A Bela e o Monstro | As modas de LeFou, Maurice e restantes aldeões
A nossa análise dos figurinos de A Bela e o Monstro chega ao fim com a exploração do guarda-roupa de LeFou, Maurice e os vários aldeões vizinhos de Belle.
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Na página anterior, explorámos o estilo pomposo de Gaston sem falar, no entanto, do seu fiel companheiro LeFou que é interpretado por Josh Gad. Juntamente com o vilão, este antigo antagonista secundária é uma das personagens mais alteradas do filme de animação de 1991. Por um lado, temos a muito publicitada homossexualidade da personagem que nos dá uma interessante motivação por detrás da absoluta devoção de LeFou para com o atraente, mas muito vil, Gaston. Seguidamente, temos também um novo arco narrativo que dá a LeFou a sua própria história de redenção pessoal e o torna, efetivamente, numa personagem completamente diferente em tudo menos nome do seu análogo animado.
Essa diferença estende-se à concretização visual de LeFou que já não é um caricato anão de dentes gigantes. Em termos de vestuário, LeFou veste-se de modo quase tão aprumado e impecável como Gaston e é mesmo esse bem-parecido patife que constitui o principal ponto de referência para o estilo pessoal de LeFou. O que queremos dizer com isso é que as roupas de LeFou estão sempre a referenciar as indumentárias de Gaston, primeiro através das linhas militares e, mais tarde, somente através do vermelho do seu lenço ao pescoço.
No final, quando tudo acaba bem e testemunhamos uma celebração no castelo já livre de qualquer maldição nefasta, LeFou está entre os heróis e até tem direito a um final feliz típico da Disney que, como sempre, tem de dar a praticamente todas as personagens secundárias um par romântico antes de os créditos começarem. O seu par é um dos homens da aldeia, que no assalto ao castelo parece ter uma epifania identitária quando Madame Garderobe o cobre de adornos femininos, e, como é costume nestes casos, as cores e linhas do seu figurino são desenhadas especialmente para condizer com LeFou.
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Talvez a única personagem secundária completamente benigna e com alguma relevância narrativa que não termina emparelhada seja mesmo Maurice, o pai de Belle que, mesmo assim, já conheceu a doçura do amor verdadeiro no passado. Ao contrário de LeFou e Gaston, a evolução da personagem em relação ao filme de 1991 é mais cosmética que tonal, sendo que a grande diferença textual é a sua nova atividade – ele é pintor e a sua filha é que é a inventora da família. Como tal, e em consequência do físico muito pouco rotundo do ator Kevin Kline, o seu figurino não tem qualquer referência ao Maurice de outrora.
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Vestido em roupas ligeiramente mais sofisticadas que os seus vizinhos que viveram toda a vida no campo, Maurice tem o aspeto de um artista parisiense fora da cidade onde cresceu. O próprio casaco que ele enverga durante quase todo o filme foi baseado nas batas de linho envergadas por pintores setecentistas e, para lhe salientar a excentricidade boémia, Kevin Kline fez questão de andar com alguns adereços estranhos na sua pessoa, como é o caso de múltiplos pares de óculos que, a certa altura, Maurice tem dispostos na sua gola como uma bizarra forma de bijuteria.
No que diz respeito aos restantes aldeões, já muito falámos das referências históricas que Jacqueline Durran vai tecendo pelo meio das figuras mais secundárias, como os toucados fontagne nas mulheres de uma certa idade ou o modo como as raparigas mais novas vestem estilos mais apropriados para a segunda metade do século XVIII como modo de distinguir as gerações. Contudo, existem ainda duas observações a considerar. Uma delas é positiva e refere-se ao modo como o casting do filme fez questão de incluir diversidade racial neste conto-de-fadas híper popular e de como Durran fez escolhas cromáticas apropriadas que tornam a população numa elegante visão de harmonia bucólica.
A segunda observação é menos positiva e refere-se ao caos de ruído visual gerado pela obsessiva quantidade de detalhes decorativos, texturas e padrões contrastantes no guarda-roupa dos figurantes. Isso pode ser singular culpa do diretor de fotografia e da incompetência de Bill Condon no que diz respeito à mise-en-scène mas não deixa de ser problemático. Na verdade, uma das poucas personagens que não está a afogar-se em ruído visual é a pedinte ostracizada Agathe que mais tarde vimos a considerar com novos olhos após algumas revelações.
Em última análise, o trabalho de Jacqueline Durran em A Bela e o Monstro é de uma impressionante exuberância e fausto que, apenas ocasionalmente, cai em epítetos de desinteressante e desagradável excesso de informação visual. Ao contrário da cenografia, que realmente causa dores de cabeça com a sua insana visão Rococó, os figurinos mostram um apreciável equilíbrio entre estilização teatral e pesquisa histórica, entre exagero dramático e relativa contenção. Tem algumas fragilidades mas, no geral, este é um impressionante feito de figurinismo e, apesar de ser ainda muito prematuro, já podemos começar a considerar Jacqueline Durran como uma das principais candidatas para o Óscar de Melhor Guarda-Roupa.
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