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Dexter: New Blood, primeira temporada em análise

Concluída a primeira (e única?) temporada de “Dexter: New Blood” as opiniões dividem-se. Valeu a pena rever o nosso serial killer favorito ou devíamos deixá-lo para sempre no final da 8ª temporada?

A espera terminou e no final de 2021 tivemos o vislumbre daquilo que seria o novo spin-off de uma das séries de maior sucesso de sempre. Aclamada pela crítica e com uma interpretação sem igual de Michael C. Hall, podemos até mesmo dizer que “Dexter” foi um marco no mundo das séries do seu tempo, com um grande número de fãs a aguardarem ansiosamente o seu regresso às televisões. Entre o final sombrio, misterioso, mas também pouco justo a tudo aquilo que já tínhamos visto de Dexter Morgan e este revival que renasceu em todos nós a vontade de um término digno para esta personagem, fica a questão: Será que valeu a pena trazer de volta esta série?

Atenção este artigo contém spoilers!

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Em primeiro lugar quero dizer que, na minha opinião, valeu a pena voltar a ver, no nome de Jimmy Lindsay, o serial killer com desejo de sangue mais querido das produções televisivas. Desta vez os ímpetos começaram por surgir de forma bastante subtil, com muitas mensagens subliminares durante o primeiro episódio que nos indicavam que a qualquer momento, voltaríamos a ver a tenacidade de Dexter a caçar a sua presa. E ocorre-me até dizer que este foi um dos momentos mais altos dos dez episódios que culminaram num final que, infelizmente, volta a desiludir, mas já lá vamos. Esta dualidade entre manter uma vida pacata, longe do passado e do Passageiro Sombrio mas que, nos bastidores o continuam a acompanhar, mantém o espectador num permanente estado de suspense, conspirando quando é que vai, finalmente, voltar a ver a vítima do seu serial killer favorito envolta em plástico, num ambiente estéril onde é confrontado com os seus pecados e este é um dos aspetos onde esta produção soube e muito bem, reviver nos corações de todos os fãs a genialidade de Dexter Morgan. E quando ele, no impulso do momento, mata a sua primeira vítima, num misto entre medo e euforia, cada um de nós exclama sem dúvidas: “ele está de volta!” e sonhamos com um regresso às origens.

Dexter: New Blood
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Contudo, isto não acontece, pelo menos da forma como esperávamos. Dexter está mais velho e enferrujado, deixando para trás algumas evidências do Passageiro Sombrio que acabou de despertar e isto foi algo que fez passar do estado de alegria total para desconfiança de onde os argumentistas queriam levar esta produção. Fiquei, algumas vezes, até desiludida com este lado meio esquecido, meio desleixado que começou a existir numa personagem que sempre prezou pelo perfeccionismo. Pensava eu que seria como andar de bicicleta e que os métodos infalíveis ensinados pelo pai, onde a primeira regra é: Não ser apanhado, continuassem a existir na forma meticulosa com que ele trabalha o seu lado mais perigoso. Afinal de contas, dez anos fizeram toda a diferença na vida de Dexter e baixar a guarda foi definitivamente a receita para a destruição.

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Mas a fria e pacata cidade de Iron Lake, distante da vivacidade e do calor de Miami, vai conhecer novos contornos ao longo dos episódios que nos fazem pensar que neste universo nunca estamos seguros e este facto será importante mais à frente nesta análise. A Delegacia local, chefiada por Angela Bishop (Julia Jones), a atual namorada de “Jimmy Lindsay”, investiga um caso suspeito, com contornos macabros que assombram a cidade há largos anos. Aparentemente, também aqui existe um serial killer, que ataca mulheres que desaparecem misteriosamente neste local para serem encontradas na parede do escritório de Angela, que no seu instinto sabe de que não se tratam apenas de desaparecimentos vulgares. Se tudo isto não bastasse, à equação juntamos também Harrison (Jack Alcott) que desconfiou do desaparecimento e consequente morte do pai, procurando-o e encontrando-o neste quase fim do mundo, onde aparentemente nada acontece.

Dexter: New Blood
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A partir daqui, conseguimos perceber imediatamente que Jimmy não teria o sossego que sempre esperou e que a sua verdadeira identidade iria acabar por ser revelada. Na relação conturbada com o filho, conseguimos vislumbrar um Dexter emocional, com medo de falhar e sentimentos reais que, dizia ele, não poderem coexistir com o seu Passageiro Sombrio. Mas a realidade é que ver o lado mais frágil e humano desta personagem, na adaptação com a nova realidade de ter, junto a ele, aquele que sempre quis proteger com a sua ausência, foi outro dos momentos onde sentimos maior empatia e identificação, num misto entre a frustração de não conseguir aproximar-se do filho, com a necessidade de se sentir emocionalmente conectado com ele. Não raras vezes me deixei levar pelas emoções que transpareciam no ecrã, muito devido, mais uma vez, à exímia prestação de Michael C. Hall, não lhe conhecendo, nem neste spin-off, nenhum defeito ao interpretar Dexter. Contudo, não conseguimos sentir, por outro lado, que Jack Alcott desse toda esta entrega a Harrison, numa postura muito rígida e uma interpretação que muitas vezes parece forçada. Desde o início, conseguimos entender que existe algo em Harry que não conseguimos decifrar e julgo que o final em aberto nos deixa uma ponta solta sobre o porquê dele se apresentar assim, longe da teoria de que  Alcott não esteve no seu melhor.

Dexter: New Blood
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Ao longo desta jornada vemos, mais uma vez, a evolução de Dexter e dos seus instintos. Penso que neste aspeto não existem dúvidas de que conseguimos vibrar com um serial killer e torcer mais pelo seu “vivemos felizes para sempre” do que por ser apanhado, tanto que o segundo inimigo desta trama, Kurt Caldwell (Clancy Brown), passa pelos pingos da chuva até meio da temporada. Apesar de ao início parecer uma ponta solta no argumento, à medida que a história se adensa começamos a entender porque é que era importante ser também ele um psicopata ao nível de Dexter. A dinâmica entre este duo, que rapidamente se tornou num trio com Harry a surgir no meio, foi muito importante para o desenrolar desta aventura que culminou com a derradeira revelação entre pai e filho, movida pela malvadez de Kurt.

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Podemos considerar que, até perto do último episódio, a trama permite-nos ficar presos ao ecrã e esperar ansiosamente todas as semanas por mais um capítulo, entre cliffhangers que produziram a dose de adrenalina e curiosidade necessária para voltar a imergir neste mundo sombrio. Contudo, não muito longe do que já tinha acontecido anteriormente, os dois últimos episódios defraudaram a experiência, refletindo-se na pontuação desta análise. Falhas no argumento que levaram a um final apressado e sem nexo, que acabou por mais uma vez não fazer justiça a esta personagem que nos é tão querida. A primeira grande lacuna começa na determinação e na astúcia de Angela, mal descobre a verdadeira identidade de Dexter. Quase como uma disputa entre gato e rato, a detetive move mundos e fundos para descobrir porque é que o seu namorado precisou de mudar de vida há dez anos atrás. Como se costuma dizer: Mulher desconfiada é pior que o FBI e ela acaba até por se cruzar, ao acaso (que conveniente), com alguém muito próximo: Angel Batista (David Zayas). Deste aí até descobrir quem é o verdadeiro Bay Harbour Butcher foi um instante, num caso investigado e encerrado há anos e até com um nome a culpar. Mas ela não se podia ficar com este veredito já ditado, não. Enquanto continua a ter um mural de fotografias de várias mulheres que desaparecem durante anos na sua jurisdição, sem conseguir decifrar o verdadeiro inimigo, Angela passa a ter somente uma preocupação: culpar o nosso protagonista por todos os males da humanidade. E consegue. Aliás, até para descobrir que afinal estas vítimas estavam a ser assassinadas por Kurt precisou de Dexter, mas para descobrir que ele era um serial killer não precisou de ninguém, curioso.

DEXTER
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Confesso que foi nesta altura que suspeitei que não teríamos um final feliz e não me enganei. Não só não o tivemos como mais uma vez, no último episódio, a jornada de Dexter não foi respeitada e o destino reservado para ele não convenceu. Um final apressado, onde a emoção se sobrepôs ao lado racional com pontas soltas que ficam por explicar. Porquê colocar uma personagem tão importante como Batista a caminho de Iron Lake para esse confronto nunca acontecer? Como seguidora desta série desde o início, quando vi Batista sair de casa com o ficheiro de LaGuerta (Luna Lauren Velez) debaixo dos braços, o meu único desejo era ver o encontro de titãs e a redenção de Dexter, coisa que não chegou a acontecer. Como se não bastasse, o facto de ele ter morto uma pessoa inocente para conseguir fugir com o filho, desiludiu. O protagonista saiu completamente do seu padrão e todos nós que acompanhamos esta jornada há largos anos sabemos que mais que um assassino, Dexter é um justiceiro e jamais mataria alguém para benefício próprio, ou se o fizesse seria algo bem explorado e explicado. Pode até ter sido a sede de escapar e continuar o legado com o seu filho, mas mais uma vez estaríamos à espera que o seu lado emocional não se sobreposse ao lado racional. E chegamos assim ao derradeiro fim. Num frente a frente entre Harrison e Dexter, pai e filho unidos pela desgraça, num momento de realização pessoal que leva o protagonista a mergulhar no ato mais altruísta de todos: morrer, para o filho poder viver. Parece poético até, mas se observarmos com atenção, não é uma conclusão muito diferente da que vimos na 8ª temporada. Por amor a Harry fugiu e isolou-se, por amor a Harry morreu. Se não era este o final que esperávamos em 2013, também não seria o culminar que os fãs sonhavam em 2022. A não ser que…

Dexter: New Blood
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Será que tudo isto foi um plano de Harrison e do seu próprio Passageiro Sombrio, que vimos muitas vezes surgir e ser abafado, para matar o próprio pai? Se investigarmos bem a narrativa desta temporada, Harry procurou-o por sentir um vazio na sua vida, para encontrar respostas, numa vontade de ser protegido e amado incondicionalmente. Como é que isto se transforma numa espingarda apontada ao peito do pai? Para além disso, vemos um pequeno sorriso em Harrison quando se afasta de Iron Lake, enquanto ouvimos pela última vez, a voz de Dexter, proferindo as palavras da carta que deixou a Hannah: “para ele viver, eu tenho que desaparecer para sempre”.

Teorias à parte, a realidade é que para os fãs desta série, será sempre um deleite voltar a ver uma das personagens mais queridas da TV e claro que valerá a pena, até aos dois últimos episódios, dar uma oportunidade a “Dexter: New Blood”. Contudo, não sei se conseguirão aguentar mais um final que deixa, no mínimo, a desejar e por esse motivo deixamos o aviso: Vejam, por vossa própria conta e risco.

E se o quiserem fazer, a temporada completa está disponível atualmente na HBO Portugal.  

Dexter: New Blood, primeira temporada em análise
  • Filipa Carvalho - 70
  • Inês Serra - 65
  • Emanuel Candeias - 75
70

CONCLUSÃO

Este spin-off tentou responder às perguntas que ficaram por fazer na série original e de certa forma, conseguiu, levantando outras novamente num final que deixa a desejar. Dexter Morgan será para sempre uma personagem icónica para todos os seguidores que o acompanham ao longo destes anos e valerá sempre a pena voltar a revisitar o sítio onde fomos felizes. Existem pontos bastante positivos nesta produção, que nos fazem voltar a sentir uma empatia sem igual por um serial killer, contudo, não podemos ignorar o óbvio e com mais uma conclusão desapontante, o futuro de “Dexter: New Blood” não nos parece sorridente.

Pros

  • Rever Michael C. Hall no papel de Dexter
  • As novas personagens encaixam bem na realidade de Iron Lake e as interpretações são convincentes
  • Os cliffhangers continuam presentes e deixam-nos sempre com vontade de ver o próximo episódio
  • A relação conturbada de Dexter e Harrison

Cons

  • As falhas no argumento que levaram a uma temporada demasiado apressada e com muitas pontas soltas
  • O final que uma vez mais não faz justiça à personagem Dexter Morgan
  • O “espírito” de Debra que pouco acrescenta e torna-se numa presença exagerada
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