Este filme vencedor dos Óscares está prestes a abandonar o streaming nacional
O Vencedor do Oscar, BAFTA e Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 2016 (2017 no caso do BAFTA) “O Filho de Saul” de László Nemes decorre durante a II Guerra Mundial. Neste filme, Saul, um sonderkommando nos campos de concentração tenta fazer um funeral digno ao seu filho, morto no contexto da Guerra.
A longa-metragem, distribuída em Portugal pela Midas Filmes, encontra-se disponível na FilmIn, mas está mesmo prestes a sair do catálogo. Tens até 18 de maio para ver o filme. Esta é, portanto, uma das últimas oportunidades que tens para veres esta importante obra. Caso não consigas ver a tempo, tens ainda a possibilidade de comprar o DVD por 5€ na loja online do Cinema Ideal.
Um filme extremamente claustrofóbico
Filmado em 4/3, película 35mm e praticamente a tempo inteiro em Grandes Planos, “O Filho de Saul” é um filme pesado. Mantemo-nos com o protagonista praticamente a tempo inteiro e é ele que nos guia pelos horríveis corredores dos campos de concentração e sobretudo das câmaras de incineração.
“O Filho de Saul” foi a primeira longa-metragem de László Nemes e venceu ainda o Grande Prémio no Festival de Cannes de 2015. É um filme visualmente diferente, com muito pouca profundidade de campo e onde o som é fundamental para criar o clima de terror dos espaços que nunca vemos nitidamente.
O Filho de Saul e o irrepresentável
Com “O Filho de Saul”, o realizador Laszló Nemes não tem o objetivo de representar por inteiro esta realidade histórica. Certamente que ele conhece o conceito de irrepresentável que Georges Didi-Huberman aborda em “Imagens Apesar de Tudo”. Assim, o trabalho do som neste filme é igualmente importantíssimo para dar todos os fora-de-campo. É impossível representar isto. Só quem viveu sabe o que foi.
Em casa, não é possível (infelizmente) ter uma noção tão grande da envolvência do trabalho de som de “O Filho de Saul”, tal como aconteceria numa sala de cinema ou auditório. Assim, caso tenhas uma boa televisão (ou mesmo projetor) e um sistema de home cinema com colunas, este é daqueles filmes onde é necessário utilizares.
No que diz respeito ao conhecimento de Georges Didi-Huberman por parte do realizador, isso fica notório numa emblemática cena do filme onde um colega de Saul fotografa, num momento de distração dos guardas, o momento da incineração de corpos ao ar livre. O propósito da reflexão de Didi-Huberman do proibido destas imagens vem precisamente de umas fotografias captadas por um prisioneiro da II Guerra Mundial. Mais tarde, no âmbito da exposição “Mémoire des Camps” (2001) estas fotografias surgiriam re-enquadradas para uma melhor leitura. Porquê? Todo o caráter do proibido e da resistência destas imagens simbólicas perde-se.
“Para saber é preciso imaginar-se.” é uma das frases-chave de Georges Didi-Huberman. Assim, com “O Filho de Saul”, László Nemes deixa ao espectador imaginar (parcialmente) o que foi esta realidade. Como a imagem de cinema é sempre parcelar, László Nemes não encena totalmente esta realidade histórica e dá ao espectador, com recurso ao som e aos fora-de-campo, uma pequena parte deste horror. Sentimos pelo som. Há um distanciamento imagético mas, ao mesmo tempo, há uma aproximação sonora.
Anoitecer, também de Lászlo Nemes igualmente disponível na FilmIn
Por fim, caso gostes de ver “O Filho de Saul”, podes ainda ver a segunda longa-metragem do realizador “Anoitecer” (2018) também na FilmIn. Pelo contrário, este filme não tem ainda data para sair do catálogo.
“Anoitecer” é igualmente ambientado numa guerra, neste caso a I Guerra Mundial. Neste filme Irisz Leiter, 20 anos, chega a Budapeste depois de ter passado a infância e adolescência num orfanato. Na procura de respostas sobre o que aconteceu à sua família, Irisz depara-se com segredos sombrios e é arrastada para o turbilhão do início da I Guerra Mundial.