La Casa de Papel

La Casa de Papel, primeira e segunda temporadas em análise

A série espanhola “La Casa de Papel” é até agora um dos principais fenómenos televisivos de 2018. A segunda temporada estreia na Netflix a 6 de abril.

A volta ao mundo. De Tóquio a Berlim, passando por Nairóbi, Moscovo ou Helsínquia. Emitida na Atresmedia espanhola entre maio e novembro do ano passado, “La Casa de Papel” – distribuída pela Netflix desde 25 de dezembro – tornou-se uma das séries mais faladas e um verdadeiro fenómeno em 2018.

Nuestros hermanos desenharam com ambição o maior assalto da História da televisão. Que em nada perde para várias séries dos EUA e podia (ou devia) servir de lição para as produtoras portuguesas. “La Casa de Papel” constrói o seu plano perfeito através de um pastiche inspirado em filmes (alguns devidamente referenciados) e, embora por vezes pouco verosímil ou obrigando o espectador a levar aos limites a suspensão da descrença, é uma série que vicia e convida ao consumo compulsivo. Impõe sem esforço e com naturalidade a sua identidade visual e constrói um universo linguístico seu, mérito de uma exposição simples que nos faz assimilar tudo rapidamente – poucas séries nos deixam na ponta da língua o nome de quase todas as personagens ao fim do episódio-piloto.

La Casa de Papel
La Casa de Papel (Netflix)

Em Espanha, a série criada por Álex Pina e realizada por Jesús Colmenar, Miguel Ángel Vivas, Álex Rodrigo e Alejandro Bazzano dividiu-se em duas partes. Os primeiros nove episódios foram emitidos em maio e junho, e os 6 episódios finais em outubro e novembro. A Netflix decidiu editar a primeira vaga, transformando os 9 episódios em 13 de menor duração; e a segunda temporada estreia no catálogo da plataforma de streaming em abril. Aqui, analiso ambas em conjunto.

“La Casa de Papel” acompanha a execução do plano do Professor (Álvaro Morte), um homem misterioso, inteligente e sem cadastro, que recruta oito criminosos com diferentes valências e sem nada a perder, estudando com eles ao pormenor o golpe durante 5 meses. À protagonista de sangue quente Tóquio (Úrsula Corberó), que pontua os episódios com a sua voz-off, juntam-se o líder imprevisível e narcisista Berlim (Pedro Alonso); Moscovo (Paco Tous) e Denver (Jaime Lorente), pai e filho; o jovem Rio (Miguel Herrán); a enérgica Nairóbi (Alba Flores); e os “soldados” de barba rija Helsínquia (Darko Peric) e Oslo (Roberto García Ruíz).

Protegidos pelo anonimato dos seus nomes de código, os assaltantes, de macacões vermelhos e máscaras de Salvador Dalí, confiam e seguem um plano que, à partida, equacionara todas as variáveis possíveis. Estão proibidos de derramar uma gota de sangue e de… roubar o dinheiro de alguém. Porque o alvo de “La Casa de Papel” não é um banco, é sim a Casa da Moeda, com o grupo à procura de roubar sim tempo à polícia e aos media. Tempo para, com reféns como trunfos, ludibriar as autoridades e imprimir mais de 2 milhões de euros.

La Casa de Papel
La Casa de Papel (Netflix)

Com a cor vermelha sempre bem presente, a série que se tornou viral, motivo de conversas no local de trabalho e horas de sono a menos, tem uma primeira temporada mais consistente do que a segunda.

Entre significativos desvios do plano original e erros influenciados pelas emoções, cavalos de tróia, síndromes de Estocolmo que não o são e reféns convertidos em sócios, “La Casa de Papel” é uma locomotiva hormonal, ritmada por obstáculos em dois ambientes distintos. Quase todos auto-impostos dentro da Casa da Moeda, fazendo o espectador temer sim pelo Professor – cabecilha e contacto móvel do grupo no exterior – nas diversas situações em que é encostado à parede no jogo do gato e do rato com a inspetora Raquel (Itziar Ituño), obrigado a ser criativo sob pressão.

As influências/ inspirações, que retiram alguma originalidade à série enquanto obra audiovisual, são diversas. Serve de exemplo a utilização de macacões partilhados por assaltantes e reféns, para os homogeneizar, já vista no “Infiltrado” de Spike Lee, com Clive Owen, Denzel Washington e Jodie Foster.

Mestre na arte de fechar episódios com um gancho irresistível (um ou dois episódios rapidamente se tornam 4), a série brilha através de uma banda sonora bastante acima da média. Há fado de Piedade Fernandes, um Bella Ciao que serve de hino para esta revolução e vários temas originais com laivos de Hans Zimmer.

La Casa de Papel
La Casa de Papel (Netflix)

Em termos narrativos, os autores resistiram à fácil e preguiçosa ferramenta de pontuar cada episódio com flashbacks do passado de cada personagem. Os flashbacks existem sim, mas recuam até ao estudo das várias etapas do plano, não caindo no exagero. A ação é constante, mas nem mesmo a total imersão nos impede de ignorar momentos pouco verosímeis (sobretudo na segunda temporada) e uma polícia (demasiado) incompetente e zarolha.

A badass Tóquio, o Professor e a inspetora Raquel são as três personagens a quem é dado maior peso, embora no cômputo geral Berlim, o Professor, Denver e Nairóbi sejam as personagens mais interessantes e aquelas que atiram “La Casa de Papel” para outro patamar. De resto, a projeção internacional, que a série obteve entretanto, valorizará vários atores: não seria surpreendente, por exemplo, ver Álvaro Morte, Pedro Alonso ou Jaime Lorente em “Narcos”, e adivinham-se muitas ofertas para os agentes de Úrsula Corberó e María Pedraza.

Correndo o risco de ser SPOILER, ao final da primeira temporada com o quartel-general a ser descoberto, momento cruzado com o épico Bella Ciao entoado pelo Professor e por Berlim, a segunda (e definitiva) temporada revela-se um remate que defrauda ligeiramente as expectativas criadas. Em modo roleta-russa, a segunda temporada é feita de sacrifícios e baixas de peso, fazendo-nos roer as unhas enquanto o Professor evita pontas soltas e questionando quem são os heróis e quem são os vilões neste Robin dos Bosques moderno.

TRAILER | “LA CASA DE PAPEL”

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La Casa de Papel - Temporadas 1 e 2
La Casa de Papel poster

Name: La Casa de Papel

Description: “La Casa de Papel” acompanha a execução do plano do Professor, um homem misterioso, inteligente e sem cadastro, que recruta oito criminosos com diferentes valências e sem nada a perder, para um assalto na Casa da Moeda.

  • Miguel Pontares - 84
  • Inês Serra - 85
  • Filipa Machado - 85
  • Daniel Rodrigues - 65
80

CONCLUSÃO

O MELHOR – “La Casa de Papel” é uma locomotiva hormonal, que impõe com naturalidade e sem esforço o seu universo linguístico (personagens com nomes de cidades funciona muito bem). Embora se notem várias influências que retiram originalidade, tem valor a construção de uma identidade própria: o vermelho como tema recorrente e a excelente banda sonora servem de exemplo.
Viciante, introduz-nos um leque de personagens rico q.b., e surpreende tanto no brilhantismo do plano como na criatividade ao ultrapassar obstáculos inesperados sob pressão.

O PIOR – A ação é constante mas nem mesmo a total imersão nos impede de ignorar momentos muito pouco verosímeis (sobretudo na segunda temporada) e uma polícia (demasiado) incompetente e zarolha. Bem desconstruído, o plano tem alguns momentos questionáveis (por exemplo: Como garantiria o Professor o seu cavalo de tróia se o inspetor infiltrado, no caso Ángel, não tivesse óculos?).

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