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Your Friendly Neighborhood Spider-Man, a Crítica | Uma aventura segura no Disney+

Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades… e também grandes expectativas. Infelizmente, este Spider-Man parece ter perdido o fio da meada.

Se o Homem-Aranha fosse um prato tradicional, “Your Friendly Neighbourhood Spider-man” (Disney+) seria uma açorda mal temperada: reconhece-se o esforço, há ingredientes promissores, até é reconfortante mas falta-lhe o azeite extra virgem da originalidade. Com performances sólidas (Colman Domingo como Norman Osborne é um destaque chef’s kiss) e uma animação que oscila entre o “acho que o Sly Cooper fez isto melhor em 2004″ e o “isto até é bonito”, a série tenta equilibrar-se entre o nostálgico e o moderno, mas tropeça mais vezes do que o Peter Parker a tentar usar botas de biqueira de aço para escalar paredes.

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Peter Parker: O herói pré-cozido

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A primeira coisa que salta à vista é a tentativa da série de ser diferente. Ora, diferente não é necessariamente mau, mas o programa tenta reinventar a teia ao focar-se num Peter Parker que parece ter saltado a fase de “autoaperfeiçoamento”. Em vez de uma jornada clássica de culpa, redenção e super heroísmo desastrado, temos um Peter que aceita os poderes como quem aceita um e-mail de spam: sem questionar, sem hesitar, e já a postos para salvar o dia. A narrativa salta de “Ei, sou um adolescente comum” para “Olá, sou o herói mais ajustado emocionalmente desde o Papa” num piscar de olhos, como se o tio Ben tivesse deixado um post-it a dizer “Grandes poderes, grandes responsabilidades… tu sabes o resto, diverte-te”.

A narrativa investe um terço do primeiro episódio na origem mas, em vez de explorar o trauma ou o crescimento, temos um time skip. Peter já domina as teias, já gere a vida dupla, e já tem a ética de um escuteiro — tudo sem suar. O programa tenta estabelecê-lo como “o Spider-Man definitivo”, mas acaba por criar um herói tão imaculado que até a Maria de Fátima diria “calma, rapaz”. Falta-lhe aquele edge tragicómico que define o herói. É como substituir café por descafeinado: funciona, mas não acorda ninguém.

Os vilões, por sua vez, são tão profundos como um pires de café. Imagina-te numa tasca onde entram personagens com nomes como “Demónio da Velocidade” e “Tarântula”, mas cujas motivações se resumem a “roubar porque sim” ou “queimar coisas porque arder é fixe”. Se o “Spectacular Spider-Man” nos deu vilões com motivações dignas de tragédias gregas, aqui temos antagonistas que parecem saídos de um episódio de “Vila Moleza“. Mas hey, pelo menos não há um Rhino a gritar “EU SOU O RHINO!” — pequenas vitórias.

Colman Domingo: O vilão que rouba a cena (e talvez a série)

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Se há algo que salva este programa da mediocridade total, é Colman Domingo como Norman Osborn. O homem transforma cada cena numa masterclass de ambiguidade, entre sorrisos cortantes e olhares que prometem caos. É como se o ator tivesse lido o guião, percebido que estava numa série meh, e decidido: “Vou fazer isto valer um Emmy“. Cada diálogo seu é uma oscilação entre mentor carismático e CEO psicótico — e adoramos cada segundo.

Os primeiros episódios da série parecem animados por estagiários que acabaram de descobrir o botão “rigidez muscular” no Blender. Os movimentos são tão robóticos que até o Homem-Aranha parece estar a lutar contra artrite. Porém, como um vinho barato, a animação melhora com o tempo — ou talvez os nossos olhos se resignem à estética low-cost, um possível efeito colateral de ver “Polar Express” na minha infância. Ainda assim, comparado ao “Into the Spider-Verse“, isto é como comparar um stickman a uma pintura de Da Vinci.

As cenas de ação, embora funcionais, carecem da fluidez e da inventividade visual que fizeram do “Spider-Verse” uma revolução. Há momentos, porém, em que a simplicidade brilha. A paleta de cores é uma festa visual. Os tons vibrantes e o design retro-moderno dão personalidade ao projeto. Há um charme retro nisto — como se fosse uma homenagem não intencional aos desenhos dos anos 2000 que passavam às 6 da manhã na RTP 2 (Estou a olhar para ti Code Lyoko).

O prato fast-Food do universo aranha

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Vamos ser claros: este Spider-Man não chega aos calcanhares de “Spider-Man 2” (o filme que nos fez chorar com um comboio), “Into the Spider-Verse” (que reinventou a animação), ou até do “Homecoming” (que é dos melhores filmes do MCU). Mas também não é um “The Amazing Spider-Man 2” — embora partilhe a mesma obsessão pelos pai do Peter e em tornar o Peter num escolhido que estava destinado a ser Spider-Man.

O problema aqui é a falta de ousadia. A série pega nas piores qualidades do Spider-Man do MCU e de TASM e multiplica-as por mil, mas ainda assim consegue entreter.

Por outro lado, há momentos de genuína diversão. As interações entre Peter e Harry Osborn têm uma química doce.  A relação entre Peter e Norman Osborn tem faíscas de potencial, e algumas cenas de ação — quando a animação colabora — lembram-nos porque amamos o Homem-Aranha.

Nota Final: 6.5/10 Aranhas radioativas que vieram de um loop temporal estranho

Um programa que tece uma teia irregular, mas com fios de potencial. Ideal para fãs que não se importam de ver o Homem-Aranha a tropeçar… literal e metaforicamente.

Trailer | Your Friendly Neighborhood Spider-Man

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Your Friendly Neighborhood Spider-Man, a Crítica
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Name: Your Friendly Neighborhood Spider-Man

Description: Em "Your Friendly Neighborhood Spider-Man", acompanhamos Peter Parker, um adolescente comum que navega entre os desafios da escola, amizades complicadas e os deveres de ser o herói amigo da vizinhança. Enquanto enfrenta vilões clássicos e novas ameaças, Spider-Man descobre que salvar o dia vai além de teias e socos: é sobre proteger a sua comunidade, aprender o verdadeiro peso do "grande poder" e encontrar equilíbrio entre a vida dupla. Com humor, coração e ação vibrante, a série explora a jornada de um herói em crescimento, mostrando que até os maiores ícones começam bem perto de casa.

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  • Vítor Carvalho - 65
65

Conclusão

“Your Friendly Neighbourhood Spider-Man” tece uma teia que, embora irregular, ainda consegue prender quem está disposto a suspender a descrença — ou a ignorar os fios mais desalinhados. A série oscila entre lampejos de génio e momentos tão desengonçados que fazem o Homem-Aranha de Tobey Maguire a dançar no 3 parecer coreografado pela Pina Bausch. Entre animação que varia de “beta teste” a “até tem estilo”, vilões com a profundidade de um tweet (xeet?) e um Peter Parker tão imune a conflitos que faz o Tom Holland parecer Hamlet, o resultado é um reboot que teima em confundir originalidade com pressa de saltar o que é importante. Ainda assim, há aqui uma teia de possibilidades — frágil, mas capaz de agarrar fãs que preferem um herói low-stakes a uma sesta. Para bem ou mal, é a prova de que, por vezes, até um prato fast-food sabe bem… desde que se esteja suficientemente faminto. Nota Final: 6.5/10 Aranhas radioativas que vieram de um loop temporal estranho.

Pros

  • Performance de Colman Domingo como Norman Osborn que rouba todas as cenas com uma atuação ambígua e carismática, elevando a qualidade da série.
  • Paleta de cores vibrante e design retro-moderno que é visualmente apelativo, com um charme que remete aos desenhos animados dos anos 2000.
  • Química entre Peter e Harry Osborn cheia de interações doces e genuínas que adicionam calor humano à narrativa.
  • Melhoria progressiva da animação que, Apesar de começar rígida, ganha fluidez com o avançar dos episódios.
  • Algumas cenas de ação eficazes com momentos que capturam a essência do Homem-Aranha, especialmente quando a animação colabora.
  • Entretenimento leve que é ideal para fãs que procuram diversão sem profundidade, evitando os furos narrativos de adaptações piores.

Cons

  • Peter Parker é superficial com falta de desenvolvimento emocional, tornando-o num herói “pré-cozido” sem conflitos memoráveis.
  • Vilões unidimensionais com motivações tão simples quanto “arder é fixe”, sem complexidade ou tragédia pessoal.
  • Animação inconsistente com movimentos robóticos iniciais e falta de inovação, especialmente quando comparada a “Into the Spider-Verse”.
  • Narrativa apressada com um time skip que ignora o trauma da origem, sacrificando profundidade por ritmo.
  • Diálogos e humor forçados com tentativas de comédia que nem sempre acertam, com um guião que oscila entre o clichê e o previsível.
  • Ação pouco inventiva com sequências que carecem da criatividade visual de outras adaptações.
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