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Os Excluídos, a Crítica: Uma Prenda de Natal Atrasada

“Os Excluídos”, o mais recente filme de Alexander Payne, com o notável Paul Giamatti, é uma nostálgica e ao mesmo tempo divertida história invernal sobre as relações humanas. O filme podia ter sido uma prenda de Natal inesperada para os espectadores, mas infelizmente só vai estrear a 15 de fevereiro. Fala-se de Giamatti para uma nomeação para os Óscares.

“Os Excluídos” é um filme sobre a solidão, a alienação dos tempos da Guerra do Vietname nos anos 70, com um professor rabugento interpretado por Paul Giamatti e um miúdo inadaptado ao colégio interno, que não pode ir para casa passar o Natal com a família. Por isso, não aborda propriamente os temas mais recorrentes dos filmes clássicos de Natal, que costumam aquecer as nossas consoadas e as festas pelo menos até aos Reis. Porém, uma fabulosa cena de “Os Excluídos”, o mais recente filme de Alexander Payne (‘Downsizing’), resume bem o espírito deste filme e desta história terna, tocante, nostálgica e divertida, que devia mesmo ter estreado nas salas nacionais pelo Natal. Na manhã de Natal, Paul Hunham (Paul Giamatti), um rabugento professor de música clássica de um internato da Nova Inglaterra, EUA, no início dos anos 1970, convoca o estudante rebelde Angus Tully (Dominic Sessa) e a enlutada senhora da cantina da escola Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), para se juntarem no refeitório do colégio, para uma celebração preparada à pressa. Brilhando de alegria e de satisfação, Hunham descobre uma árvore de Natal torta e sem adornos, repleta de presentes mal embrulhados aos seus pés. É uma cena um tanto patética, que faz lembrar um pouco a clássica e nostálgica curta-metragem ‘O Natal de Charlie Brown’ (1965). Contudo, o que conta é o esforço de Hunham para transformar uma triste situação num momento agradável e descontraído de celebração do Natal. É precisamente disso que trata ‘Os Excluídos’, a história de três seres humanos, marcados pela tristeza e solidão, que aproveitam ao máximo a temporada de férias natalícias, apesar das circunstâncias para eles, não serem as mais ideais.

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Os Excluidos
Uma árvore de Natal torta, com presentes mal embrulhados. ©Focus Features




Protagonizado por Paul Giamatti,— é mais que provável que seja nomeado para o Óscar de Melhor Actor — que volta a colaborar com Payne depois de “Sideways, (2004), “Os Excluídos” é um retrato de uma época, que podia ser perfeitamente extrapolado para os dias de hoje: as férias de Natal de 1970, num colégio interno para adolescentes ricos, na Nova Inglaterra, fria e coberta de neve, onde Hunham (Giamatti), é um professor interno e de certo modo desprezado, que recebe do diretor da escola a nada invejável tarefa de ficar de olho num punhado de alunos infelizes, que são forçados a passar as férias natalícias, no campus. A atitude teimosa de Hunham e a sua insatisfação pelo comportamento dos “putos”, criam quase uma batalha de vontades entre o professor e aqueles sob seu comando, especialmente com Tully (Dominic Sessa), um rapaz desafiador, mas altamente inteligente.

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No entanto, o que acontece é muito mais do que a clássica história de um adulto teimoso e do outro lado, um jovem rebelde. E aí está mais uma novidade em relação aos tradicionais filmes de Natal, quase sempre ambientados num país das maravilhas, quase sempre com o pitoresco de um inverno nevoso, cheio de luzinhas e bonecos de neve: sem estes pastiches, Hunham e Tully constroem pouco a pouco, uma amizade improvável, complexa, mas sobretudo assente numa compreensão mútua e em mais alguma coisa, como iremos assistir.

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Os Excluidos
Professor e aluno criam aos poucos uma amizade improvável. ©Focus Features




“Os Excluídos” tem muitos pontos fortes, mas um deles é sem dúvida as notáveis interpretações dos dois protagonistas. A representação de Hunham por Giamatti mostra quase como que um derretimento lento de um “boneco de neve”, professor teimoso e frio, que odeia os seus alunos, tanto quanto se preocupa com o seu sucesso e frustrações, vai amolecendo até tornar-se uma personagem com quem ganhamos uma profunda empatia. A capacidade de Giamatti de traduzir na mesma cena e na sua personagem de Hunham, um comportamento gélido e ao mesmo tempo um calor envolvente, é absolutamente memorável, acrescentando humanidade à história do filme.

Dominic Sessa
Dominic Sessa, em Angus Tully, é um jovem actor que se estreia no cinema. ©Focus Features

Dominic Sessa, um jovem actor que se estreia no cinema, no revoltado Angus Tully, retrata o seu personagem como um adolescente incapaz de lidar com o abandono da família. Sessa consegue habilmente e de uma forma muito expressiva na sua interpretação, equilibrar a linha entre a desobediência e razoabilidade. Trata-se de uma impressionante estreia de um jovem ator que vamos ver certamente em muitos filmes que aí virão.

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Os Excluídos
Da’Vine Joy Randolph, é Lamb, a gerente do refeitório da escola. ©Focus Features

Além dos dois protagonistas principais do filme, temos ainda Da’Vine Joy Randolph, que brilha como Lamb, a gerente do refeitório da escola, que está de luto pela perda do seu filho na Guerra do Vietname. Randolph fornece o núcleo emocional do filme, agindo como uma bússola moral e afectiva, enquanto navega também pela sua solidão e pelas suas mágoas, deixadas pela morte do filho. Desesperados por encontrarem algum sentido para a época natalícia, os três improváveis companheiros, formam quase que uma família informal, mas amorosa, enquanto esperam que o Natal passe o mais depressa possível, antes do início do próximo semestre. “Os Excluídos” consegue também ser um filme tão engraçado quanto comovente e sincero. O argumento, escrito pelo produtor David Hemingson, é repleto de momentos hilariantes e ao mesmo tempo carregados de emoção e sentimentos. Mesmo quando são abordados temas sombrios, como solidão, a depressão, as famílias disfuncionais, como a de Tully. O argumento trata todas estas questões com o humor adequado, permitindo que o filme respire e não fique marcado pela sua melancolia e tristeza. Na verdade, não seria um filme de Natal se a alegria não estivesse sempre presente na história. Além disso, para um filme de quase 2 horas e 15 minutos de duração, há várias reviravoltas e desenvolvimentos emocionais, que conseguem manter o interesse nos espectadores, até ao curioso final.




Os Excluídos
O filme tem muitos pontos fortes um deles é interpretações dos dois protagonistas. ©Focus Features

Payne faz também muito bom uso do seu cenário de época: o início dos anos 1970. O filme apresenta modelos de moda e automóveis da época, juntamente com alguns excertos de episódios do então famoso “The Newlywed Game”: um concurso da televisão americana que colocava casais recém-casados ​​uns contra os outros numa série de rodadas de perguntas reveladoras, para determinar o quão os cônjuges se conheciam bem ou não. É importante ressaltar que Payne tomou ainda a sábia decisão de adicionar digitalmente um tom granulado de 16 mm à impressão final do filme, dando-lhe uma sensação de realmente estarmos a ver um filme dos anos 70. Essa atmosfera da década, combinada com o romantismo de uma Nova Inglaterra e da cidade de Boston, fria e coberta de neve, é ​​suficientemente forte para despertar sentimentos de nostalgia, mesmo para quem não viveu naquela saudosa época de muitas mudanças no mundo. “Os Excluídos”, afasta-se também bastante de “Downsizing” (2017), o filme anterior de Alexandre Payne com Matt Damon, uma sátira às soluções ambientais, ou à adaptação do capitalismo, nas resposta às alterações climáticas. Embora “Os Excluídos” aborde questões bastante polémicas dos anos 70 (raça, classe e a Guerra do Vietname), o argumento não tem um tom activista ou de luta. Payne concentra-se principalmente, na importância das relações humanas, em vez das suas habituais sátiras sociais à sociedade americana. Embora seja um filme tão mordaz e amargo quanto os filmes anteriores Payne, este tem um certo calor e uma profunda ternura, elementos novos à sua já relativamente extensa filmografia.

‘Os Excluídos’, a Crítica: Uma Prenda de Natal Atrasada
Os Excluídos

Movie title: The Holdovers

Movie description: ‘Os Excluídos’, de Alexander Payne, conta a história de um professor mal-humorado, Paul Hunham (Paul Giammatti), forçado a permanecer no colégio interno de meninos-ricos onde trabalha, durante as férias de Natal. Tudo porque um aluno problemático (Dominic Sessa), não tem para onde ir.

Date published: 29 de December de 2023

Country: EUA

Duration: 133 min

Director(s): Alexander Payne

Actor(s): Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph, Dominic Sessa

Genre: Drama, 2023,

  • José Vieira Mendes - 95
95

CONCLUSÃO:

Depois de terem desmontado as vossas árvores de Natal, colocarem novamente os enfeites e as luzes coloridas, nas caixas e guardá-las para o ano que vem, aconselho-vos a estarem atentos ao fim-de-semana de 15 de fevereiro de 2024, logo a seguir ao Carnaval e a irem a uma sala de cinema, para verem ‘Os Excluídos’, de Alexander Payne, um filme maravilhoso, que vão amar.  Espero depois, que concordem comigo (e cometem se quiserem),  se este filme não teria sido uma bela prenda de Natal, que vai chegar atrasada, aos espectadores. Porém, é um filme pode transformar-se num novo clássico de Natal, que poderemos rever ainda nos próximos Natais. E afinal de contas o Natal é quando a gente quiser!

JVM

Pros

Aqui na MHD, não costumamos usar as estrelas para classificar os filmes, mas se as tivéssemos daria a ‘Os Excluídos’, cinco estrelas, das de Natal, grandes, lindas e brilhantes.

Cons

Não entendo porque os nossos amigos da distribuidora Cinemundo, não estrearam este filme neste Natal, porque faria decerto muitos espectadores. Deve haver alguma explicação?

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