Frida Kahlo - Viva la Vida © Risi Film

A Grande Arte no Cinema | Frida – Viva a Vida, em análise

Frida – Viva a Vida é um documentário sobre Frida Kahlo, que explora a sua vida pessoal e o seu trabalho enquanto artista. 

“Frida – Viva a Vida” continua em exibição nas salas de cinema portuguesas até ao próximo dia 26 de março. Trata-se de um documentário único distribuído pela Risi Film no âmbito da 3ª temporada de A Grande Arte no Cinema, o projeto que tem permitido descobrir peças-chave sobre alguns dos principais artistas mundiais, muitas vezes marginalizados ou até mesmo esquecidos pela sociedade contemporânea.

O documentário “Frida – Viva a Vida” é uma excelente escolha para abrir-nos as portas à nova temporada, pois oferece-nos tópicos suficientemente capazes de nos manter interessados nas duas facetas, das mil e uma possíveis, daquela que é para muitos a maior artista mexicana do século XX.

Trailer de Frida – Viva la Vida

Realizado por Giovanni Troiolo, cineasta italiano habituado a estas andanças – foi ele que dirigiu por exemplo “Monet – Magia de Luz e Água” (2018) -, “Frida – Viva a Vida” consegue conciliar em apenas 1h30min de projeção, a vida pessoal com a vida privada de Frida Kahlo. Percebemos o país em que nasceu e cresceu, como também são desvendamos os seus trabalhos, que eclodiram essencialmente após um acidente com um elétrico e que teve tanto de trágico como de revelador. Rapidamente entendemos que este não será o melhor documentário sobre Kahlo, mas antes que é uma carta de amor sincera, que nos pode deixar um gostinho por mais.

No contexto de A Grande Arte no Cinema, “Frida – Viva la Vida” surge como proposta educativa, que permite aos mais novos e até aos recém-chegados estudantes de arte descobrirem Frida Kahlo. Mesmo quem diz conhecê-la, vai (re)pensar sobre os seus segredos e aceder, pela primeira vez,  a itens que ficaram durante anos guardados numa casa de banho da mítica casa onde viviam Frida e Diego Riviera, por duas vezes seu marido. Estes são os melhores momentos do documentário. Ansiamos que algo mais venha à superfície, que mais um detalhe sobre Frida seja trazido para a luz após anos e anos escondido no fundo da sua alma tão fragmentada.

A Coluna Partida
Kahlo, Frida (1907-1954): A Colina Partida. 1944 © Scala / RISI Film

“O que posso fazer sobre Frida quando tudo já foi dito e escrito?”, diz-nos Hilda Trujillo Soto que desde 2002 é Diretora dos Museus Frida Kahlo e Anahuacalli. A câmara de Giovanni Troiolo faz uma caminhada pelas ruas do México, redigindo uma carta de amor aos espaços e até mesmo às pessoas diariamente assombradas pelo nome e pela identidade de Frida. Um dos exemplos mais simbólicos é a presença da sua sobrinha-neta Cristina Kahlo, que só ela mesma valeria um documentário. Um dos momentos mais curiosos é aquele é que diz que Frida Kahlo nunca foi feminista quando, na verdade, ela é ícone do movimento. A forma como o México e a cultura pop têm venerado a imagem de Frida, como mártir, como uma Santa, estão a apagar o seu sentido mais autêntico, aquilo que queria continuar a transmitir depois do dia do seu desaparecimento.

Esse conflito entre imagem privada, legado socio-cultural e imagem museológica fazem este documentário sobre Frida valer a pena, tanto para os seus aspirantes, quer para o público que sente que ainda não foi feito um filme à altura do seu talento e transtornos mentais.

Frida - Viva a Vida
A Grande Arte no Cinema © RISI Film

“Frida – Viva la Vida” sabe como justificar a existência melancólica de Kahlo ao mergulhar em cada quadro – pelo menos os seus trabalhos mais marcantes -, mas sempre de uma maneira muito simples. Para quê utilizar inúmeras palavras, quando as pinturas falam sozinhas? Uma lágrima num rosto ou uma mancha de sangue podem ajuda o espectador a questionar-se, um adjetivo vindo do coração pode ser suficientemente capaz de contar algo sobre esta artista.

Contudo, existem algumas falhas no argumento deste documentário que junta tanta coisa em pouco tempo. A explicação dos quadros é realmente tão interessante que nunca se percebe o porquê do cineasta cortá-los com confissões privadas em voz-off de uma Frida ficcional. Existem momentos a preto e branco que parecem não terem nada a ver com este filme e ainda outros, igualmente questionáveis, com toque de ficção, que nos mostram uma imaginária Frida jovem a percorrer o México dos dias de hoje. Até a inserção da atriz e realizadora Asia Argento para separar os três atos desta história é completamente duvidosa e realmente forçada. Estamos diante aquilo que lamentavelmente acontece com muitos documentários que pretendem justificar a presença de uma celebridade para chamar mais público. Com dito antes, mais valia Giovanni Troiolo ter aprofundado os intervenientes que têm uma maior ligação com a artista e  transformar horas de conversas numa minissérie.

Asia Argento
Asia Argento © RISI Film

De qualquer maneira, se estás a pensar ver este documentário não te vamos meter o travão. “Frida – Viva a Vida” é o esforço de mais um projeto do cinema independente em Portugal que quer apresentar filmes sobre arte, quer levar ao cinema. Talvez sem “A Grande Arte no Cinema” nunca nos interessaríamos de novo pelos dados biográficos mais peculiares dos grandes nomes de Frida, Monet ou Leonardo da Vinci. Existem aqui muitos assuntos que podem ajudar a dar uma nova visão sobre esta mulher, que podem arrancar para novas discussões sobre a pintora e que antes nunca haveríamos pensado por tão obcecados que estavamos com sua vulnerabilidade.

Frida - Viva a Vida
© RISI Film

É um filme que permite entender esta relação constante entre vida e morte, entre a vida quotidiana mais tradicional à vida mais explosiva, mais folclórica vivida por Frida. Não é um documentário que quebra convenções ou que nos deixará marcas, mas há uma tentativa de homenagear tanto a mulher quanto o artista apesar de alguns inconvenientes. Abaixo deixamos-te uma entrevista com a sobrinha-neta de Frida Kahlo, Cristina Kahlo que é também uma das fotógrafas mais bem sucedidas no México para que possas conhecer o seu trajeto.

Frida - Viva a Vida, em análise

Movie title: Frida - Viva a Vida

Movie description: Um documentário que destaca as duas almas de Frida Kahlo: a mulher, ferozmente independente e atormentada pelo amor, e a artista, livre das amarras das suas limitações físicas.

Country: Itália

Duration: 90'

Director(s): Giovanni Troilo

Actor(s): Asia Argento, Cristina Kahlo, Florencia Maria Hart, Hilda Trujillo Soto, Graciela Iturbide

Genre: Documentário

  • Virgílio Jesus - 55
55

CONCLUSÃO

Frida – Viva a Vida” é um documentário muito interessante que revela o significado de cada pintura de Kahlo, do tão verídico era o seu surrealismo. Pode não ser o melhor filme sobre a artista, mas conta aquilo que tem sido feito no México nos últimos anos para que a sua memória não seja apenas mais uma das superficialidades da cultura popular.

Pros

  • A presença de Cristina Kahlo e de Hilda Trujillo Soto;
  • A explicação das pinturas embora simples e por vezes repetitivas, irão despertar o interesse nos quadros desta artista.

Cons

  • A presença estranhamente supérflua de Asia Argento, ou melhor, daquilo que lhe coube dizer;
  • Um argumento que quer mostrar tanto em tão pouco tempo, acabando por experimentar as mais distintas estéticas.
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