Cowboy Bebop (Netflix), primeira temporada em análise
Um dos grandes clássicos do anime teve direito à sua adaptação live-action na Netflix. Será que se safou melhor que a versão do “Death Note”? Spoiler alert: era difícil fazer pior que o filme de 2017! A série com atores reais de “Cowboy Bebop” tropeça em alguns pontos, mas o resultado final está aprovado.
“See You Space Cowboy…”
Seja qual for o meio, mexer em clássicos é sempre complicado e arriscado. No entanto isso não impediu a Netflix de, em 2018, aceitar a proposta de projeto dos Tomorrow Studios em parceria com Marty Adelstein e o estúdio Sunrise (produtor do anime original) para a produção do live-action de “Cowboy Bebop”.
“Cowboy Bebop” tem sido aclamada como uma das maiores séries animadas da televisão de todos os tempos. O anime de ficção científica e neo-noir foi criado e animado pelo estúdio Sunrise, liderado por uma equipa de produção do realizador Shinichirō Watanabe, o argumentista Keiko Nobumoto, o designer de personagens Toshihiro Kawamoto, o designer mecânico Kimitoshi Yamane e a compositora Yoko Kanno.
A série esteve no ar entre Abril e Junho de 1998, contando com 26 episódios e segue a vida, no ano de 2071, de uma tripulação de desorganizados caçadores de recompensas, que perseguem criminosos pelo Sistema Solar a bordo de uma nave espacial, a Bebop. Apesar de um dos pontos positivos do anime ser a incorporação de uma ampla variedade de géneros, podemos destacar os temas da ficção científica, faroeste e noir. De entre os tópicos que mais se salientaram, estes incluem o tédio existencial, a solidão e a incapacidade de se escapar do passado.
Duas manga de “Cowboy Bebop” foram publicadas, ambos pela Kadokawa Shoten e serializadas pela Asuka Fantasy DX. A primeira série foi lançada antes do anime, entre 1997-1998, e intitulou-se “Cowboy Bebop: Shooting Star”. Ilustrada por Cain Kuga ficou completa em dois volumes. A segunda série de manga, ilustrada por Yutaka Nanten, foi simplesmente intitulada “Cowboy Bebop” e é constituída por três volumes, publicados entre 1998-2000.
A saga teve ainda direito a dois videojogos para a Playstation, “Cowboy Bebop” (PlayStation game) e “Cowboy Bebop: Tsuioku no Serenade”, lançados em 1998 e 2005, respetivamente. Em 2001 estreou no Japão o filme “Cowboy Bebop: Knockin’ On Heaven’s Door” que se passa entre os episódios 22 e 23 da série original. Foi em 2008 que começaram a surgir rumores de uma tentativa de adaptação live-action, que após passarem pela ideia de um filme da 20th Century Fox, que foi subsequentemente adiado devido a problemas em Hollywood, passou assim em 2017 para o desenvolvimento de uma série a quem a Netflix deu a luz verde.
A adaptação live-action para a Netflix foi desenvolvida por Christopher Yost com André Nemec a atuar como showrunner. Shinichirō Watanabe esteve envolvido como consultor criativo e Yoko Kanno, a compositora do anime original regressa para a produção ao vivo, assim como o tema de abertura “Tank!“. As estrelas da série incluem John Cho, Mustafa Shakir, Daniella Pineda e Alex Hassell escolhidos para os papéis principais como Spike Spiegel, Jet Black, Faye Valentine e Vicious, respetivamente. A última confirmação do elenco principal foi Elena Satine no papel de Julia.
Em preparação para a adaptação a equipa da Netflix utilizou como material de inspiração filmes como: “The Big Sleep” (1946) de Howard Hawks, o clássico spaghetti Western “The Good, the Bad and the Ugly” (1966),” Bonnie and Clyde” (1967), “2001: A Space Odyssey” (1968) de Stanley Kubrick, o neo-noir thriller de ação” Dirty Harry” (1971), a comédia policial “Lethal Weapon” (1987) e finalmente “The Crow” (1994). Nemec afirmou que o objetivo era representar “Cowboy Bebop” através da realidade do cinema, e por isso não dedicou a sua preparação a assistir mais nenhum anime ou adaptações live-action de outros anime.
A primeira temporada da série, com 10 episódios, foi lançada no dia 19 de Novembro de 2021 na Netflix. Apesar de ter sido bastante assistida no lançamento, a queda de audiência drástica levou ao cancelamento da série no início de Dezembro. A resposta à série foi descrita como “mista” ou mesmo “negativa”.
O que correu então bem e o que correu mal? Começando pelo consenso dos elogios, o elenco foi uma ótima escolha e constitui das melhores partes da série. Cho, Shakir e Pineda encaixam na perfeição nos seus papéis e conseguem trazer a essência das suas personagens para a ação ao vivo. Também Satine e mesmo Tamara Tunie, que interpreta Ana (a proprietário do clube de jazz underground em Marte, e que atua como mãe substituta de Spike), entregam performances de aplaudir e que enriquem a série. Porém, Vicious aparece deslocado nesta representação da realidade, surgindo quase como uma caricatura com emoções demasiado forçadas. E nem falemos na breve aparição de Edward, mesmo no final da série, que foi como se tivesse sido arrancado diretamente do anime e foi-nos exposto na sua forma mais cartoonizada.
A complementar o trabalho dos atores esteve uma produção exemplar ao nível do design das personagens, envolvendo trabalho de maquilhagem e vestuário, que tiveram sucesso numa transformação convincente da animação para a realidade. Da mesma forma os ambientes e cenários correspondem na sua maioria aos transmitidos no anime. Yoko Kanno era e continua a ser uma pedra basilar de “Cowboy Bebop”, conseguindo transmitir apenas através da banda sonora muitas das emoções e dos temas inerentes da história.
A série revela a sua criatividade, e segue as pegadas do anime original, com as jogadas psicadélicas na cinematografia, nas cores escolhidas, com as passagens de cena invulgares e com uma ação peculiar, onde John Cho por vezes consegue encarnar na perfeição no estilo de luta de Spike Spiegel.
“Cowboy Bebop”, “Trigun”, “Samurai Champloo”, e tantos outros, fazem parte de uma geração de anime que nos entregou visuais e sons incríveis, através de personagens crípticas e uma narrativa que nunca seguia uma linha direita, mas que utilizando os temas mais banais, conseguia no final transmitir uma poderosa mensagem, aberta o suficiente para deixar cada um na audiência a analisá-la para si. E foi neste ponto que o live-action da Netflix mais tropeçou, ao não acertar num enredo que captasse a alma do anime. Se mais uma vez a apresentação das personagens até seguiu uma narrativa cativante, já no enredo principal a história foi trivializada sem trazer nada de novo ou surpreendente.
Até que ponto séries boas são descartadas num piscar de olhos só sobrevivendo as séries muito boas ou aquelas que apenas são muito populares? “Cowboy Bebop” não é bem-sucedida em acertar em todos os pontos, e precisaria de uma diferente abordagem à narrativa numa 2ª temporada, mas fez o suficiente para pelo menos merecer uma outra oportunidade. Com o cancelamento da Netflix aguardamos a hipótese da série ser resgatada por outra plataforma.
TRAILER | ESTÁ NA HORA DE ANIMAR!
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Cowboy Bebop (Netflix), primeira temporada em análise
Name: Cowboy Bebop (Netflix)
Description: Salta a bordo da Bebop e assiste à vida dos cowboys espaciais Spike Spiegel, Jet Black e Faye Valentine enquanto eles perseguem criminosos pelo Sistema Solar. Mas por mais rápido que viajem o certo que é impossível fugir aos seus passados.
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Emanuel Candeias - 70
CONCLUSÃO
Mesmo que “Cowboy Bebop” fique pela sua 1ª temporada, a série consegue contar uma história sem deixar pontas soltas. Irá agradar a grande parte dos fãs do anime e também ao público que procure uma mistura entre ficção científica, faroeste e noir.
Pros
- Personagens principais: John Cho, Mustafa Shakir, Daniella Pineda
- Cenários, ambiente e ação
- Banda sonora: Yoko Kanno
Cons
- Narrativa demasiado direta e banal
- Vicious em caricatura
- Edward em cartoon