Marvel e as opiniões de Scorsese e Francis Ford Coppola
A Marvel é uma das marcas mais poderosas do mundo, mesmo no cinema. Os seus filmes não agradam a todos, mas Scorcese e Coppola não se inibem nas críticas.
Não há como contornar que a Marvel é actualmente uma das marcas mais poderosas e influentes a nível mundial. Seja pela sua banda desenhada, pelos brinquedos e nos últimos anos pelos seus filmes e respectivo merchandising mas… será a Marvel realmente aceite na indústria cinematográfica?
Os fãs não se queixam, os filmes lançados pela MCU continuam a atingir elevadas receitas de bilheteira e os estúdios da Disney muito menos se preocupam se os projectos são ou não bons filmes porque retorno tem existido sempre. Mas a verdade é que o seu impacto no mundo de Hollywood nos últimos anos tem sido algum. Se há muitos actores que gostam da ideia de se tornarem um super-herói ou mesmo um vilão da Marvel, também há outros que rapidamente se opõe e querem mesmo distância deste tipo de projectos. E se há actores a fazer isso, há também muitas opiniões divididas por parte dos realizadores, especialmente de alguns dos nomes mais conceituados do meio.
A última polémica levantada com os filmes da Marvel vem precisamente do início do mês e derivada de comentários críticos tecidos por Martin Scorsese, realizador conhecido por trabalhos como “Taxi Driver” e “Goodfellas” e que irá estrear agora “O Irlandês”, pela Netflix. Numa entrevista, Scorsese criticou a MCU e os seus filmes, comparando os mesmos a parques de diversões, mas talvez no sentido mais negativo da comparação. E, como seria expectável, os seus comentários não caíram no esquecimento e tiveram impacto por toda a internet. Houve respostas de várias personalidades, desde Robert Downey Jr, James Gunn, Joss Whedon e Samuel L. Jackson – todos ligados ao universo – mas também de alguém que está de fora, como Kevin Smith e Damon Lindelof. Alguns respeitaram e desvalorizaram, porque acreditam que há espaço para todos, ou afinal de contas os filmes não teriam sucesso, mas outros, como James Gunn, que continuam a ter Scorsese como uma inspiração, referiram que o realizador não devia tecer estes comentários sem conhecimento de causa.
Desde então que Martin Scorsese já procurou clarificar os seus comentários relativamente à MCU. O cineasta realça que procura ver mais filmes no cinema que sejam experiências únicas, tendo por base a sua narrativa. No entanto, e apesar da Marvel Studios fazer muitos crossovers e ligações entre os filmes, para Scorsese isso também não é cinema. Sim, é verdade; o realizador apresenta uma opinião um pouco confusa sobre a sua visão nos filmes MCU mas continua a manter que não são cinema.
Mas, para adensar ainda mais a polémica e os comentários de Scorsese, há mais um cineasta que faz questão de deixar bem claro o que sente em relação à Marvel. Francis Ford Coppola, um realizador que já tem Óscares no seu currículo e é conhecido, entre vários, pela trilogia de “O Padrinho”, veio a público apoiar as opiniões do seu colega. Sendo desde sempre considerado um dos maiores realizadores de cinema, alguns jornalistas perguntaram-lhe durante a atribuição do prémio Prix Lumiere o que Coppola tinha a dizer sobre esta troca de palavras entre Scorsese e os nomes ligados à Marvel.
Coppola não foi suave nos seus comentários e elevou o tom quando considerou os filmes da Marvel desprezíveis.
“Quando Martin Scorsese diz que os filmes Marvel não são cinema, ele está certo, porque esperamos aprender algo com o cinema, esperamos ganhar algo, alguma iluminação, conhecimento e inspiração. Não sei se alguém tira algo disso vendo o mesmo filme várias vezes, Martin foi gentil quando disse que não é cinema. Ele não disse que é desprezível, o que eu apenas digo que é”.
Os comentários de Coppola, que são mais frios e polémicos que os de Scorsese, principalmente por usarem a palavra ‘desprezível’, crê-se que estão muito mais assentes na falta de narrativa que por vezes se considera existir nos filmes Marvel. Não é de agora que o franchising recebe críticas por ter filmes que são considerados uma fórmula de copy-paste um dos outros por saber que resulta com as audiências, seja pelos momentos de comédia ou de cenas de acção. Mas também é claro que essas críticas tiveram alguma ressonância nos estúdios pois “Vingadores: Guerra do Infinito” e “Vingadores: Endgame” distanciaram-se em muito da narrativa dos outros filmes do universo. Foram feitas mais “experiências”, havendo lugar para uma narrativa mais complexa criada pelos irmão Russo.
É certo que os comentários de dois cineastas, ainda que internacionalmente reconhecidos pelo seu trabalho, não serão suficientes para manchar a indústria da Marvel mas poderão levantar outras questões. Será que o paradigma do cinema está realmente a muar? Ou sempre havia sido assim mas não haviam tantos filmes que pudessem agradar a vastos públicos?
Claro que esta situação também levanta outros temas de discussão, especialmente quando a Academia é conhecida por enaltecer filmes que nem sempre vão de encontro às grandes audiências, e nos últimos anos já têm sido alguns filmes do género da Marvel que marcam presença nos seus nomeados (“Black Panther” esteve inclusive nomeado para Melhor Filme do Ano).
TRAILER | MARVEL APRESENTOU BLACK PANTHER, QUE JÁ FOI NOMEADO PARA MELHOR FILME DO ANO
Concordas com os dois cineastas? Ou também pensas que no cinema pode haver espaço para todos?