"I Gotta Look Good For the Apocalypse" ©Curtas Vila do Conde

Curtas Vila do Conde 2021 | Competição Internacional 4, em análise

Chegamos ao 3º dia do Festival Curtas Vila do Conde 2021 e estamos mais ao menos a meio da Competição Internacional. Nesta seção temos uma comédia policial e a realidade é posta em causa seja por parecer virtual, seja por viajarmos num sonho.

No 4º grupo da Competição Internacional do Curtas Vila do Conde 2021 somos apresentados a duas produções experimentais, uma europeia e outra americana, para além de uma ficção policial com vários traços humorísticos. “I Gotta Look Good For the Apocalypse” de Ayce Kartal explora um pouco de como viver a vida em tempos de pandemia, “The Rabbit Hunters” de Guy Maddin, Evan Johnson e Galen Johnson é uma homenagem em forma da procura do sentido da vida em sonhos e “The Massacre of Anröchte” de Hannah Dörr traz-nos uma caricata história de detetives.

I Gotta Look Good For the Apocalypse

Curtas Vila do Conde 2021
“I Gotta Look Good For the Apocalypse” ©Curtas Vila do Conde

“That’s lockdown life”

Uma nova relação, uma pandemia, um confinamento, uma realidade que não parece a nossa, os pinceis com que pintamos as nossas vidas foram substituídos por uma virtualidade cuja grande parte do controlo está fora das nossas mãos… isto é “I Gotta Look Good For the Apocalypse”.

Parte jogo 3D em realidade virtual, parte pintura animada, as imagens marcam o ano que passou e transmitem um dos sentimentos mais aterradores e impactantes da pandemia, de estarmos realmente a atravessar um apocalipse. É como se as imagens de ruas vazias que vimos nos noticiários se encontrassem com a narrativa em torno do casal que vemos no filme “Locked Down”.

O realizador turco Ayce Kartal estreia-se no Curtas, mas entre os seus créditos contam-se as premiadas curta-metragens “Tornistan: Bir Ayçe Kartal filmi” (2013) e “Kötü Kiz” (2017). A produção é da Les Valseurs.

A adaptação do tema “That’s Life” de Frank Sinatra é um belo trunfo, e repararam no easter egg da Sra Cabeça de Batata do “Toy Story”?

Classificação 71/100

 

The Rabbit Hunters

Curtas Vila do Conde 2021
“The Rabbit Hunters” ©Curtas Vila do Conde

O trio de Guy Maddin – um dos cineastas mais conhecidos e premiados do Canadá, e os irmãos Evan e Galen Johnson trazem-nos mais uma misteriosa produção desta vez em honra do centenário do cineasta italiano Federico Fellini. Como já é costume a produção ficou ao encargo da Julijette Inc. “Stump the Guesser” e “Accidence” são dois dos seus projetos anteriores em curta-metragens, embora “The Green Fog” seja o seu trabalho mais conhecido.

Sonhar com uma altura quando ainda estávamos vivos, retraçando a vida passada e sentindo com mais dor, não a nossa morte, mas a daqueles mais chegados nós é um exercício profundo e uma viagem alucinante ao centro do nosso ego, que num curto espaço de tempo é realizado de forma interessante em “The Rabbit Hunters”. Não se reinventa a roda nesta curta-metragem, mas sente-se uma verdadeira dedicação e uma sincera essência original.

Embora Guy Maddin seja conhecido por usar o estilo de cinema mudo, nesta curta apercebemo-nos de um problema na qualidade de som inconstante, trazendo algumas dificuldades em por vezes perceber claramente o discurso.

Classificação 66/100

 

The Massacre of Anröchte

Curtas Vila do Conde 2021
“The Massacre of Anröchte” ©Curtas Vila do Conde

“In a creation that no longer hold us in its arms, man is not a helper or friend, but a wolf.”

A ÖFilmproduktion de Hannah Dörr traz-nos uma produção de ficção policial mais longa, realizada pela conhecida realizadora de teatro que passou para o cinema. Dörr estreia-se nas longas-metragens, tendo os seus trabalhos anteriores sido mais curtos, de exemplo as premiadas peliculas de “MIDAS” em 2019 e “Esperando Dulcinéia” de 2016.

“The Massacre of Anröchte” é uma ficção policial, que rapidamente se transforma numa comédia ao género de “Allo, Allo” ou “Monty Python”. A narrativa segue as personagens do sabichão Inspector Ronka (Hendrik Arnst) e o seu assistente, o sensível e filosófico Walter (Julian Marcel Sark), que se deslocam a Anröchte para investigar um caso peculiar do início ao fim (passando por um meio quase psicadélico).

Quando o filme começa até parece que estamos no cenário da série “Dark”, mas isto porque por entre a investigação intromete-se uma exposição quase de documentário da vida e costumes, em particular alemães e em geral europeus. O humor é particular e ameno, mas é um tipo de comédia que faz falta por já não se ver tanto. As reflexões de Walter trazem um pensamento mais abstrato, que expande a dimensão abordada no filme, trazendo também um género mais meditativo. É pena não terem ido um pouco mais longe no ridículo, como nos casos das outras comédias referidas que apresentam semelhanças com o filme. Para além disso, o facto de ser mais uma longa-metragem não funciona a seu favor, tendo sido uma melhor ideia uma duração de um típico episódio de uma série de comédia, com os seus 20/30 minutos.

“There’s another world in our hearts”.

Classificação 70/100

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A programação acima teve estreia no dia 19 de Julho, domingo, pelas 22h30, na Sala 1 do Teatro Municipal de Vila do Conde. Haverá exibições também no Cinema Trindade no Porto e no Cinema Ideal em Lisboa. O Festival Curtas Vila do Conde 2021 decorre até dia 25 de Julho. As sessões também podem ser vistas online recorrendo ao “Online Pass Curtas“.

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