The Walking Dead | Coda em Análise

 

Todos os anos “The Walking Dead” é dividido em duas partes. Esta semana analisamos o oitavo episódio da quinta temporada, que funciona como uma espécie de finale para a primeira metade da temporada, e que põe fim ao arco narrativo narrado ao longo do último mês .

the walking dead metralhadoras

Comecemos pela excelente cena de abertura do episódio desta semana, que continuou a história do prisioneiro fugitivo da semana passada. Caso não se lembrem, um dos guardas capturados pelos “nossos heróis”, aproveitou a boa fé de Sasha para fugir e tentar voltar para o hospital. Embora não pareça, à partida, um tipo malvado, não há dúvida que as suas ações foram traiçoeiras e desnecessárias, tendo em conta a boa fé demonstrada por Rick e o seu grupo. Quando Rick finalmente o apanha e lhe pergunta porque decidiu trair a confiança deles, a razão que dá é legítima mas não justifica a forma irrefletida como procedeu.

No final, Rick trata da situação de forma rápida e eficaz, o que se traduz numa das melhores cenas não só deste episódio mas também de toda a primeira parte da temporada. Infelizmente, depois da cena de abertura espetacular o episódio foi piorando progressivamente (um pouco à semelhança desta mid season em geral). Mas não nos precipitemos!

walking dead pistolas Rick e Daryl

Uma das grandes armas desta série é a sua capacidade de atribuir às personagens um verdadeiro valor sentimental aos olhos da audiência. Somos levados, ao longo de inúmeras horas, distribuídas ao longo de vários anos, a conhecer bastante bem estas personagens que se tornaram quase nossos amigos. Rick, Michone, Carl, Glenn, Maggie, Daryl, Carol, Beth… acompanhamos as vidas destas personagens há tanto tempo que é quase impossível não sentir alegria quando elas triunfam e tristeza quando elas sofrem ou, ainda pior, morrem.  Neste episódio, uma vez mais, fomos obrigados a presenciar momentos de grande tensão e, eventualmente, de grande tristeza das nossas personagens, e a verdade é que este tipo de momentos sempre funciona bastante bem nesta série e este caso não constitui uma exceção.

De fato, as inúmeras qualidades da série estão presentes, em maior ou menor medida, no último episódio: as grandes atuações, principalmente de Andrew Lincoln (Rick) e Norman Reedus (Daryl), que são neste momento as duas grandes figuras da série; o suspense, alimentado continuamente pela música sombria e pela fotografia, bela, trágica e ocasionalmente poética; os ótimos valores de produção; e, acima de tudo, o estudo profundo de personagens em constante conflito interno e externo, as escolhas difíceis, os dilemas morais e a consequente exploração da natureza humana.

the walking dead coda sniper

Apesar disso, a história em si é bastante pior do que aquilo a que esta série nos tem acostumado. Na verdade, este episódio constitui, lamentavelmente, uma conclusão fraca daquele que foi, possivelmente, o pior arco narrativo da série até agora.

A ideia principal consistia na existência de uma comunidade fundada no princípio de subserviência dos fracos perante os fortes, por apenas eles serem capazes de assegurar a manutenção da ordem e da civilização num mundo sem leis e repleto de perigos. Em tal sociedade todos desempenhariam um papel importante e justificariam a sua razão de existir. Tal estado de coisas seria estritamente temporário, e deixaria de ser necessário assim que a situação do mundo voltasse de alguma maneira à normalidade.

De um ponto de vista filosófico, a sociedade do hospital tinha bastante potencial e poderia ter sido explorada bastante mais a fundo do que finalmente o foi. Um conflito entre esta comunidade essencialmente fascista e o grupo essencialmente democrático de Rick, Daryl e companhia poderia ter sido extremamente interessante. Infelizmente, tal conflito praticamente não teve lugar.

O conflito principal explorado neste arco acabou por ser simplesmente a rivalidade entre Beth e Dawn. O episódio tentou apresentar Beth como a grande libertadora dos oprimidos de tal sociedade mas deu “um tiro no pé” ao apresentar uma imagem de Dawn diferente. No fim de contas, Dawn até nem era tão má pessoa quanto isso e no fundo queria apenas proteger todos os sobreviventes dos perigos do mundo (inclusivamente de alguns dos seus subordinados menos escrupulosos que até eram bem piores do que ela). Consequentemente, ao atacar Dawn e deixar os outros polícias no poder, a impressão com que ficamos é que Beth acabou por resolver um problema e criar outro ainda maior.

walking dead dawn

Levávamos vários episódios de preparação para este grande final, e a verdade é que a sensação predominante é de deceção. A história da sociedade do hospital, dos polícias e da Beth tinha um enorme potencial mas o resultado final acaba por ser fraco, pelo menos comparado com aquilo a que estamos habituados a ver nesta série. Assim sendo, é quase impossível não pensar que teria sido muito melhor ter vários episódios sobre “os caçadores” (os três que tivemos foram magníficos) em vez destes episódios abaixo da média centrados na Beth e na comunidade liderada por Dawn. Seja como for, este episódio acabou por reunir todas as personagens principais uma vez mais, o que constitui um excelente ponto de partida para o começo de um novo arco narrativo. Esperemos que este novo arco seja mais “caçadores” e menos “polícias”.

Concluindo, embora tenha nos oferecido alguns bons momentos o último episódio de “The Walking Dead” ficou aquém das expectativas. Depois do excelente começo, a quinta temporada desta série caiu bastante em qualidade. Mesmo assim, tratando-se de “The Walking Dead”, cremos que a série recuperará a boa forma depois desta pausa de inverno, e voltará a surpreender-nos de forma positiva na segunda metade da temporada.

 

Bruno Vargas

 

+ cena inicial
– desfecho anti-climático
– potencial desperdiçado

 

NOTA: 6/10

 

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