do nosso país. Todos os anos, desde 2004, a capital portuguesa é invadida por filmes independentes de todo o mundo, sendo que as suas origens variam grandemente, assim como seus registos e ambições. Muitas são as obras que encontram no Indie a sua primeira introdução a um público português depois de uma série de exibições noutros prestigiosos festivais à volta do mundo, enquanto outras obras têm mesmo a sua estreia absoluta no contexto desta celebração do cinema independente.

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Esse tipo de estreias são maioritariamente filmes portugueses, sendo que a competição nacional do Indie continua a ser uma importante plataforma no lançamento de grandes vozes do nosso recente cinema nacional. O vencedor do prémio de melhor longa-metragem nacional desta edição, por exemplo, foi Treblinka, realizado por Sérgio Tréfaut que se tem afirmado, ao longo dos anos, como um dos grandes favoritos autores deste festival, que já o havia reconhecido outras vezes, depressa valorizando o seu trabalho, mesmo quando a sua filmografia era muito mais escassa em títulos.

Cartas da Guerra indielisboa

A salientar, fora da competição de longas-metragens nacionais, estão as várias curtas exibidas, que, juntamente com as longas, formaram uma seleção de cerca de 40 obras portuguesas em passagem pelo Indie. Entre essas curtas, há que salientar Balada de um Batráquio, que chegou a este festival lisboeta a seguir a ser honrado em dois importantes festivais estrangeiros, o de Hong Kong e, é claro, a Berlinale. Também oriundo do Festival Internacional de Berlim foi Cartas de Guerra de Ivo Ferreira, por muitos críticos apontado como um dos melhores filmes a serem exibidos nas festividades da capital alemã no início deste ano.

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Isabelle Huppert é Nathalie indielisboa

Também da Berlinale vieram muitos outros títulos, incluindo a obra vencedora do Urso de Prata, o subtilmente espetacular L’avenir, onde Mia Hansen-Love concebeu um tocante retrato humano de uma professora de filosofia que tem de sobreviver e seguir em frente a uma montanha de desgraças que sobre ela se abatem em rápida sucessão. Em conjunto com Berlim, Cannes, Veneza e Locarno são os mais importantes e mediáticos festivais europeus, e todos tiveram algumas das suas obras premiadas em exibição no Indie. De Cannes, por exemplo, esteve A Lagosta que foi ontem exibido como última sessão da magnífica secção denominada Boca do Inferno. De Veneza, Desde allá, apresentado na seleção de longas-metragens da secção Silvestre, foi outra obra laureada a receber posição de destaque no Indie. Finalmente, de Locarno, Nueva Vida, uma curta-metragem que voltou a ser honrada em território português, arrecadando o galardão para Melhor Curta em Competição Internacional.

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Raiders of the Lost Ark: The Adaptation indielisboa

Apesar de todos esses áureos títulos, há que se referir como um grande prazer do Indie é sempre a descoberta de obras que muitas vezes passam despercebidas noutros circuitos. Raiders of the Lost Ark: The Adaptation é um dos mais luminosos exemplos disso mesmo, acabando por se revelar como uma das mais preciosas criações em exibição na 13ª edição do IndieLisboa. Com o seu orçamento à base de mesadas, prendas de Natal e caridade de fãs dedicados, esta homenagem amadora ao génio da primeira aventura de Indiana Jones é possivelmente o filme que melhor representou o conceito de cinema independente, assim como foi a obra que melhor demonstrou a força motriz para tantos destes festivais e eventos, o amor pelo cinema.

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Brüder der Nacht indielisboa

Tendo em mente a glória desse filme amador, há também que louvar outros tipos de filmes, mais sofisticado e longe do amadorismo. Essa sofisticação não é só presente na técnica e primorosa execução, mas também no modo como os cineastas lidam com os limites e convenções do cinema contemporâneo, como as encaram de frente e com elas rompem em inteligentes epítetos de subversão e insana experimentação. Nesse panorama, o documentário que mistura elementos fictícios e concebe novas noções de realidade cinematográfica é o grande herói deste IndieLisboa. Já o ano passado, uma obra neste registo tinha ganho o prémio para Melhor Longa-Metragem Nacional, como que num agoiro da montanha de documentários experimentais que este ano marcaram gloriosa presença nas salas de cinema lisboetas. Entre esses vários filmes, que também incluíram Treblinka e Brüder der Nacht, entre outros, estão em especial destaque as que colocaram a figura do ator como principal sujeito e veículo investigativo dos seus filmes. Falamos, pois claro, do trio de filmes composto por Kate Plays Christine, Olmo e a Gaivota e o português O Lugar que Ocupas.

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o lugar que ocupas indielisboa

Considerando todos estes fatores, é fácil manifestar admiração pelo IndieLisboa que, apesar de continuar a mostrar algumas nocivas limitações estéticas na sua seleção em competição, é uma inegável visão paradisíaca para qualquer cinéfilo com sorte e meios suficientes para poder apreciar alguma da sua variada oferta. Este ano, a Magazine HD fez uma cobertura extensiva, completa com mais de 20 análises individuais dos títulos em exibição.

 


 

RANKING DOS FILMES DO INDIELISBOA

Como nota final, deixamos aqui um ranking qualitativo das várias longas-metragens visionadas no intuito desta cobertura, assim como links para cada uma das críticas, seu realizador e sua secção dentro do festival.

  1. Raiders of the Lost Ark: The Adaptation, Eric Zala (Boca do Inferno)
  2. Kate Plays Christine, Robert Greene (Competição Internacional)
  3. Desde allá, Lorenzo Vigas (Silvestre)
  4. Olmo e a Gaivota, Petra Costa e Lea Glob (Competição Internacional)
  5. Boi Neon, Gabriel Mascaro (Silvestre)
  6. Brüder der Nacht, Patric Chiha (Boca do Inferno)
  7. O Que Está Para Vir, Mia Hansen-Love (Sessão de Encerramento)
  8. Un monstruo de mil cabezas, Rodrigo Plá (Boca do Inferno)
  9. The Witch, Robert Eggers (Boca do Inferno)
  10. A Lagosta, Yorgos Lanthimos (Boca do Inferno)
  11. Ce sentiment de l’été, Mikhael Hers (Competição Internacional)
  12. Treblinka, Sérgio Tréfaut (Competição Nacional)
  13. Amor e Amizade, Whit Stillman (Sessão de Abertura)
  14. Flotel Europa, Vladimir Tomic (Competição Internacional)
  15. Ilegitim, Adrian Sitaru (Silvestre)
  16. Mate-me Por Favor, Anita Rocha da Silveira (Competição Internacional)
  17. Le Fils de Joseph, Eugène Green (Silvestre)
  18. James White, Josh Mond (Comeptição Internacional)
  19. Jia, Shumin Liu (Competição Internacional)
  20. Un etaj mai jos, Radu Muntean (Silvestre)
  21. Estive em Lisboa e Lembrei de Você, José Barahona (Competição Nacional)
  22. O Lugar Que Ocupas, Pedro Filipe Marques (Competição Nacional)
  23. 6A, Peter Modestij (Silvestre)
  24. Chevalier, Athina Rachel Tsangari (Competição Internacional)
  25. O Novo Aluno, Rudi Rosenberg (IndieJúnior, Silvestre)
  26. Love, Gaspar Noé (Boca do Inferno)

 


Não percas o IndieLisboa quando este regressar para o ano, nem as coberturas de festivais de cinema que a Magazine HD tem o prazer de trazer aos mais dedicados cinéfilos!


 


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