Lil Nas X e o seu audaz MONTERO no NOS Alive
A 7 de julho, coube ao norte-americano Lil Nas X fechar o Palco NOS, nesta que foi a sua primeira visita a Portugal por ocasião da 15ª edição do festival de Algés, que decorreu entre os dias 6 e 8.
Depois da lição de classe e Rock’n’Roll dos Artic Monkeys, e também após a ‘palestra’ de energia e amor de Lizzo, Lil Nas X juntou-se à lista de nomes que pisaram o palco principal do NOS Alive a 7 de julho de 2023. Com concerto marcado para as 01h15, eis que a montagem do palco, com os seus muitos insufláveis e formas criativas e fantasiosas, demorou mais do que esperado, empurrando o concerto para a marca das 01h40.
O espetáculo provocador, sensual e divertido de Lil Nas X
Não obstante a hora avançada, Lil Nas X, ou Montero Lamar Hill, entrou pelo palco a dentro com uma energia contagiante, apresentando-se como um deus do Olimpo grego, elevado através de um artefacto de palco variado, tão imaginativo quanto improvável. A iconografia de Lil Nas X é uma das partes mais fortes da sua identidade artística e tal ficou desde logo bem claro. O alinhamento do concerto começou com um dos seus maiores êxitos, MONTERO (Call Me By Your Name), canção que casa o Hip Hop e a Pop Eletrónica com mestria e que serve como cartão de visita para Montero, com uma alusão direta a um fenómeno da cultura pop – o livro/ filme “Chama-me Pelo Teu Nome”, que aqui serve de âncora para revisitar um momento de arrependimento romântico pertencente ao passado de Montero Hill.
A música dá nome ao seu popular primeiro álbum, lançado em 2021. E embora MONTERO, como música, tenha servido o propósito claro de definir a estética, som e identidade artística de Lil Nas X, tornando-o um símbolo queer de seu direito, o arranque de Lil Nas X fez-se antes deste seu bem-sucedido álbum de lançamento. O seu primeiro grande single foi “Old Town Road”, lançado em 2019 e produzido por dois tostões. Um casamento inovador entre rap e country, “Old Town Road” surgiu nos EUA como um furacão, casando dois dos estilos favoritos no novo mundo. Mais tarde, Lil Nas X criou uma nova versão da música, um remix em dueto com Billy Ray Cyrus, levando o single aos píncaros do sucesso e criando um dos clipes mais divertidos das últimas décadas. No total, o single inicial esteve 19 semanas no número 1 da Billboard.
Todavia, esta música divertida não permitiu a Montero Hill ser levado a sério, descartado como uma piada tanto pelo Country como pelo Rap. Nesta altura, a sua identidade como rapper queer, muito importante para a própria construção musical dos seus mais recentes hits, não se encontrava também ainda num lugar central. Com o seu álbum de estreia, contudo, Montero soube reinventar-se , como canta em “Industry Baby”: “need a couple new rules”,um hino de libertação corajoso. A cantar nu num chuveiro, com backup dancers sensuais igualmente nus, Lil Nas X soube calar os zumbidos de ódio e homofobia. Como? Sendo a versão mais honesta e crua de si próprio.
Para Lil Nas X, o álbum MONTERO é apenas um primeiro passo numa carreira que promete ser empolgante. O seu concerto no 15º NOS Alive foi incrivelmente eficaz e energético, embora ligeiramente curto, com uma setlist composta pelos seus singles mais icónicos – a abrir com MONTERO e a fechar com o seu hino INDUSTRY BABY, pelo meio houve tempo para “Old Town Road”, que embora não tenha atingido o mesmo nível de sucesso na Europa, não deixa de ser um tema memorável e original. Montero passou ainda por canções energéticas e reconhecíveis deste álbum, como SCOOP ou THAT WHAT I WANT.
Tudo com direito a uma parafernália de acessórios Kitsch, de uma cobra gigante a um minotauro colorido. Lil Nas X atingiu, na sua carreira e nesta sua primeira apresentação em Portugal, um equilibrio interessante entre puro espectáculo e entretenimento e apresentação musical. Um rapper habilidoso, mas também um cantor dotado, algo que nem sempre se verifica no caso de rappers famosos (alguns não conseguem mesmo cantar, como bem sabemos, e vê-los a tentar é doloroso…sim, Kanye, estamos a olhar para ti), Montero Hill usou e abusou dos backvocals gravados nesta sua primeira passagem por Portugal, enquanto dançava habilmente no palco com a sua equipa de bailarinos.
A audição mais cuidada permite concluir que, apesar de por vezes a coreografia e o espectáculo se sobreporem à prestação musical/vocal, Lil Nas X teve sempre o seu microfone ligado e mostrou os seus dotes vocais inequívocos, por isso é importante não confundir com playback integral a opção de integrar coros pré-gravados bem altos. O espectáculo pautou-se ainda pela muita teatralidade intencional presente na apresentação das várias músicas, da cobra inicial ao grande cavalo de Old Town Road.
Pelo meio, e apesar da brevidade do espectáculo, houve tempo para mudanças de visuais e para a apresentação de dois interlúdios que permitiram à equipa de dançarinos brilhar em palco, com muito voguing , death drops, e outros elementos essenciais da cultura da Ballroom Scene (cena latina e africoamericana LGBTQIA+ criada na Nova Iorque dos Anos 1990).
Acima de tudo, Lil Nas X foi capaz de nos entreter e deixar a promessa de um futuro brilhante pela frente. Ao fim de contas, este sucesso de tops tem apenas 1 álbum, 24 anos, mas apresenta algo já bastante raro: uma identidade musical e cultural própria e reconhecível. Por agora, tudo o que lhe falta para um espectáculo completo é mais repertório. Mais deste repertório empolgante, que muda as regras do rap e do que este pode compreender. Cá ficaremos, de olhos postos no que está para vir!
Viste o concerto de Lil Nas X no NOS Alive 2023, nesta sua 15ª.edição?
