John Cho, Mustafa Shakir e Daniella Pineda em "Cowboy Bebop" (2021) ©Netflix

Cowboy Bebop (Netflix), primeira temporada em análise

Um dos grandes clássicos do anime teve direito à sua adaptação live-action na Netflix. Será que se safou melhor que a versão do “Death Note”? Spoiler alert: era difícil fazer pior que o filme de 2017! A série com atores reais de “Cowboy Bebop” tropeça em alguns pontos, mas o resultado final está aprovado.

“See You Space Cowboy…”

Seja qual for o meio, mexer em clássicos é sempre complicado e arriscado. No entanto isso não impediu a Netflix de, em 2018, aceitar a proposta de projeto dos Tomorrow Studios em parceria com Marty Adelstein e o estúdio Sunrise (produtor do anime original) para a produção do live-action de “Cowboy Bebop”.

Cowboy Bebop” tem sido aclamada como uma das maiores séries animadas da televisão de todos os tempos. O anime de ficção científica e neo-noir foi criado e animado pelo estúdio Sunrise, liderado por uma equipa de produção do realizador Shinichirō Watanabe, o argumentista Keiko Nobumoto, o designer de personagens Toshihiro Kawamoto, o designer mecânico Kimitoshi Yamane e a compositora Yoko Kanno.

A série esteve no ar entre Abril e Junho de 1998, contando com 26 episódios e segue a vida, no ano de 2071, de uma tripulação de desorganizados caçadores de recompensas, que perseguem criminosos pelo Sistema Solar a bordo de uma nave espacial, a Bebop. Apesar de um dos pontos positivos do anime ser a incorporação de uma ampla variedade de géneros, podemos destacar os temas da ficção científica, faroeste e noir. De entre os tópicos que mais se salientaram, estes incluem o tédio existencial, a solidão e a incapacidade de se escapar do passado.

Duas manga de “Cowboy Bebop” foram publicadas, ambos pela Kadokawa Shoten e serializadas pela Asuka Fantasy DX. A primeira série foi lançada antes do anime, entre 1997-1998, e intitulou-se “Cowboy Bebop: Shooting Star”. Ilustrada por Cain Kuga ficou completa em dois volumes. A segunda série de manga, ilustrada por Yutaka Nanten, foi simplesmente intitulada “Cowboy Bebop” e é constituída por três volumes, publicados entre 1998-2000.

A saga teve ainda direito a dois videojogos para a Playstation, “Cowboy Bebop” (PlayStation game) e “Cowboy Bebop: Tsuioku no Serenade”, lançados em 1998 e 2005, respetivamente. Em 2001 estreou no Japão o filme “Cowboy Bebop: Knockin’ On Heaven’s Door” que se passa entre os episódios 22 e 23 da série original. Foi em 2008 que começaram a surgir rumores de uma tentativa de adaptação live-action, que após passarem pela ideia de um filme da 20th Century Fox, que foi subsequentemente adiado devido a problemas em Hollywood, passou assim em 2017 para o desenvolvimento de uma série a quem a Netflix deu a luz verde.

Cowboy Bebop
ALEX HASSELL E JOHN CHO EM “COWBOY BEPOP” ©GEOFFREY SHORT/NETFLIX

A adaptação live-action para a Netflix foi desenvolvida por Christopher Yost com André Nemec a atuar como showrunner. Shinichirō Watanabe esteve envolvido como consultor criativo e Yoko Kanno, a compositora do anime original regressa para a produção ao vivo, assim como o tema de abertura “Tank!“. As estrelas da série incluem John Cho, Mustafa Shakir, Daniella Pineda e Alex Hassell escolhidos para os papéis principais como Spike Spiegel, Jet Black, Faye Valentine e Vicious, respetivamente. A última confirmação do elenco principal foi Elena Satine no papel de Julia.

Em preparação para a adaptação a equipa da Netflix utilizou como material de inspiração filmes como: “The Big Sleep” (1946) de Howard Hawks, o clássico spaghetti Western “The Good, the Bad and the Ugly” (1966),” Bonnie and Clyde” (1967), “2001: A Space Odyssey” (1968) de Stanley Kubrick, o neo-noir thriller de ação” Dirty Harry” (1971), a comédia policial “Lethal Weapon” (1987) e finalmente “The Crow” (1994). Nemec afirmou que o objetivo era representar “Cowboy Bebop” através da realidade do cinema, e por isso não dedicou a sua preparação a assistir mais nenhum anime ou adaptações live-action de outros anime.

Cowboy Bebop Netflix
GEOFFREY SHORT/NETFLIX © 2021

A primeira temporada da série, com 10 episódios, foi lançada no dia 19 de Novembro de 2021 na Netflix. Apesar de ter sido bastante assistida no lançamento, a queda de audiência drástica levou ao cancelamento da série no início de Dezembro. A resposta à série foi descrita como “mista” ou mesmo “negativa”.

O que correu então bem e o que correu mal? Começando pelo consenso dos elogios, o elenco foi uma ótima escolha e constitui das melhores partes da série. Cho, Shakir e Pineda encaixam na perfeição nos seus papéis e conseguem trazer a essência das suas personagens para a ação ao vivo. Também Satine e mesmo Tamara Tunie, que interpreta Ana (a proprietário do clube de jazz underground em Marte, e que atua como mãe substituta de Spike), entregam performances de aplaudir e que enriquem a série. Porém, Vicious aparece deslocado nesta representação da realidade, surgindo quase como uma caricatura com emoções demasiado forçadas. E nem falemos na breve aparição de Edward, mesmo no final da série, que foi como se tivesse sido arrancado diretamente do anime e foi-nos exposto na sua forma mais cartoonizada.

John Cho e Mustafa Shakir em “Cowboy Bebop” (2021) ©GEOFFREY SHORT/Netflix

A complementar o trabalho dos atores esteve uma produção exemplar ao nível do design das personagens, envolvendo trabalho de maquilhagem e vestuário, que tiveram sucesso numa transformação convincente da animação para a realidade. Da mesma forma os ambientes e cenários correspondem na sua maioria aos transmitidos no anime. Yoko Kanno era e continua a ser uma pedra basilar de “Cowboy Bebop”, conseguindo transmitir apenas através da banda sonora muitas das emoções e dos temas inerentes da história.

A série revela a sua criatividade, e segue as pegadas do anime original, com as jogadas psicadélicas na cinematografia, nas cores escolhidas, com as passagens de cena invulgares e com uma ação peculiar, onde John Cho por vezes consegue encarnar na perfeição no estilo de luta de Spike Spiegel.

Cowboy Bebop”, “Trigun”, “Samurai Champloo”, e tantos outros, fazem parte de uma geração de anime que nos entregou visuais e sons incríveis, através de personagens crípticas e uma narrativa que nunca seguia uma linha direita, mas que utilizando os temas mais banais, conseguia no final transmitir uma poderosa mensagem, aberta o suficiente para deixar cada um na audiência a analisá-la para si. E foi neste ponto que o live-action da Netflix mais tropeçou, ao não acertar num enredo que captasse a alma do anime. Se mais uma vez a apresentação das personagens até seguiu uma narrativa cativante, já no enredo principal a história foi trivializada sem trazer nada de novo ou surpreendente.

Cowboy Bebop
John Cho em “Cowboy Bebop” ©KIRSTY GRIFFIN/Netflix

Até que ponto séries boas são descartadas num piscar de olhos só sobrevivendo as séries muito boas ou aquelas que apenas são muito populares? “Cowboy Bebop” não é bem-sucedida em acertar em todos os pontos, e precisaria de uma diferente abordagem à narrativa numa 2ª temporada, mas fez o suficiente para pelo menos merecer uma outra oportunidade. Com o cancelamento da Netflix aguardamos a hipótese da série ser resgatada por outra plataforma.

TRAILER | ESTÁ NA HORA DE ANIMAR!

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Cowboy Bebop (Netflix), primeira temporada em análise
Cowboy Bebop

Name: Cowboy Bebop (Netflix)

Description: Salta a bordo da Bebop e assiste à vida dos cowboys espaciais Spike Spiegel, Jet Black e Faye Valentine enquanto eles perseguem criminosos pelo Sistema Solar. Mas por mais rápido que viajem o certo que é impossível fugir aos seus passados.

  • Emanuel Candeias - 70
70

CONCLUSÃO

Mesmo que “Cowboy Bebop” fique pela sua 1ª temporada, a série consegue contar uma história sem deixar pontas soltas. Irá agradar a grande parte dos fãs do anime e também ao público que procure uma mistura entre ficção científica, faroeste e noir.

Pros

  • Personagens principais: John Cho, Mustafa Shakir, Daniella Pineda
  • Cenários, ambiente e ação
  • Banda sonora: Yoko Kanno

Cons

  • Narrativa demasiado direta e banal
  • Vicious em caricatura
  • Edward em cartoon
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