© Foto de David Passos / MHD

Comic Con Portugal 2022 | À conversa com o Porta dos Fundos

O último dia da Comic Con Portugal 2022 trouxe alguns membros do grupo Porta dos Fundos. No ano em que celebram 10 anos, houve tempo para falar de tudo um pouco. 

Em 2012, o mundo, mas mais concretamente o Brasil, viu nascer um dos grupo de comédia único. Nesse sentido, António Tabet, Fábio Porchat, Gregorio Duvivier, João Vicente de Castro e Ian SBF (sigla para Samarão Brandão Fernandes), fundaram o Porta dos Fundos. Desde daí, lançaram mais de dois mil videos, espalhados pelas várias plataformas digitais. Igualmente, vários comediantes juntaram-se ao Porta dos Fundos, como foi o caso de Rafael Portugal, e mais recentemente, Macla Tenório e Ed Gama. Nesse sentido, o grupo continua a crescer, e conta com versões humorísticas em outros países, nomeadamente no México e na Polónia.

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A propósito da Comic Con Portugal 2022, alguns elementos do Porta dos Fundos vieram ao evento para falarem sobre a sua experiência, mas sobretudo, para celebrarem o marco importante. Assim sendo, tivemos à conversa com Macla Tenório, Ed Gama, António Tabet e Gregorio Duvivier.

Questão: Qual foi o sketch mais difícil e mais divertido que gravaram na Porta dos Fundos?

EG: O mais difícil para mim foi o meu primeiro que eu tive que dar um beijo na boca do António.

MT: Eu já beijei ele também.

EG: E o mais divertido foi o que eu tive que beijar a Macla. Eu e a Macla já somos amigos há muitos anos. A Macla e eu se conhece antes de entrar no Porta. A gente entrou no porta sem nada combinado, ela entrou e eu entrei e foi tipo dois amigos chegaram lá por acaso no mesmo lugar e a gente fez um sketch se beijando. Mas foi divertido também beijar você (António Tabet).

AT: Na verdade foi técnico.

Questão: António, houve língua?

AT: Não. Infelizmente não, nos dois casos.

EG: Da parte dele não.

AT: A sketch mais difícil de fazer para mim também foi a mais divertida. Foi uma seria da Porta dos Fundos chamada “Refém” e tem uma cena em que a gente está entrevistando um policia do FBI e um dos policiais que é o Luís Lobianco que interpreta, ele não sabe falar inglês mas ele finge que fala inglês. Então ele fala “what’s the we” e tal e é tão engraçado que a gente não conseguia parar de rir durante a gravação. E durou esse momento de bobeira dos actores de a gente ficar rindo durante a gravação demorou tanto tempo que o director, o Ian, ele se irritou e levantou e foi embora do set. E a gente ficou rindo horas, a gente chorava com dor na barriga. E é uma cena pequena, de um minuto, mas ela demorou pelo menos duas horas a gravar porque a gente não conseguia parar de rir. É por isso que foi a mais difícil e a mais divertida.

Comic Con Portugal 2022
© Comic Con Portugal

AT: Tem uma coisa muito curiosa do Porta. O Porta no inicio nós eramos muito pobrinhos no início. A gente filmava com uma câmera só. A pessoa que era maquilhadora fazia o figurino e luz ao mesmo tempo. Então quando tinha dois atores contracenando a câmera fazia primeiro um ator e depois o outro. Então a gente tinha entre nós essa mania desgraçada de querer fazer o outro rir quando você está de costas para a câmara. Quando está de costas para a câmara você faz o que quiser. Eu também era muito bom para a brincadeira porque eu não rio com facilidade mas a Júlia Rabello é infernal, porque se ela começa a rir ela não para mais, então a gente não fazia essa brincadeira com ela. A gente fazia isso antigamente. Hoje em dia tem duas/três câmaras, então a gente não consegue mais fazer.

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Questão: À bocado, a Macla estava a dizer que quando entrou no Porta teve que começar a estudar, mas isto não é cinema nem é teatro, como é que se estuda para estar nesta profissão?

MT: Complexo né? Bom, eu acho que o reality show que eu fiz já foi um intensivo bizarro assim, porque a cada prova ela exigia um pouco de uma habilidade especifica ali que a gente tinha basicamente um dia para desenvolver e isso é muito bom. Eu acho que as gravações do Porta já são uma super aula porque, a gente tem muita liberdade ali dentro para criar piada, improvisar, para fazer muita coisa, e quanto mais tempo vocês vai gravando você mais se vai aperfeiçoando naquilo e entendendo como e que funciona e o que eu estou estudando agora é teatro mesmo, tou me formando como atriz que é muito bom também porque eu acho que se você consegue ser um bom ator, você consegue mais explorar a sua performance em cena, mas eu acho que são esse três pilares. E uma coisa que eu uso muito na minha vida é a observação, eu gosto muito de observar onde eu vou, os lugares que eu vou, meio que estou sempre procurando uma personagem.

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AT: Mas essa sua pergunta é interessante porque o Porta dos Fundos realmente não é nada disso. O Porta dos Fundos não é cinema, não é teatro, então quando a gente vai para a tv, a gente precisa saber qual um pouquinho o roteiro, no cinema a mesma coisa, então acho que isso é parte do sucesso do Porta dos Fundos, é o fato desse colectivo criativo, esse grupo de humor ir para uma midia completamente nova que é a internet e apresentar um tipo de roteiro e um tipo de actuação que não eram muito corriqueiros. É uma interpretação muito mais naturalista, você não vê como uma vilã de novela da globo pegando uma taça e fazendo “aquela rata vai me pagar”. É muito natural, falar o palavrão que sai naturalmente, a marca que sai de forma natural. Acho que não tem treinamento mesmo, acho que o treinamento da Porta dos Fundos é o não treinamento. Por isso é que deu muito sucesso quando a gente recrutou pessoa que não tinham nunca actuado, que não faziam aquilo. No início metade da trupe é que tinha actuado, a outra metade não e deu tudo certo.

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Questão: Pode a comédia, ou é a comédia um pilar da democracia?

GD: Eu acho que sim. Eu acho que é muito difícil estar numa democracia se você não possa rir das coisas né? O PDF teve nos últimos 4 anos essa função eu acho. Empurrar os limites de estar, os limites no sentido de não estar fazendo piada homofóbica, racista e tal, empurrar os limites no outro sentido, rir do fascismo, das aberrações do governo Bolsonaro, da corrupção. Foram 4 anos muito cansativos por um lado porque a gente teve que ficar falando o óbvio muitas vezes, mas o humor é também essa ferramenta, de gritar o ódio, de mostrar que o rei tá nu e tal. Eu acho que foi um alento por um lado, seria egocêntrico e narcisista de mais a gente ter uma função essencial na derrubada do governo Bolsonaro. Não é para tanto.

AT: Mas tivemos.

GD: Tivemos? Você acha?

AT: Qualquer coisa que flerta com a democracia, com o combate ao racismo, homofobia e a pandemia já era um golpe contra o governo Bolsonaro.

Comic Con Portugal
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GD: Sim, com certeza. Como o Lula ganhou de 1,5% é muito pouco. Dá para dizer que foi uma vitória de todos, e talvez quem sabe os humoristas tenham conseguido ai quem sabe 0,1%, alguma coisa faz diferença né? De tão pouco que foi, foi tão apertado que teve uma funão tão ou mais importante quanto isso que foi seu alento também para todas as pessoas que tinham alguma sensatez. Então as pessoas se sentiam muito sozinhas e viam a Porta dos Fundos, e vêm ainda hoje, um conforto, um humor, e faz você perceber que você não está maluco, não está sozinho.

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Questão: Quando lêem o roteiro, como é que se preparam para a personagem? Também tem que haver um processo criativo da vossa parte. Como é que eu posso interpretar esta personagem, técnicas….

AT: Acho que dos dois casos, tanto no roteiro quanto da personagem é muito individual. Muito individual mesmo. A gente faz em casa, cada um faz o seu e escreve, apresenta e esse roteiro é lido. O elenco não está nessa leitura, normalmente são só os roteiristas e os diretores. E esses roteiros ou são reprovados ou aprovados de cara, ou passam por mudanças do próprio roteiristas ou de outro roteirista que pega esse roteiro do outro para melhor ou fazer alguma alteração. Quando esse roteiro chega na mão do ator. Aí é um processo super democrático entre o próprio ator e o diretor que estava na leitura do roteiro. Às vezes o ator propõe uma interpretação diferente da que foi proposta na leitura. Às vezes o diretor prefere a interpretação da leitura. Os atores são muito livres para improvisar, então é um processo muito individual e coletivo na gravação.

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Questão: Tem muito improviso?

AT: Muito.

MT: Eu leio sempre o roteiro e aí eu fico pensando onde colocar piadas assim diferentes. Mas é muito legal quando você tá na hora e surgem coisas na sua cabeça, sempre vai surgir. E eu fico pensando, o que é que a gente pode fazer um com o outro.

EG: Mas é massa porque tem muita liberdade. Eles quando trazem a gente que chegou agora, dão a liberdade de a gente fazer a coisa que a gente acredita.

GD: É muito na hora.

MT: E eu amo essa repercussão. Essas coisinhas que a gente faz na hora, depois eu vejo as pessoas comentado “ai eu adorei tal coisa” e a fico pensado “ai eu criei isso lá”.

TRAILER | PORTA DOS FUNDOS CELEBRAM 10 ANOS NA COMIC CON PORTUGAL 2022

És fã do grupo? Há quantos anos assistes aos sketches? Conseguiste uma foto ou autógrafo na Comic Con Portugal 2022?

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