Courtesy of Marvel Studios - © 2024 MARVEL. (Editado por Vitor Carvalho, © MHD)

Capitão América: Admirável Mundo Novo, a Crítica | Harrison Ford salva o filme

Nem todos os escudos do Capitão América são feitos de vibranium, alguns são feitos de expetativas despedaçadas.

Num universo cinematográfico onde cada novo filme promete ser mais épico que o anterior, a Marvel demonstra que até os gigantes podem tropeçar. Com “Capitão América: Admirável Mundo Novo”, assistimos a uma tentativa ambiciosa de reinventar uma das suas personagens mais emblemáticas, apenas para nos depararmos com um resultado que faz mais perguntas do que oferece respostas. Cuidado: Spoilers do filme a partir daqui.

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Um regresso que mais parece uma despedida

Anthony Mackie em Capitão América - Admirável Mundo Novo
Eli Adé/© MARVEL 2024.

Sam Wilson, interpretado pelo sempre carismático Anthony Mackie, regressa como o novo Capitão América num filme que tenta desesperadamente provar que merece estar na mesma prateleira que “Soldado do Inverno” ou “Guerra Civil“.  A palavra-chave aqui é “tenta”.

A premissa é intrigante: Sam Wilson, agora oficialmente o Capitão América, deve enfrentar não só as ameaças físicas ao seu país, mas também o peso psicológico de carregar um dos símbolos mais importantes do universo Marvel. Adiciona a isto uma conspiração governamental, o regresso de Thaddeus Ross (agora Presidente dos Estados Unidos) e uma crise internacional que envolve adamantium – um metal ainda mais forte que o vibranium – e temos todos os ingredientes para um thriller político à altura dos melhores filmes do franchise. O problema? A execução.

A primeira hora do filme estabelece tantas histórias paralelas que seria preciso uma minissérie inteira para desenvolvê-las adequadamente. Temos o conflito de Sam com o seu novo papel, a investigação de uma tentativa de assassinato ao Presidente, uma crise geopolítica envolvendo a China, e ainda uma subtrama que envolve Isaiah Bradley que merecia, sozinha, ser o foco principal do filme.

A realização de Michael Sarnoski (conhecido por “Pig“) demonstra competência técnica, mas falha em capturar a energia cinética que tornou memoráveis as cenas de ação dos filmes anteriores do Capitão América. As sequências de combate, embora elaboradas, carecem da brutalidade visceral que tornava as lutas do Steve Rogers tão impactantes. Aqui, o Sam parece mais uma personagem de um videojogo com poderes ilimitados do que um homem a lutar com as suas limitações.

Quando o guião tropeça nas próprias pernas

Anthony Mackie e Harrison Ford em Capitão América
Foto por Marvel Studios/Courtesy of Marvel Studios – © 2024 MARVEL.

O filme sofre de um problema ainda mais grave: amnésia narrativa. É como se os guionistas se tivessem esquecido completamente dos eventos de “Capitão América: Guerra Civil”. Sam Wilson, que anteriormente se opôs veementemente aos Acordos de Sokovia, agora parece perfeitamente confortável em trabalhar diretamente para o governo americano sob condições ainda mais restritivas. Esta mudança de paradigma nunca é adequadamente explicada ou sequer reconhecida.

O filme tenta abordar questões complexas sobre imperialismo americano, responsabilidade governamental e o legado heroico, mas acaba por não desenvolver adequadamente nenhum destes temas. A descoberta do adamantium no Oceano Índico, que podia servir como catalisador para uma discussão fascinante sobre política internacional e recursos naturais, acaba reduzida a mero cenário para mais uma sequência de ação.

Giancarlo Esposito, um ator de calibre extraordinário, é completamente desperdiçado num papel de vilão genérico, digno de um filme de ação B dos anos 90. A sua personagem, supostamente um estratega brilhante, toma decisões tão ilógicas que chegam a ser cómicas. Uma cena em particular, na qual decide atacar Sam Wilson em plena luz do dia, numa rua movimentada, é especialmente desconcertante. Felizmente – ou infelizmente, dependendo do ponto de vista – a sua participação no filme nem dura dez minutos.

Nem tudo é de deitar fora

Red Hulk/President Thaddeus Ross (Harrison Ford) em Capitão América - Admirável Mundo Novo
© 2024 MARVEL.

Apesar das suas falhas narrativas, o filme oferece momentos dignos de destaque, principalmente através da atuação carismática de Harrison Ford como Ross e de uma realização visual que, em certos momentos, brilha com luz própria. Os temas políticos, ainda que mal explorados, tentam trazer um ar de seriedade ao universo Marvel, e o arco de Ross emerge como a joia da coroa num filme que, de outra forma, se perderia no seu próprio caos.

O arco de Thaddeus Ross é, sem dúvida, o mais bem construído. A sua jornada de redenção — um homem outrora obcecado por controlo, agora confrontado com a mortalidade e o desejo de reconciliar-se com a filha — é tocante. A cena em que, num momento de vulnerabilidade, telefona à filha para marcar um passeio sob as cerejeiras é um sopro de humanidade num filme repleto de CGI. A decisão final de Ross de assumir a culpa e entregar-se à justiça, culminando num abraço simbólico com a filha, é um final digno de um drama político de verdade.

Na realização, destacam-se as escolhas estéticas: cenários bem iluminados e uma paleta de cores que oscila entre o sombrio e o épico, lembrando-nos que, por trás da confusão narrativa, há uma equipa de arte que sabe pintar quadros impressionantes. A sequência do discurso público de Ross, com planos fechados no seu rosto marcado pelo remorso, é um exemplo de como a realização consegue, pontualmente, elevar o material escrito. Claro, não é nenhum “Citizen Kane”, mas é bem feito.

O legado perdido

Anthony Mackie em Capitão América
Foto por Marvel Studios/Courtesy of Marvel Studios – © 2024 MARVEL.

A ausência de Steve Rogers paira sobre todo o filme como um fantasma não exorcizado. Embora compreenda a necessidade de estabelecer Sam Wilson como o seu próprio Capitão América, o filme parece temer mencionar o seu predecessor, que, pelo que sabemos, ainda está vivo e interessado nos eventos atuais. A sua ausência é estranha, já que ele certamente teria motivos para conversar com o Sam, criando um vazio narrativo que nem mesmo o carisma de Anthony Mackie consegue preencher completamente.

Assim, “Capitão América: Admirável Mundo Novo” é um filme que sofre de excesso de ambição e falta de foco. Tem momentos brilhantes – principalmente quando se concentra nas dinâmicas pessoais – mas falha em unir as suas múltiplas narrativas numa história coesa e satisfatória. É um filme que quer dizer muito, mas acaba por dizer muito pouco.

Nota final: 5.5/10 Estrelas da bandeira americana

Um filme que nem consegue ser suficientemente mau para ser memorável, nem suficientemente bom para ser celebrado. Apenas existe, como um tijolo.

Trailer | Capitão América: Admirável Mundo Novo

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Capitão América: Admirável Mundo Novo, a crítica
Capitão América Admirável Mundo Novo - Poster

Movie title: Capitão América: Admirável Mundo Novo

Movie description: Em Capitão América: Admirável Mundo Novo, Sam Wilson, agora como o novo Capitão América, reúne-se com o recém-eleito presidente dos EUA, Thaddeus Ross. No entanto, ele acaba envolvido num incidente internacional de grandes proporções. Sam precisa de investigar e desvendar uma conspiração nefasta, numa luta contra o tempo para impedir que o verdadeiro vilão manipule o mundo e desencadeie o caos.

Date published: 13 de February de 2025

Country: EUA

Duration: 118'

Director(s): Julius Onah

Actor(s): Anthony Mackie, Danny Ramirez, Shira Haas, Xosha Roquemore, Carl Lumbly, Giancarlo Esposito, Liv Tyler, Tim Blake Nelson, Harrison Ford

Genre: Ação, Aventura, Thriller Político, Drama

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  • Vítor Carvalho - 55
55

Conclusão

“Capitão América: Admirável Mundo Novo” tropeça na própria bandeira que tenta erguer. Anthony Mackie traz carisma ao fato estrelado de Sam Wilson, mas o filme é um labirinto de subplots mal costurados: conspirações governamentais, crises geopolíticas e vilões desperdiçados. A realização de Sarnoski brilha em estética, mas falha em replicar a eletricidade dos antecessores. Entre os escombros, destaca-se Harrison Ford como Thaddeus Ross, cujo arco de redenção — repleto de vulnerabilidade e política — quase salva o dia e faz o filme valer a pena. Ambição? De sobra. Coerência? Ausente. Resultado: um tijolo narrativo que nem desaba nem constrói.  5.5/10 estrelas da bandeira — perfeito para ver enquanto se arruma a sala.

Pros

  • Atuação carismática de Anthony Mackie como Sam Wilson/Capitão América, mantendo a energia do personagem;
  • Arco emocionante de Thaddeus Ross (Harrison Ford), com destaque para a sua redenção e cenas humanizadas, como o telefonema para a filha;
  • Realização visual competente, com cenários bem iluminados e uma paleta de cores equilibrada entre o sombrio e o épico;
  • Momento simbólico do abraço final entre Ross e a filha, considerado um clímax emocional digno de dramas políticos;
  • Tentativa de abordar temas complexos, como imperialismo americano e responsabilidade governamental, mesmo que superficialmente;
  • Sequências esteticamente impressionantes, como o discurso público de Ross, com planos fechados que destacam a sua expressão;
  • Presença de elementos políticos sérios, adicionando um tom mais adulto ao universo Marvel.

Cons

  • Execução narrativa confusa e sobrecarregada, com múltiplas subplots (conspiração, crise geopolítica, legado de Isaiah Bradley) sem desenvolvimento adequado;
  • Cenas de ação menos impactantes em comparação aos filmes anteriores do Capitão América, perdendo a brutalidade visceral característica;
  • Vilão genérico e mal aproveitado (Giancarlo Esposito), com decisões ilógicas e participação curta (menos de 10 minutos);
  • Ausência inexplicável de Steve Rogers, criando um vazio narrativo não justificado;
  • Excesso de ambição sem foco, resultando numa história desconexa e pouco satisfatória;
  • Falta de profundidade em questões éticas e políticas levantadas, deixando-as superficiais.
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