Miguel Nunes em "Glória" ©TOMAS SA-CHAVES/Netflix

Glória, primeira temporada em análise

Estreou a série “Glória”, a primeira produção portuguesa para a Netflix e o resultado é uma das maiores estreias de 2021 a nível nacional e uma surpresa positiva a nível global.

O mundo pediu a primeira série portuguesa da Netflix e nós entregámos “Glória” com orgulho. Criado e escrito por Pedro Lopes, o thriller de espionagem e ação foi produzido pela SPi e a RTP, e conta com a realização de Tiago Guedes.

Tendo em conta o rico currículo de Tiago Guedes (“Odisseia”, “Os Boys”) e depois do excelente trabalho ao entregar-nos “Herdade”, que não só concorreu ao Leão de Ouro na 76.ª edição do Festival de Cinema de Veneza, como valeu a Guedes o Prémio Bisato d’Oro da crítica independente para Melhor Realização. Sem falar na seleção do filme como representante de Portugal ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro na edição de 2020. A escolha para carregar o fardo de realizador da primeira série 100% portuguesa da Netflix não foi difícil.

Também Pedro Lopes possui provas dadas do seu talento, que vão desde International Emmy Awards com a novela “Laços de Sangue” em 2011 até nomeações nos Seoul International Drama Awards com séries como “Cidade Despida” e “Alma e Coração”, e ainda competindo nos Prémios Sophia da Academia Portuguesa de Cinema com a longa-metragem de ficção “Assim Assim” e a curta-metragem “O Dia Mais Feliz Da Tua Vida”. Este ano acrescentou às suas conquistas o de autor de “Glória”, a primeira série original portuguesa da Netflix.

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A série de História e espionagem estreou a 5 de Novembro de 2021 na plataforma de streaming Netflix e é uma história dos portugueses no final dos anos 1960. Em plena Guerra Fria, com frentes por todo o globo, na pequena aldeia da Glória do Ribatejo, um engenheiro na RARET, João Vidal (Miguel Nunes), vai realizar várias missões de espionagem de alto risco que podem mudar o rumo da história portuguesa e mundial.

A história de ficção em contexto histórico real conta com a participação de um elenco de luxo tanto principal como recorrente. Para além de Nunes (“Cartas da guerra”) temos uma variedade de estrelas que vão desde Carolina Amaral (“Terra Nova”, “Vidalgo Palace”) a interpretar Carolina, José Afonso Dias Pimentel (“Luz Vermelha”, “Sul”) no papel de Gonçalo, Augusto Madeira (“Bingo: O Rei das Manhãs”) como Miguel, Victória Guerra (“Variações”, “Amor Impossível”, “Dancin’ Days”) no papel de Mia, Matt Rippy (“Black Beauty”) como James Wilson, Adriano Luz (“O Filme do Bruno Aleixo”, “Auga Seca”) a interpretar Alexandre Petrovsky, Stephanie Vogt (“Jesus: His Life”, “Strike Back”) como Anne O’Brien Wilson e Jimmy Taenaka (“Showdown in Little Tokyo”, “Grisse”) como Bill. E ainda Joana Ribeiro, Albano Jerónimo, Gonçalo Waddington, Inês Castel-Branco, entre outros.

Gloria
“Glória”©PAULO GOULART/Netflix

No fim-de-semana de estreia, em Portugal, a produção chegou ao primeiro lugar do ranking diário do serviço de streaming, ultrapassando “Maid” e “Squid Game”. Também no Luxemburgo a série subiu ao top diário da Netflix e segundo os dados do site Flixpatrol, a primeira temporada da série chegou a ocupar o décimo lugar do ranking geral.

A produção mais cara de sempre do audiovisual nacional é, segundo o seu criador, “outro patamar de fazer ficção” onde o “acesso a outro músculo financeiro” permite uma grande diferença nos pormenores. Em entrevista, Pedro Lopes referiu acreditar que “Glória” em streaming na maior plataforma do mundo irá certamente “trazer visibilidade a Portugal e à nossa indústria”. O argumentista explicou ainda a importância do projeto ao trazer à luz uma história original de “um segredo muito bem guardado ao longo destes anos todos”, com relevância tanto para os portugueses, mas também para se perceber “o papel que Portugal teve como plataforma neste período da Guerra Fria”.

Miguel Nunes, Carolina Amaral
Miguel Nunes e Carolina Amaral em “Gloria” ©Netflix

Baseada em fatos reais, a série focou a história nos anos finais da ditadura do Estado Novo, uma altura turbulenta do nosso país que muitas outras séries como “A Espia”, “Terra Nova” e “O Atentado” também aproveitaram. “Glória” destaca-se destas séries anteriores por mudar o seu centro da luta entre o Partido Comunista Português e a PIDE, para nos presentear com uma narrativa diferente, colocando a CIA contra o KGB, em território português. Se por um lado esta narrativa aumenta a amplitude de identificação com o público internacional e conta uma história praticamente desconhecida, noutra perspetiva perde-se um pouco daquilo que afetou a maioria da população portuguesa nesses tempos. Porém, “Glória” consegue tocar mesmo assim em como o povo português vivia nas diferentes classes sociais, como funcionava o regime opressor, as manobras politicas moldadas de forma a se manter a neutralidade, o impacto da guerra colonial e muito mais. O que esperamos numa 2ª temporada é uma maior ligação com a história portuguesa, uma exploração aprofundada da relação das forças internacionais do KGB com os comunistas portugueses e um retrato mais sentimental das vidas e dos sofrimentos passados pelo povo, que ajudem o público a ter um maior investimento emotivo.

Gloria
Victória Guerra e Adriano Luz em “Glória” ©Netflix

Se desde a cinematografia, ao encargo de André Szankowski, até aos cenários, vestuário e a música, por Bruno Pernadas, estão numa qualidade de aplaudir, também podemos não poupar a elogios para os atores e as suas interpretações. “Glória” no entanto precisa de afinar o carisma e a relação das suas personagens e da sua história com o público, e é também uma série que demora a ganhar o seu momentum e a achar o ritmo adequado e estimulante da narrativa, apesar de o conseguir atingir.

João Vidal é uma personagem misteriosa que se desloca num verdadeiro mundo de espionagem, muito mais real do que aquele que vemos em filmes do género do 007. Não é à primeira que simpatizamos com o engenheiro, mas ele consegue conquistar-nos com o tempo. Apesar de à sua volta rondarem sempre tantas dúvidas e surpresas, e de ele se ver envolvido com diversas fações desta Guerra, são estes fatores, para além das suas linhas entre o bem e o mal, que o tornam tão interessante. Espera-se a renovação da série para uma 2ª temporada que, acontecendo, deverá estrear em 2022.

Gloria
“Glória” ©Ana Bento/Netflix

Glória”, juntamente com outro grande sucesso nacional de 2021, a série da RTP “Pôr do Sol” irão estar presentes na edição da Comic Con Portugal deste ano, no dia 11 de Dezembro. Será por isso uma excelente oportunidade para no painel da série da Netflix, se conhecer o criador Pedro Lopes, o produtor José Amaral e os atores Miguel Nunes, Afonso Pimentel e Maria João Pinho.

TRAILER | ESPIÕES, MENTIRAS E SEGREDOS FERVILHAM EM “GLÓRIA”!

É João Vidal o nosso James Bond português?

Glória, primeira temporada em análise
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Name: Glória

Description: Em plena Guerra Fria, com frentes por todo o globo, na pequena aldeia da Glória do Ribatejo, um engenheiro na RARET, João Vidal (Miguel Nunes), vai realizar várias missões de espionagem de alto risco que podem mudar o rumo da história portuguesa e mundial.

  • Emanuel Candeias - 78
78

CONCLUSÃO

“Glória” como representante de Portugal na Netflix está de parabéns, e a produção não fica atrás daquilo que se encontra nos outros países. Os prós são muito maiores que os contra e a série merece sem dúvida uma 2ª temporada. A conjugação do suspense de thriller de espionagem com o contexto histórico real, e os eventos de alto risco que podem mudar o rumo da história portuguesa e mundial, são uma fórmula vencedora.

Pros

  • Realização de Tiago Guedes e argumento de Pedro Lopes
  • Produção nacional mais cara traduz-se na qualidade
  • História desconhecida e apelativa internacionalmente
  • Elenco de luxo

Cons

  • Ritmo inicial lento e demora a envolver o público
  • Necessita de convencer mais a audiência a investir emocionalmente
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