“I Know What You Did Last Summer” foi uma das grandes apostas da Amazon Prime Video para 2021, mas será que esta nova adaptação consegue recuperar o algo perdido conceito de slasher?
Sem spoilers!
À semelhança do que já aconteceu com tantos outros títulos do género, chegou agora a vez de revisitarmos “I Know What You Did Last Summer.” Contudo, aqui com a pequena (grande) diferença de ser no formato série, o que tanto poderia jogar a favor, como contra. Sara Goodman, que conta com “Preacher” e “Gossip Girl” (a original) no seu curriculum, assina a nova adaptação enquanto um original da Amazon Prime Video.
A premissa tem por base a mesma fonte que o filme de Jim Gillespie, o romance juvenil de Lois Duncan lançado em 1973. Nela, acompanhamos o verão de um grupo de adolescentes que esconde um segredo sombrio. Os problemas começam a emergir quando alguém entende que o que aconteceu no verão passado não deve ficar lá. Se no filme essa pessoa era a própria (suposta) vítima do acidente que começa a matar um por um todos os envolvidos, na versão de Goodman a trama não é assim tão simples. Com alguma pena, esta análise não irá fazer comparações com o livro de Duncan, apenas entre filme e série.
Partindo do início, este “I Know What You Did Last Summer” evoluiu para acompanhar os tempos modernos da geração Z. Ou seja, as novas tecnologias são o novo e preferido veículo de tormento. A festa de final de ano que outrora se comemorou num descampado perto da praia com direito a fogueira, cerveja e algumas drogas e sexo é agora substituída por uma comemoração numa moradia, onde tudo é extrapolado. É aqui que conhecemos a dupla protagonista, as gémeas Lennon e Allison, interpretadas pela atriz Madison Iseman, que a título de curiosadade nasceu no ano em que “Sei o que Fizeste no Verão Passado” estreou. Tal como na grande maioria dos casos, também estas irmãs não poderiam ser mais opostas: Lennon é a rebelde, muito aberta no que toca à sua sexualidade e com planos para o futuro; e Allison é a virgem, que vive praticamente num estado de dormência desde que a mãe morreu. A acompanhar as gémeas temos Margot, Dylan, Riley e Johnny, as testemunhas do acidente/ponto de partida da série.
Quer pelas personagens, quer pelo próprio argumento, “I Know What You Did Last Summer” praticamente só partilha o título com o filme de culto. Também importa referir que a longa-metragem contou Duncan na equipa de escrita, o que agora não foi possível dado que a autora faleceu em 2016. No entanto, Goodman sempre foi clara que gostaria de transportar a história para os tempos modernos, o que também justifica as diferenças. Comecemos pelos pontos positivos: Iseman tem uma personagem (duas leia-se) muito mais interessante e desafiante do que a de Jennifer Love Hewitt, que desempenhou a protagonista Julie, em 1997. As gémeas vão muito para além do protótipo da protagonista virgem (ou no caso de Julie, da menina certinha), que dominava os slasher de 80/90, e a jovem atriz de 24 soube agarrar a personagem. No entanto, apesar de Lennon/Allison fugirem um bocado ao “modelo”, os restantes membros do gangue acabam por ser arrumados nas categorias mais comuns dos dias de hoje: a influencer, o amigo gay, o estranho e a drug dealer. Ainda que cada um tenha as suas camadas, continuam a ser facilmente identificáveis pelos clichés associados.
Onde a adaptação de Goodman ganha verdadeiramente é no quebra-cabeças que vai montando. A criadora admitiu que o desfecho esteve no segredo dos deuses até ao final das gravações, nem o próprio elenco sabia quem era o assassino. Tanto que o jovem elenco admitiu em várias entrevistas que existiam apostas no set sobre quem poderia ser o vilão. A verdade é que este não tem uma foice, nem cara desfigurada, ou muito menos uma máscara – pelo menos não no sentido direto da palavra. O seu jogo procura ser mais psicológico do que o tradicional “gato e rato” que compõe a grande maioria dos slashers, sendo “Sei o que Fizeste no Verão Passado” um exemplo clássico. Este era igualmente um dos objetivos a que Goodman se propunha, supostamente aliado a uma boa dose de sangue… ponto que já se torna algo debatível.
Se compararmos a série com os filmes de culto dos anos 80, 90 e até mesmo do início de 2000, digamos que Carrie talvez ficasse um pouco desiludida. Sim, é certo que a versão de Gillespie também poupou um pouco neste efeito. Mas estávamos mais expectantes com a versão de Sara Goodman, dado que a mesma confessou em entrevistas não só ser fã do género, como também que “I Know What You Did Last Summer” não seria nada sem sangue e sem um pouco de gore. Portanto, a fasquia estava alta e… não cumpriu. Este é provavelmente um dos pontos mais dececionantes para os fãs do género. Atenção, as (muito) escassas e curtas cenas que envolvem sangue/gore são boas, o que nos leva a pensar no quanto a série teria ganho com mais umas quantas. Contudo, Hollywood parece ter ganho medo, tornando cenas como a morte do jovem Johnny Depp em “Pesadelo de Elm Street” praticamente um mito. Ainda assim, existem algumas espécies em vias de extinção como os mais recentes “Halloween“, ou até mesmo a agradável surpresa de Vince Vaughn em “Freaky – Este Corpo Fica-me a Matar.” A recente trilogia da Netflix baseada nas histórias de R.L. Stine, “Rua do Medo”, também andou bastante perto, especialmente com a segunda parte, “1978”.
Portanto, podemos dizer que estamos perante um “tributo” com bastante potencial e do qual gostaríamos de ver mais. Sem entrar em grandes spoilers, a série terminou com um cliffhanger interessante, prevendo uma continuação. No entanto, até agora, a Amazon ainda não se pronunciou sobre o caso, o que não surpreende, uma vez que a confirmação ou o “machado” tendem a vir cerca de um mês depois do último episódio. Se ainda não viste “I Know What You Did Last Summer”, os oito episódios que compõe a primeira temporada já se encontram disponíveis na Prime Video.
I Know What You Did Last Summer, primeira temporada em análise
Name: I Know What You Did Last Summer
Description: Escrita e produzida por Sara Goodman, "I Know What You Did Last Summer" é uma série baseada no romance de Lois Duncan de 1973, que inspirou também o icónico filme de 1997. Um ano depois do acidente fatal de carro que assombrou a sua graduação, um grupo de adolescentes acaba por ficar unido por um segredo obscuro e perseguido por um assassino brutal. Enquanto tentam perceber quem está atrás deles, descobrem o lado negro de sua cidade aparentemente perfeita — e de si mesmos. Todos escondem algo, e descobrir o segredo errado pode ser fatal.
Inês Serra - 75
75
CONCLUSÃO:
“I Know What You Did Last Summer” é um tributo com bastante potencial e do qual gostaríamos de ver mais. No entanto, ainda não retoma o gore dos slasher de outrora, o que poderá dececionar alguns fãs.
Pros
A atmosfera de suspense é mantida ao longo de toda a série
O desempenho de Madison Iseman
O twist e cliffhanger finais
Cons
Falta de alguns elementos que fariam de “I Know What You Did Last Summer” um verdeiro tributo aos filmes de culto dos anos 90
A identidade do assassino pode não resultar para todos
Cresci a ir ao cinema, filha de pais que iam a sessões duplas...Será genético? Devoro livros e algumas séries. Fã incondicional do fantástico e do sci-fi. Gostaria de viver todos os dias com o mote Spielbergiano - "I dream for a living"