10.º Encontros do Cinema Português | Uma Década a Celebrar, Refletir e Projetar o Futuro da Sétima Arte Nacional
Os Encontros do Cinema Português celebraram ontem a sua 10.ª edição nos Cinemas NOS Vasco da Gama, em Lisboa. Organizado pela NOS Audiovisuais com o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), o evento reuniu profissionais do setor para discutir o presente e o futuro do cinema nacional.
Desde 2016, os Encontros do Cinema Português consolidaram-se como um ponto de encontro e uma plataforma essencial para criadores, produtores, distribuidores e outros agentes culturais do sector. Ao longo destes dez anos, tiveram mais de 2.000 participantes e 350 projetos de filmes marcaram presença e mostrados. Este ano, foram apresentados 46 novos filmes, abrangendo géneros que vão da ficção ao documentário, do experimental ao comercial. Realizadores como João Nuno Pinto, Graça Castanheira, Carlos Conceição e João Botelho, entre outros talentos emergentes, trouxeram aos Cinemas NOS Vasco da Gama, propostas, umas mais prometedoras que outras, enriquecer o panorama cinematográfico nacional.
Estudo CresCine: Um Espelho da Realidade Cinematográfica Portuguesa
Um dos momentos altos dos 10º Encontros do Cinema Português foi logo no início com a apresentação do relatório CresCine, coordenado pelo Professor Manuel Damásio, da Universidade Lusófona. Este estudo europeu, centrado em sete países com mercados audiovisuais de menor dimensão, incluindo Portugal, oferece-nos uma análise detalhada do estado atual do cinema nestes contextos e propõe estratégias para reforçar a sua competitividade.
As conclusões são reveladoras: apesar de Portugal apresentar uma frequência de público nas salas de cinema superior à média dos pequenos mercados europeus, a quota de mercado do cinema nacional permanece reduzida, cerca de 4%, sendo dominada pelas produções norte-americanas. O estudo destaca ainda a escassez de dados sistematizados sobre o desempenho do setor, um ‘buraco negro informativo’ que afeta 40% da Europa e dificulta o planeamento estratégico eficaz.
Além disso, o relatório aponta ainda para um desequilíbrio de géneros na produção nacional: o drama representa quase metade das obras produzidas e exportadas, enquanto géneros com maior apelo popular, como a comédia ou o thriller, são escassos. Esta disparidade contribui para a perceção de ‘risco’ associada ao consumo de cinema português, especialmente entre o público mais jovem.
“Pátio da Saudade”: Uma Comédia Musical com Selo Nacional
Durante os 10º Encontros do Cinema Português, o Prémio Canal Hollywood foi atribuído ao filme “Pátio da Saudade”, a nova longa-metragem de Leonel Vieira. Este reconhecimento destaca o filme como o projeto com maior potencial comercial entre os apresentados. A distinção traduz-se num apoio direto à promoção e comunicação do filme, num total de 55 mil euros, bem como na garantia da sua exibição no Canal Hollywood. “Pátio da Saudade” é uma comédia musical com um elenco de luxo — Sara Matos, José Raposo, Ana Guiomar, Manuel Marques e Luís Mascarenhas — e uma narrativa que mistura nostalgia, humor e música, celebrando o espírito dos clássicos populares portugueses.
Segundo o realizador, o filme é uma homenagem ao remake de “Pátio das Cantigas”, também por si realizado há uma década. A história acompanha três actores desiludidos com as suas carreiras que veem numa nova oportunidade de espetáculo a hipótese de redenção. O filme estreia em agosto e a expectativa é elevada: tanto Leonel Vieira como o elenco esperam que o público adira em força, numa altura em que o cinema nacional procura reconquistar espaço nas salas.
Olhar para o Futuro: Que Caminho para o Cinema Português?
O tema central desta edição do 10º Encontros de Cinema Português — ‘O cinema português daqui a 10 anos’ — suscitou igualmente antes do encerramento, um enriquecedor debate com a participação de figuras como Susanna Barbato (NOS Audiovisuais), Nuno Aguiar (NOS Cinemas), Elsa Mendes (Plano Nacional de Cinema), e os realizadores Ruben Alves e Bernardo Lopes. As intervenções enfatizaram a necessidade de diversificação de géneros, políticas de formação e apoio mais inclusivas, e uma aposta firme na comunicação com o público para desmistificar ideias pré-concebidas sobre o cinema nacional.
Apesar dos desafios — desde a escassez de dados até à forte concorrência do streaming —, ficou clara a ambição e o compromisso de todos os envolvidos em construir um setor mais forte, representativo e próximo do público. Como afirmou o presidente do ICA, Luís Chaby Vaz, o momento é de transformação, mas também de oportunidade. O sucesso recente dos filmes portugueses, em festivais internacionais prova que a cinematografia portuguesa tem muito para oferecer.
Os 10.º Encontros do Cinema Português foram mais do que um ponto de balanço; foram uma montra de talento, um fórum de discussão estratégica e um testemunho da paixão de quem acredita que o cinema feito em Portugal pode ser relevante, diverso e, acima de tudo, popular. Que os próximos dez anos sejam de consolidação, inovação e conquistas — tanto nas bilheteiras como no coração dos portugueses.
JVM