Sem esta mentira a série mais famosa de sempre da HBO não teria existido

A série mais épica da história da HBO podia muito bem não existir se não fosse esta mentira contada pelos criadores.

No final de 2008, a HBO estava à procura da sua próxima grande aposta. Após produções dispendiosas como “Rome” e séries icónicas como “The Sopranos” e “The Wire”, a pressão era alta para encontrar o próximo grande sucesso. Não ajudava também que a emissora tivesse descartado “Breaking Bad” e “Mad Men“, perdendo duas das maiores séries da história da televisão americana.

Foi nesse contexto que David Benioff e D.B. Weiss, apresentaram uma proposta ousada aos executivos da HBO, uma adaptação de “A Song of Ice and Fire”, de George R. Martin.

A primeira temporada de “Rome” havia custado à BBC uma fortuna de 100 milhões de dólares, sem ter conseguido grandes números de audiência ou prestígio, levando a HBO a cancelá-la mesmo antes do lançamento da segunda temporada. Devido a essa situação, Benioff e Weiss compreendiam o lado financeiro da empreitada e prometeram aos executivos que “Game of Thrones” seria muito mais barata que “Rome”, uma mentira totalmente descarada.

Se “Rome” já tinha tido um elevado investimento, “Game of Thrones” tinha a intenção de ser ainda maior, algo que, até então, nunca havia sido feito em televisão. “Hoje em dia é economicamente viável fazer uma série de televisão nessa escala. Naquela época, simplesmente não era feito”, afirma Weiss.

Para conseguir que os executivos não virassem as costas ao projeto, com medo de terem que gastar muito, Benioff e Weiss tiveram que ser, digamos, criativos na forma como venderam a ideia da série.

No livro James Hibberd sobre a produção de “Game of Thrones”, “Fire Cannot Kill a Dragon”, é revelado que os criadores mudaram o foco da série, apresentando-a como algo muito diferente, “A mentira que contámos foi que a série era ‘contida’ e que era sobre personagens”, confessa Benioff., “Sabíamos que a maioria das pessoas responsáveis por tomar as decisões não iam ler quatro mil páginas [dos livros de Martin] e chegar aos dragões e às [grandes batalhas]. A série era exatamente o oposto daquilo que dissemos que seria. Estávamos a contar com o fato de eles não descobrirem até ser tarde demais”.

Mesmo com a promessa de uma série contida, os executivos não tinham a certeza se “Game of Thrones” era o projeto ideal para eles, “Isso não parecia atrair votos para o Emmy‘”, diz Michael Lombardo, ex-presidente de programação da HBO, que também não estava certo se os dois criadores estavam a ser sinceros: “Não tenho a certeza se realmente acreditei nisso. Sabíamos que era uma aposta. Estávamos a fazer o orçamento e a coçar a cabeça sobre se deveríamos seguir em frente e dar luz verde a isto. Estávamos a tentar entender os desafios de produção”. Lombardo não podia estar mais errado, já que a série viria a tornar-se um autêntico íman de Emmys, com 59 vitórias.

Ainda bem que Lombardo e os executivos da HBO parecem não ter acreditado nas promessas da dupla de que a série não seria tão cara, assim já estavam preparados para o quão dispendiosa a empreitada realmente seria. As primeiras temporadas tiveram orçamento estimados em cerca de 60 a 70 milhões de dólares. Já a oitava temporada, calcula-se que um único episódio custasse cerca de 15 milhões de dólares.

Contudo, mesmo que o orçamento inicial já fosse alto, a primeira temporada ainda se focou mais nas personagens, sendo que os dragões, as batalhas e os efeitos visuais ainda não eram tão presentes. A partir da segunda temporada, a série já era um sucesso confirmado, o que já foi um encorajamento para que a HBO não tivesse problemas em gastar, já que o retorno estava garantido.

Mesmo com um final que deixou um gosto amargo na boca de muitos fãs, “Game of Thrones” foi um marco cultural que colocou toda a gente à frente do ecrã com todas as suas reviravoltas e surpresas macabras, um fenómeno cada vez mais raro de se registar numa era em que existe tanta opção e conteúdo.

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