© Pedro Pina - RTP

Festival da Canção 2023 | Entrevista com Mimicat

A Magazine.HD esteve à conversa com Mimicat, a vencedora do Festival da Canção, que irá representar Portugal na Eurovisão, em Liverpool.

Nascida em 1984, com apenas nove anos de idade Marisa Mena gravou o seu primeiro disco. Quando fez quinze anos, adotou o pseudónimo de ‘Izamena’, uma espécie de abreviatura do seu primeiro e último nome, e participou no Festival da Canção com um tema que não chegaria à final, Mundo Colorido. Apesar de a sua juventude ter sido passada num ambiente musical, somente em 2014 se decidiu apresentar ao mundo como cantora e compositora, altura em que lançou o álbum “For You”. Nesse momento, adotou o nome artístico de Mimicat e, três anos mais tarde, gravou um novo álbum de estúdio, “Back in Town”. Este ano, a cantora decidiu arriscar tudo e concorreu ao Festival da Canção novamente, através da livre submissão, acabando por ser a grande vencedora com o tema Ai Coração.

Após a gala final do Festival da Canção, a Magazine.HD esteve à conversa com Mimicat e tentou descobrir o que é que a cantora estava a sentir após descobrir que iria representar Portugal na Eurovisão. Numa entrevista cheia de entusiasmo, a vencedora do concurso português falou-nos da sua preparação para a próxima fase, mas também do percurso que percorreu até à noite em que se tornara a sucessora de Maro, que nos representou em Turim, no ano passado.

Então, agora o que é que podemos esperar desse teu cabaré para a Eurovisão?

Mimicat: Olha, eu ainda não sei, na verdade. Eu sei que é isso que eu quero pôr lá, mas ainda não sei como, não faço ideia. Portanto, espera-me muito trabalho pela frente, muitas horas de reunião com a equipa para tentar perceber qual é que é a melhor maneira de dispor isto num palco como o da Eurovisão, que é muito maior do que este do Festival, é tipo outra escala. E a competição lá é fortíssima e eles fazem coisas assim assombrosas. Então, vou dedicar bastante tempo a pensar qual é que será a melhor apresentação possível, mas neste momento estou a zeros, portanto, não faço ideia. Estou só a tentar absorver este momento, agradecer e aproveitar. E a seguir, quero ir para a festa [risos]. 

Falaste em fazer um cabaré português, ainda é cedo, mas já estás a pensar como será a tua atuação em Liverpool?

Mimicat: Não, eu tenho várias ideias soltas, mas vou ter que reunir com a equipa e tentar perceber o que é que se pode fazer, e de que forma, qual é que é a melhor forma de representar Portugal e apresentar esta canção lá fora, sem desvirtuar aquilo que eu sou enquanto artista e, ser verdadeira com a minha identidade. Portanto, ainda não sei [risos].

Mimi, como é que te sentiste quando percebeste que estavas empatada com o Edmundo e que a qualquer momento poderias vencer, mas podia também vir tudo por água abaixo? 

Mimicat: Eu só pensava, o segundo lugar é ótimo. Porque, de facto, eu não sabia se ia ganhar ou não. Eu estava mesmo na dúvida, porque o Edmundo tem uma canção incrível, e tinha bastante apoio também na internet, então eu acho que era mesmo inesperado. Acho que devíamos estar os dois mesmo tipo ‘pronto, quem ganhar está bem ganho, e vai representar muito bem Portugal na mesma’. Se ele ganhasse eu ia ficar feliz por ele. Claro que não ia ficar tão feliz, obviamente [risos], mas ia ficar muito feliz por ele, porque era uma bela representação para Portugal. 

Qual é a mensagem que gostavas de transmitir através da tua canção para a Eurovisão? 

Mimicat: Que sou uma mulher que tem orgulho em ser portuguesa, essencialmente é isso. Portugal ainda tem um grande caminho a fazer. Na Eurovisão, acho que já não somos assim tão underdogs quanto isso, não é? Graças à Vitória do Salvador e às ótimas classificações que temos tido mas, acima de tudo é isso. Eu vou lá como uma mulher que tem orgulho em ser portuguesa e não tem medo de mostrar o que é que nós valemos.

Então, o coração de Viana é para manter? 

Mimicat: Sim!

Mimicat
© Pedro Pina – RTP

A primeira semifinal é no dia 9 de maio, o mesmo dia em que o Salvador Sobral atuou, e a final é também no dia 13, o dia em que ele venceu. Achas que pode ser um bom presságio? 

Mimicat: Deus queira! Também é no dia de Nossa Senhora de Fátima. Nunca se sabe, pois não? Olha, vou pedir para rezarem por mim [risos]. Não sei, acho que é só uma coincidência muito engraçada. Mas eu não acredito muito nessas coisas. Eu sou muito de ‘bora trabalhar’ e pronto, fazer o melhor que conseguir e, depois, logo se vê.

Tens acompanhado as músicas que já foram selecionadas nos outros países? Qual é a expectativa perante o que já se sabe? 

Mimicat: Olha, eu conheço algumas e a que tenho assim mais presente é a da Alessandra Mele, porque ficou-me na cabeça, apesar de eu não gostar do género. A Loreen é a minha favorita, so far, de todas as que eu vi. Ainda não ouvi as outras. Portanto, para já gosto muito da dela e, é assim, vendo o nível de atuações dela, há que fazer alguma coisa assim com impacto, porque a competição é muito forte. 

Tu disseste que tu e o Edmundo precisavam muito disto. Porque é que precisavas disto? 

Mimicat: Porque eu sou, literalmente, uma cantora de nicho. Eu estive parada algum tempo, porque fui mãe e decidi dar ali uma calma. Mas, na verdade, eu nunca tive muito reconhecimento do público, nem das plataformas que passam a maioria da música que é muito conhecida. Nós temos duas mãos cheias de artistas que são muito conhecidos em Portugal, e depois, milhentos que são tão talentosos como eu, ou mais ainda, que não têm sequer hipótese de ter a sua plataforma, e o Festival serve para isto mesmo. Eu cresci com o Festival a dar a conhecer artistas e a criar carreiras e isso está a acontecer outra vez. Aconteceu com o Salvador, provavelmente com a Maro também, a Elisa, montes de gente que tem ganho o Festival e que tem tido uma carreira porque ganhou o Festival e porque teve essa plataforma. E eu, no fundo, eu acho que represento toda a gente que vem de onde eu vim, e que não tem essa hipótese de outra forma. Portanto, malta, é a livre submissão, é a oportunidade! Isto é uma escolha justa. 

Aqui, viu-se exatamente a qualidade da livre submissão. Achas que poderia ser mais alargada para haver mais oportunidade? 

Mimicat: Acho claramente que sim! Eu acho que poderia ser mais alargada. Acho que podemos ter mais canções da livre submissão, porque eu acho que este ano provou que a livre submissão não peca nada por falta de qualidade, muito pelo contrário. Aliás, eu e o Edmundo, que éramos os favoritos, somos da livre submissão, o MoYah era da livre submissão, e também é uma canção incrível, e a Inês Apenas também é da livre submissão. As canções incríveis que tínhamos aqui! Portanto, não desprimorando, claro, os colegas que foram convidados, e que fizeram canções maravilhosas, mas pronto, eles tiveram apenas que ter o convite. Nós submetemos as nossas canções naquela de ‘ok, bora ver se isto acontece’. Pronto, felizmente eu estou muito grata à RTP e à organização do Festival por esta oportunidade. 

Mimicat
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Que palavras é que te vêm à cabeça depois da noite em que venceste o Festival e que viveste com tanta emoção?

Mimicat: Gratidão é a primeira que me ocorre. Eu estou super feliz, obviamente, felicidade! E entusiasmo, estou aqui ainda com a pica toda. Estou-me a conter e agora quero é ir para a festa. 

Nas últimas semanas começaste a ter problemas na voz… depois da primeira semifinal passaste mais duas semanas, como é que tens vivido estes últimos dias?

Mimicat: Olha estava numa agonia constante quando tive o problema da voz. Primeiro foi de muito entusiasmo quando percebi ‘eu vou ao Festival, tenho que acabar a música primeiro’ [risos]. Logo aí foi a primeira excitação, acabar a música, porque a demo que eu mandei para eles não era nada disto [risos], portanto tive que a acabar em pouco tempo, e foi incrível, e tenho muito a agradecer ao meu amigo por causa disso. Depois, quando começámos a preparar a atuação, era de muito entusiasmo também, mas havia ali aquele receio ‘será que estamos a fazer a escolha certa, não estamos a fazer a escolha certa’, de incerteza. Mas eu depois rapidamente decidi ‘vamos assumir isto e estamos a fazer a escolha certa’. Depois, quando foi o problema da voz, foi um medo avassalador e uma ansiedade brutal, porque estava a ver a coisa a avançar, o tempo a avançar e a voz não voltava, e eu em pânico. Aliás, eu até mandei mensagens para a organização a dizer ‘eu não sei se vou conseguir cantar, ponham-me na segunda semifinal, porque eu acho que isto não vai acontecer’. Pronto, primeiro foi esse pânico e depois muito orgulho daquilo que eu fiz na primeira semifinal, por ter conseguido chegar àquele resultado mesmo tendo estado afónica há pouco tempo. E agora, é isto tudo, é tipo este misto de emoções que está aqui a transbordar mas, acima de tudo, a primeira que me salta é mesmo gratidão por este processo todo, pelo apoio das pessoas, por tudo.

Qual é a mensagem que queres deixar para a tua comunidade de fãs? 

Mimicat: É a mesma que para qualquer comunidade de minorias ou que se sintam injustiçados de alguma maneira. Quando vocês acreditam em vocês e sentem que têm a vossa cena ali, é não desistirem. Eu posso-vos dizer, eu tentei desistir da música muitas vezes, e nunca consegui. Na verdade, o chamamento era mais forte e eu insisti e investi dinheiro que não tinha e fiz sacrifícios familiares, sacrifícios de tempo de viagens que não fiz para poder investir na música e, finalmente, as coisas começaram a acontecer agora. Portanto, eu acho que isto serve para qualquer pessoa que não tenha ainda a sua oportunidade, mas que saiba que tem lá um fogo ali dentro e que deve lutar por ele. Acreditem em vocês acima de tudo. E se vocês sabem o que valem, acreditem até ao fim. 

Sendo uma das cantoras da livre submissão, o que poderias dizer para aqueles que para o próximo ano irão participar no Festival?

Mimicat: Isso é um bocadinho aquilo que eu disse ainda agora. Invistam em vocês e acreditem em vocês até ao fim, porque vale a pena. Eu esperei dez anos para lançar esta canção. Esperei dez anos para enviar isto para o Festival e, quando eu escrevi a canção, eu nunca disse isso a ninguém. Quando eu escrevi a canção, eu disse à minha mãe ‘mãe, escrevi a canção para ganhar o Festival da Canção’. Eu esperei este tempo todo, pensei em dá-la a quinhentas pessoas diferentes, e fazer outras coisas com ela. Eu até tinha um projeto diferente para fazer isto. Mas depois, olha, pensei ‘não, vou lançar e vou mandar’. Não disse a ninguém, foi segredo. Ninguém sabia que eu tinha mandado a canção e eu esqueci-me [risos]. Eu mandei a canção, esqueci-me e, finalmente veio a chamada do Nuno Galopim, e aconteceu. 

VÍDEO | MIMICAT VENCEU O FESTIVAL DA CANÇÃO COM AI CORAÇÃO

Gostaste da vitória de Mimicat? Quem irá vencer o Festival da Eurovisão 2023?

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