LFF 2022 | Bros, em análise
“Bros” é genuíno, autêntico e insanamente hilariante lufada de ar fresco. Uma comédia satírica inteligente, é uma das grandes surpresas do ano no cinema.
A disposição mental do espetador – seja um membro do público ou um crítico – é algo raramente abordado numa conversa sobre qualquer tipo de conteúdo de entretenimento. No entanto, é um fator com tanto impacto na desfrutação geral da obra como qualquer outro. Da mesma maneira que um filme divertido, leve e inspiracional consegue transformar uma cara cabisbaixa num sorriso de orelha a orelha, uma obra pesada, lenta e contemplativa também é capaz de deixar um público sem expetativas a pensar seriamente na própria vida. Bros pertence ao primeiro grupo, sendo ainda mais agradável após uma visualização anterior emocionalmente desgastante (The Whale).
A antecipação pessoal para Bros não era imensa. Apesar da receção extremamente positiva, nunca deixei de olhar para o filme de Nicholas Stoller como “mais uma rom-com”, simplesmente virada para a comunidade LGBTQ+. A verdade é que não podia ter ficado mais impressionado com aquela que é agora uma das minhas obras favoritas do ano! Sempre fui fã do género, apesar da vasta maioria dos argumentos – incluindo este – seguirem as dezenas de fórmulas exaustivamente repetitidas ao longo da história do cinema. Desta vez, a escrita do guião coube a Stoller e ao ator e protagonista Billy Eichner.
Bros não reinventa nenhum ponto narrativo conhecido nem necessita de o fazer para construir uma história e personagens cativantes. Aliás, o filme é uma excelente prova de que para arrebatar uma audiência não é obrigatório fugir a cliches ou criar algo nunca antes feito. Numa rom-com, o essencial passa por convencer o público do amor que o(s) protagonista(s) sente(m), assim como arrancar umas boas gargalhadas. Stoller e Eichner cumprem com ambos objetivos de uma maneira genuinamente impressionante. É díficil recordar-me da última vez que soltei tantas risadas numa sala de cinema ou que me investi tanto numa relação amorosa.
É uma pena que, em pleno 2022, existam pessoas de tal forma preconceituosas que se recusam a ver uma obra com conteúdo LGBTQ+ apenas e só devido a este facto. Provavelmente, existem inclusive fãs de rom-coms que irão ignorar a existência deste filme apenas porque se foca num casal homossexual. Tomara as centenas de variações genéricas lançadas todos os anos possuírem a dedicação, química e paixão de Bros. Um filme que não só homenageia a história da comunidade, como o faz de forma bem interessante através do enredo relacionado com o museu respetivo.
A comédia presente em Bros é muito inteligente, jogando com o tipo de humor negro que mais aprecio. Uma sátira brilhante que não tem problemas em gozar com os diversos grupos da própria comunidade – aliás, os alvos das piadas raramente são heterossexuais, contrariando os rumores online típicos de boicotes. Numa sala praticamente a rebentar, as centenas de assentos ocupados libertaram gargalhadas efusivas e não é para menos: Stoller e Eichner escrevem piadas acessíveis para qualquer espetador. Mesmo com um foco cómico, nunca deixa de ser educativo – mais do que esperado.
Sem nunca forçar nada pelos ouvidos da audiência adentro, Bros simplesmente oferece uma mistura de pontos de vista, raramente afirmando que uma perspetiva é a correta e as outras todas são erradas – tirando tópicos óbvios como a discriminação e fobias. Balançando eficientemente drama, romance e comédia, o filme consegue um combo de entretenimento que muitos blockbusters visualmente assorberbantes não conseguem obter. Para além disso, Eichner e Luke Macfarlane interpretam Bobby e Aaron com uma química de fazer inveja a muitos casais.
É facil investir-me emocionalmente numa relação do grande ecrã quando as duas personagens em questão se complementam tão bem. Bobby vê o mundo de uma forma bastante peculiar, é uma pessoa cheia de energia, com opiniões fortes sobre tudo, teimoso, sarcástico, honesto, mas que não confia em ninguém ao ponto de começar uma relação. Aaron é um homem com um físico invejável, mas que quebra o estereótipo relacionado com a falta de inteligência e sensibilidade de homens musculados. Também não procura entrar numa relação comprometida e vê o mundo de uma perspetiva mais positiva.
Tal como refiro acima, Bros não apresenta personagens demasiado complexas nem se guia por um enredo complicado. É aqui que se encontra o sucesso do filme: simplicidade e autenticidade são dois elementos mais do que suficientes para criar uma rom-com com todos os ingredientes necessários para um par de horas de pura diversão e entretenimento. Prestações soberbas de todo o elenco, principalmente na vertente cómica. Músicas originais com letras bonitas. Nada a apontar de grave.
LFF 2022 | Bros, em análise
Movie title: Bros
Movie description: Dois homens com problemas em manter compromissos tentam iniciar uma relação.
Date published: 11 de October de 2022
Country: USA
Duration: 115'
Director(s): Nicholas Stoller
Actor(s): Billy Eichner, Luke Macfarlane, Ts Madison, Monica Raymund, Guillermo Díaz, Guy Branum, Amanda Bearse
Genre: Comédia, Romance
-
Manuel São Bento - 80
CONCLUSÃO
Bros é uma genuína, autêntica, insanamente hilariante lufada de ar fresco. Comédia satírica inteligente arranca gargalhadas consecutivas bem audíveis durante todo o tempo de execução, sem nunca provocar a perda do sorriso de orelha a orelha. Billy Eichner and Luke Macfarlane possuem mais química do que centenas de protagonistas em outras tantas rom-coms. Não foge às fórmulas e cliches conhecidos do género, mas contém um romance convincente e uma história verdadeiramente interessante, homenageando a comunidade LGBTQ+ pelo caminho. Um dos melhores filmes do ano!