Festival Internacional de Improviso está de regresso a Lisboa
O Festival Irreverente está de regresso a Lisboa com improvisadores de três continentes! E o criador contou-nos tudo sobre a nova edição!
O Irreverente – Festival Internacional de Improviso está de volta a Lisboa para a sua 4.ª edição, que se realiza entre 23 e 26 de julho de 2025, em Alcântara. O evento, dedicado à arte do improviso, reúne artistas de renome vindos de três continentes e promete quatro dias de criatividade, humor e partilha cultural.
Assim sendo, sob o tema “Mundos Imaginários”, o festival oferece uma programação diversificada, que inclui workshops, espetáculos, jams, talks e uma feira de artistas locais. A iniciativa é organizada pela Embuscada Associação Cultural, com direção artística de André Sobral e Luana Proença, e conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.
Festival Internacional de Improviso traz vários saberes
O festival arranca com o Dia Test-Drive, dedicado exclusivamente a workshops gratuitos conduzidos por docentes emergentes, que terão a oportunidade de experimentar e partilhar novas metodologias de ensino no improviso.
Entre os artistas confirmados estão Luana Proença (Brasil), Kathleen Rinaldi (EUA), Mário Abel (Portugal), Billy Kissa (Grécia), Rocío Barquilla (Espanha) e Soledad Cardigni (Argentina). Já os espetáculos, que decorrem na histórica Academia de Santo Amaro, contam com a presença de grupos internacionais como ImprompTwo (EUA), ImproNation (Países Baixos), Tom Tollenaere (Bélgica) e os portugueses Coimbra Impro.
O preço dos bilhetes para os espetáculos é de 20 € por noite, com descontos para artistas, estudantes de artes (16 €) e moradores de Alcântara (10 €). Os workshops realizam-se na Biblioteca de Alcântara, com uma duração de três horas cada e um custo de 40 € por sessão.
Nesse sentido, ao longo dos quatro dias, os participantes vão explorar temas como o “Clown” no improviso, a transformação da realidade através da cultura, o limite entre as pessoas e o espaço, a criação de mundos imaginários, o universo anime e até as personagens do tarot, sempre num ambiente de partilha e liberdade criativa.
Criador do festival contou-nos o que o público pode esperar
Assim sendo, para ficarmos a conhecer melhor o festival, estivemos à conversa com o criador André Sobral, que contou-nos mais uns pormenores do festival.
MHD: Enquanto festival, com vários tipos de atividades, o que é que o público pode esperar?
AS: O Irreverente é um festival multidisciplinar baseado inteiramente no improviso. Por isso, trazemos um programa bastante diversificado, com workshops tanto para dar a conhecer o improviso, como para profissionais que desejam desenvolver novas competências. Estes trazem diferentes temáticas, alinhadas com o mote da 4.ª edição do festival, “Mundos Imaginários”, que vão desde o teatro clássico grego, ao mundo Ghibli do Japão, passando pelas artes místicas do tarot e pondo os participantes a “brincar como uma criança”, uma sessão que junta técnicas de clown e de improviso.
As pessoas podem também esperar por palestras e pequenas “talks”, em que o orador – atores, diretores e outros profissionais ligados ao mundo do improviso e do espetáculo – irá expor um assunto do seu interesse ou especialidade, que pode variar entre explicar o seu percurso artístico e até falar sobre dificuldades que uma mulher atriz imigrante tem de ultrapassar.
O Irreverente apresenta ainda uma feira de artes, com artistas locais, e ainda jams, onde os participantes poderão, gratuitamente, partilhar um palco com qualquer participante do festival. Além disso, haverá espetáculos, alguns em português, outros em inglês e poucos numa língua universal (o silêncio ou uma língua inventada, o famoso “gibberish”). Esta edição traz novamente o Dia Test-drive, que acontece no primeiro dia do festival, onde os workshops são totalmente gratuitos e os espetáculos têm um custo de apenas 10 €.
Já para encerrar o Irreverente, no dia 26, além dos espetáculos com elencos nacionais e internacionais, e o espectáculo “Dom Quixote Del Impro”, apresentado pelo grupo Coimbra Impro, da parte da tarde, haverá também espetáculos feitos pelos alunos que frequentaram os workshops nesse dia.
Improviso leva-nos a outro mundo
MHD: O que é que o público pode esperar do tema “Mundos Imaginários”?
AS: O tema “Mundos Imaginários” permitiu-nos trazer uma grande variedade de propostas “fora da caixa” para proporcionarmos aos participantes experiências “de outro mundo”. Foi assim que surgiu o tema e os workshops e espetáculos foram pensados nesse sentido, trazer novos mundos para a arte do improviso e tirar os participantes da sua zona de conforto, levando-os a viajar para além das fronteiras da sua imaginação.
Um dos espetáculos é baseado na obra do escritor colombiano, Gabriel Garcia Marquez, “100 años de…”, dirigido por Soledad Cardigni e que será apresentado no dia 24 de julho, que vai levar o público para outro universo. Mas não é o único a fazê-lo.
Temos também um espetáculo que vai levar os visitantes para um mundo pós-apocalíptico, “The Dark Age ofLove”, dirigido por Billy Kissa e que encerra o festival, no dia 26, e ainda um em que entram a bordo de uma nave espacial, com toda a humanidade que resta, e recordam o que deixaram para trás, “O que Deixamos para Trás”, dirigido por Gabriel Caropreso e decorre no dia 24 de julho. O público pode esperar embarcar nesta viagem que passa por vários mundos imaginários e viver uma experiência inesquecível.
E claro, podem contar com pessoas de todos os cantos do mundo, unidas por uma só causa: o improviso. Inevitavelmente, sairão amizades totalmente improvisadas, mas duradouras, como tem acontecido nas outras edições.
E, claro, contou-nos a importância do improviso para o artista
MHD: Qual é a importância do improviso para o artista?
AS: Enquanto artista, há muitos demónios, barreiras e dificuldades que devem ser ultrapassadas, e o improviso ajuda a quebrar, desmistificar e aligeirar todas essas “dores”. Mas não é só ao artista, todos temos dificuldades, e o improviso ajuda na autoconfiança e a relativizar.
Um dos principais “mandamentos” do improviso é “sim, e…”. O improviso é, na sua génese, a aceitação. Aceitação de si próprio, do outro e da circunstância. Estamos habituados ao conflito, à concorrência, à competição, mas o improviso ensina que é, ao aceitar a ideia do outro, que avançamos. E não é por isso que rejeitamos a nossa própria ideia, porque é aí que entra o “ e… “ da equação “sim, e…”. Juntos conseguimos chegar longe, chegar todos e, dentro de uma comunidade que “aceita “ só por si, todos são bem-vindos, todos têm validade.
O improviso também “não reconhece” o erro, porque tudo o que acontece em cena é a “verdade”. Já aconteceu, porque é aceite. Nenhum improvisador, em cena, vai criticar uma ideia. Pode não gostar dela, mas, usando o “sim, e…”, vai aceitá-la e torná-la melhor. Por isso, numa sociedade em que nos é sempre exigido o melhor (melhores notas, melhores resultados, o melhor carro), o improviso tira-nos a pressão. Se errarmos? Não foi um erro, foi algo que aconteceu e para a frente é que é o caminho. Por isso, o improviso não é só uma técnica para artistas, mas um contínuo autoconhecimento e aprendizagem ao longo da vida.
Vais passar por lá?