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DocLisboa ’25 | A Scary Movie – Análise

O DocLisboa decorre em 2025 entre os dias 16 e 26 de outubro, com uma seleção rica de cinema documentário a chegar à capital. No primeiro dia do certame vimos “A Scary Movie” ou “Una Pelicula de Miedo”, um filme sobre a evocação do medo que acaba por ser antes o tratado sobre a intimidade (ou distância) entre pai e filho.

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“A Scary Movie” é uma docuficção repleta de empatia e relações familiares e de amizade. Como Daniel Blaufuks mencionou no Q&A, este é um filme sobre improvisação, um produto da imaginação e da inventividade. A obra já competiu em festivais como ficção, mas também como documentário. É um belo tratado reflexivo sobre medo e os fantasmas que nos assombram.

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A Scary Movie e os fantasmas do nosso quotidiano

 

Da parte do realizador e argumentista Sergio Oksman obtemos algumas frases-chave sobre as quais não conseguimos deixar de pensar – “Mais tarde ou mais cedo, todas as imagens comportam fantasmas. É isso que me assusta“. Neste filme, temos direito aos fantasmas de um hotel abandonado, aos fantasmas da infância do filho do realizador, aos fantasmas de um assassino em série, aos fantasmas dos nossos próprios receios.

Como é frequentemente o caso, também em “A Scary Movie”, a distância torna o objecto cinematográfico mais interessante. Isto porque Sergio Oksman e o seu filho Nuno ficaram num hotel abandonado perto do aeroporto já há dois anos. Os derradeiros hóspedes de um hotel abandonado, tal como o hotel do “Shining”. Mas eis que Sergio e Nuno vêm este filme, e Nuno não fica minimamente assustado. Nem tão pouco os fantasmas do hotel, como o senhor Artur ( o habitante de um quarto que partiu sem levar os seus pertences), o assustam.

E eis que os fantasmas literais não são os únicos mencionados neste documentário livre e original. Oksman pensa a relação com o seu filho, prestes a entrar na adolescência, e também a relação mal fadada com o seu pai distante, que morreu enquanto gravava um documentário com o filho. Outro fantasma captado em câmara e que regressa nesta “Una Pelicula de Miedo” para nos atormentar.

Una Pelicula de Miedo – Uma história livre

Além de tentar sempre introduzir novas camadas de medo, há que dizer que Sergio Oksman consegue escolher muito bem os planos a introduzir no seu filme. O que não falta são planos e sequências escuras muito bem filmadas, entre elas inclusive sequências de noite. Louvamos este esforço num filme que se mede “pequeno” a partir de várias perspectivas: pequeno em orçamento, pequeno em duração, mas não de todo pequeno em qualidade ou capacidade de pensar fora da caixa.

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Inteligentemente, o realizador recupera os seus próprios fantasmas, seja o seu pai ou o fantasma de filmagens passadas na cidade de Lisboa que havia deixado para trás. Particular sucesso com a alusão à história de Diogo Alves, o assassino do aqueduto de Lisboa, cuja cabeça preservada vemos filmada, num plano do filme que é efetivamente capaz de gerar medo e desconforto profundos.

Em “A Scary Movie” recuperamos histórias assustadoras lisboetas, através de material de arquivo e reconstituições. Entretanto, pequenas reflexões aqui e ali elevam o material dramático. Ao ver um filme antigo nos arquivos da Cinemateca, aqui geridos por Ana Moreira, ouvimos perguntar: “Todos os Atores Estão Mortos” – “Imagino”. Eis que os pequenos terrores se intrometem na nossa mente. Quantos dos atores que vemos em filmes antigos já partiram? E quando será a nossa vez?

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Vida e morte, família e laços de amizades, relações são exploradas com uma naturalidade desarmante neste “A Scary Movie”, que exibe no DocLisboa em duas sessões distintas e que na primeira teve direito à participação do também realizador e aqui ator Daniel Blaufuks e ainda do produtor da fita.

Destacam-se a enternecedora relação entre pai e filho, o imaginário rico do hotel, o arquivo da Cinemateca, e o encontro com um pai ausente. E se o filme perde um pouco o fio à meada e a linha narrativa nesta altura, acaba por ser pelo melhor. A naturalidade por vezes sacrifica o sequencial.

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Dose dupla deste filme no DocLisboa ’25

Una Pelicula de Miedo poster
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O pai é mais um dos seus fantasmas, num filme que não sendo assustador conta com muitas figuras espectrais. Estas são bem filmadas histórias de luto, sempre com um humor exímio e sem medo de nos mostrarem o artefacto. Como Blaufuks  confirmou, este é um filme “de instinto” e um “filme de afectos” e muito ganha por ter o coração fora do peito, bem perto de quem vê e sente a obra.

“Una pelicula de miedo”, ou “A Scary Movie”, repete no Doclisboa, a 24 de outubro, na secção “Da Terra à Lua”. Aconselhamos uma visita à Culturgest a quem ainda não descobriu a obra.

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A Scary Movie - Análise

Conclusão

  • “A Scary Movie” apresenta-nos os mais assustadores fantasmas pessoais de uma forma livre e franca, honrando o seu filme com um formato corajoso do docuficção.
Overall
7.5/10
7.5/10
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